quinta-feira, 25 de junho de 2009

Liberdade



Quase premonitoriamente (bruxa, não?), tinha pedido a alguns dos meus alunos, no último teste, para falarem da "liberdade"... e o grupo I era sobre o "Felizmente há Luar!": "(...)procura reflectir sobre a condição humana e a ânsia de liberdade que as lições da história frequentemente veiculam.".
A Paula Portela, do 12ºB, fez esta belíssima reflexão:



O Homem é considerado, ao mesmo tempo, um ser frágil e poderoso.
Todos nós sabemos como o Homem trata plantas, animais, o planeta como se fosse tudo simplesmente seu. Muitas vezes o Homem, ao dispor de todos os recursos que o rodeiam, começa a construir na sua mente uma ideia deturpada de si mesmo. Vê-se como um todo-poderoso.
Consegue encontrar a resposta a todos os seus problemas na tecnologia, no seu conhecimento e de lá de cima do seu pedestal não consegue ver quão frágil realmente é. Precisa que o lembrem.
Uma catástrofe natural resolve o assunto. Uma crise financeira que ameace todo o sistema financeiro também. Assim como um Holocausto.
Em alturas como estas, o Homem desce do pedestal que construiu para si mesmo. Não, não desce. Cai.
Quando o Homem se sente aprisionado, reprimido, miserável, faminto, maltratado, sente-se pequeno. Sente-se uma pequena criatura no Universo. Sente-se desesperado.
Aí anseia por liberdade, luta para a conquistar. Ganha esperança, e essa esperança é o que lhe vai permitir escapar à opressão. E quando consegue escapar à opressão que viveu, poucas décadas são necessárias para que se esqueça o que o derrubou. E, esquecendo-se do passado, coloca-se a si mesmo numa situação que apenas o vão conduzir à mesma ânsia de liberdade.
O Homem está constantemente em busca da liberdade. Do que se tenta libertar? Da sua frágil condição humana.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

às portas dos exames




Um blogue do Público onde estudantes vão relatando as suas peripécias... e contamos com participações das "nossas gentes" ;-)

http://blogs.publico.pt/notafinal/

sábado, 6 de junho de 2009

CRENTE





Caro leitor, venho, por este meio, falar-lhe de ” perdas”, de “algo ou de alguma coisa”. Calma, já sei que vai pensar “o que este rapaz está para aqui a falar?!”. Não pense já que lhe vou falar de futebol, política ou algo parecido. Nada disso! Eu pergunto: Será que depois da “tempestade” vem a bonança?
O Homem reage à “morte” de um “ente querido”, sendo sempre devastado com a perda. É inato, pensa-se que não vai haver amanhã, já não vai haver o luar, o raiar do sol, pensa-se que a vida acaba ali, naquele instante, naquele momento. Tempo! Talvez seja a palavra-chave, mas agora é um dilema, será parte da solução ou parte do problema? O que me diz?
Cá vai, penso que tudo demora o seu tempo a aceitar, o seu tempo para voltar a acreditar, mas no fim de cada história, mas no fim de cada lição que a vida nos dá, aprendemos a dar valor aos pequenos nadas. Como diria “O Pensador” : a vida é feita de pequenos nadas, que a gente saboreia mas não dá valor, um pensamento, uma palavra, uma risada, uma noite enluarada, um sol a se pôr, um bom dia, um boa tarde, um por favor, simpatia é paz e amor…
Depois de tudo, percebemos que nada acontece por acaso, mas talvez porque tenha uma razão para acontecer, “Tudo o que não nos mata, torna-nos mais fortes”.
E no dia seguinte à tempestade, encontramo-nos e voltamos a acreditar.
Sim, a acreditar “em algo ou em alguma coisa”.



Ivan Torres 12ºB

O Caminho





Como todos os seres humanos, iremos percorrer um longo caminho, o nosso caminho, ou seja, a nossa vida.
Superficialmente, os caminhos de toda gente são semelhantes. Nascemos, fazemo-nos ao caminho, percorremo-lo e, por fim, morremos. Bastante simples de entender! Seria, se observados superficialmente, como anteriormente referido.
Uma observação mais atenta e cuidada levaria a outra conclusão: que os caminhos de toda a gente são muito diferentes, pois nem todos escolhemos as mesmas estradas, as mesmas direcções ou o mesmo sentido.
Não há nada mais simples, como primeira etapa do nosso caminho, em que somos levados ao colo - não temos que tomar decisões ou sentir remorso de qualquer decisão tomada. Mas, como disse, essa é só a primeira etapa que, por sinal, é muita curta.
A dificuldade aumenta gradualmente, começamos a andar pelos nossos pés, a decidir por nós próprios.
Nesta fase posterior, tudo se complica. Vemo-nos deparados com várias hipóteses, várias direcções e sentidos. É aqui que os caminhos se tornam tão pessoais e tão distintos.
São personalizados pelas nossas escolhas, que nem sempre são as mais correctas. Sem nos darmos conta, entramos em algum sentido proibido, que nos atrasa e abate. Contudo, desse pequeno incidente extraímos experiência e maturidade, sendo que, quando nos voltarmos a deparar com algo semelhante, já estaremos preparados para o enfrentar ou mesmo passar ao lado e não voltar a cair nesse erro.
Acima de tudo, devemos ter presente uma noção muito importante e fundamental: esse mesmo caminho existe para ser percorrido e não para que ele nos percorra. Não podemos deixar que ele nos marque, muito pelo contrário, temos que lhe deixar a nossa marca, para que não se apaguem as nossas pegadas, mesmo aquelas que vão em sentido contrário ou direcções erradas, para que quem nesse caminho volte a passar, escolha o melhor percurso e se desvie das direcções erradas a fim de não inverter o sentido da caminhada. Assim, quem lá passar, estará alertado para o perigo de possíveis escolhas erradas que possam surgir. Sendo bastante melhor aprender com os erros dos outros, do que com os nossos próprios erros, porque é mais fácil e menos doloroso aprendermos com erros alguém que não nós próprios.
Se assim for, saberemos que a caminhada desse alguém não foi em vão, por muitos erros que tenham sido cometidos. Os mesmos, nos despertaram para a realidade e a importância das nossas escolhas, tornando o nosso caminho mais recto e plano.



