sábado, 17 de maio de 2008

Às voltas...




No adro da aldeia tudo estava pronto para a festa. Os filhos da terra vinham todos, mesmo os que estavam longe. Era tempo de matar saudades e relembrar a infância.
O Esteves, ou Professor Esteves, acabara de chegar. Fizera centenas de quilómetros para estar ali, e o seu automóvel não o deixara mal. Alto, magro, vestido com ligeireza, ser professor contratado não lhe dava para muito. Ao passar em frente ao café de lá do sítio encontrou, refastelado na esplanada, o seu antigo colega de carteira na antiga escolinha, o ‘Mingos’, que agora era o Sr. Domingos Oliveira, empreiteiro, íntimo do presidente da Câmara. Oferecia a este último sempre as melhores condições para os concursos de obras públicas no município. E ganhava sempre. A amizade entre eles crescia proporcionalmente às obras… A amizade saía-lhe cara, mas sempre dava o melhor casarão lá da terra, singelos carrões, como o Mercedes que estacionara em frente ao café, entre outros luxos…
- Ora viva, caro Domingos!
- Olha o Esteves! Então por onde tens andado?
- Eu venho lá dos confins de Portugal…
- Ah, sim? E de dinheiro, como vais?
Mas o professor não respondeu, não fosse ele pensar que estava a mentir. Fingiu que não ouviu. O Domingos continuou:
- Eu cá me vou arranjando, lá com as minhas empreitadas…
Estavam nestas conversas quando chega o Carlos, também antigos colega daqueles, agora deputado. Ainda não é Doutor. Meteu-se na política quando frequentava a Universidade, e encontrou tal conforto, que não quis abandonar a posição. É doutor só de nome: Dr. Carlos Silva.
Cumprimentam-se, e continuam a contar as suas vidas. A vida do sr. deputado é mais desconhecida: vive lá para a capital, mas sempre vai falando de uma casa em Cascais, e de viagens que longínquas e cansativas, a que o trabalho o obriga.
O Domingos nem percebe muito bem daquilo; também gostava de um dia lá chegar, por entre os meandros da política, mas por agora contenta-se com as suas negociatas, a menor escala, é certo, mas menos publicitadas.
As horas já íam largas quando o senhor professor tira dinheiro do bolso para pagar a conta da mesa.
- Ora essa, Esteves, eu pago – disse o deputado Silva.
O Esteves lá ficou com o dinheiro na mão, juntamente com um bilhete de um evento a que assistira na sua última passagem por Lisboa. O Domingos ficou intrigado. De que se tratava?
- Ah. Passei por Lisboa e fui a um concerto no CCB. Beethoven, foi muito bom.
- Ora essa, então para o ano eu entro para a comissão de festas e convido-o para vir cá abrilhantar a romaria!
Não, caro Domingos, não poderia ser… Santa ignorância.
- Ó Domingos, diz o deputado, esse já morreu! Mas deixe lá que há por aí mais gente…
- Sim, ontem vi uma moça na tv que fazia boa figura. Depois vê-se...
Enfim, tiveram que recolher a suas casas. Depois da despedida, o professor ficou a pensar nas voltas que a vida dá. Ele, que sempre se intrigara e preocupara com o futuro destes seus colegas e amigos de infância, era o que se encontrava agora em situação mais precária.


Nuno Areia 11º C

3 comentários:

Nuno Areia disse...

areias n... areia!!! :D

Fátima Inácio Gomes disse...

Ooops... sorry!
Isto de postar textos de madrugada é o que dá... ;-)

Scorpionster disse...

falta ronaldinho nisso...
tens santa ignorância, falta abençoada "fermosura"...


não está de acordo com o que apregoaste... felizmente...