Hugo Salgueiro, 12ºF,

sexta-feira, 5 de junho de 2009




parece que acabaram as aulas de português...
permanentemente...
:-s

Caminho Perdido





Vagueio… vagueio sem fim, sem destino… Sinto-me cansada, perdida. Estou farta de me procurar dentro de mim, não me encontro. Olho-me por dento e por fora e não vejo nada. O vazio permanece-me na alma, talvez nem esta exista... Caminho por todos os lados, todos os contornos, e defronto-me sempre com a mesma porta do labirinto da qual nunca saí. Como hei-de abandonar estas entranhas profundas em que me encontro sem saber onde estou? Não sei a entrada. Ajudem-me, estou a enlouquecer… Enlouqueço cada vez que penso como vim aqui parar. As horas, os minutos, os segundos passam contínua e fugazmente e eu aqui, desaparecida, sem ninguém saber da minha existência. Ninguém me procura, ninguém me acha, ninguém se perde para me encontrar. Sinto o tenebroso mistério que envolvido num ciclo sem fim apenas procura o alguém, o saber, o viver, o ter e o não me atormentar com o que não tenho ou o que não me querem dar. Oh, obscuro sentimento liberta-te de mim, solta-me, dá-me liberdade e deixa-me ser eu.
Esperem… Consegui! Vejo o que nunca pensava ver. Encontrei a porta do fim. Aproximo-me cada vez mais, cada vez mais perto dela… Em mim acresceu o pensamento que minha consciência tinha guardado como fonte de esperança. Cheguei, tentei abrir… Afinal, era a porta pela qual nunca consegui sair.
Finalmente acordei, era tudo um sonho. Mas na verdade, não sei quem sou. A minha existência é contínua, não há nenhum espaço para intervalos.




Ângela Gandra, 12º B

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Entre paredes





Ao olhar para esta imagem, sinto a minha consciência ser absorvida para a protecção destas finas e frágeis paredes capazes de me protegerem do mundo.
Fecho os olhos…
Como é bom sentir-me de novo protegida das atrocidades mundanas, ainda que esteja tão exposta ao perigo, que espreita a cada momento na busca de uma rápida refeição. Mas não será o caso. Não neste momento, nem agora que me sinto protegida.
Esqueço o mundo, a dor, o medo…
Sinto-me apenas protegida. Os meus olhos encontram-se fechados, e mesmo abertos, não seriam capazes de ver nada nesta quente e reconfortante escuridão que me envolve. Melhor assim… Não são enganados pela falsa beleza que o mundo usa para me seduzir a cada dia, a cada hora, a cada instante…
Mas é assim que eu quero estar: neste local quente, escuro e confortável.
Mas ó indignas paredes que me protegeis de tudo… Haveis-vos esquecido de me proteger do cantar no mundo. Miserável som que vos trespassa para me chamar…
Mas ignoro-o…
Deixo-me ficar aqui, protegida por vós, divinas paredes. É aqui que eu quero ficar até que o meu coração se canse e me dê a eterna imobilização. Mas algo brusco me abala e incomoda.
Luz…
A luz consegue entrar neste meu refúgio. O som intensifica-se, chamando-me ao seu encontro.
São as paredes.
As paredes que me envolvem desmoronam-se, deixando-me exposta ao cruel mundo que tanto ansiava ver-me.
Abro os olhos…
Finalmente verifico. Sim, estou de volta ao lugar de onde nunca saí. Entristece-me saber que, afinal, não estou protegida do mundo, nem da sua beleza, mas alegra-me saber aquilo que esta imagem me pode oferecer: o sentimento de conforto e segurança, ainda que por breves instantes.



Filipa, 12ºB

GUERRA, UMA CAUSA NOBRE OU UM CICLO VICIOSO DE INTERESSES




Será esta a mais antiga luta pela liberdade de um povo ou apenas mais um efeito da necessidade inexplicável de homem obter poder?
Quando surge a notícia de uma guerra, o que me vem logo a cabeça é o porquê, e o motivo, ironicamente e geralmente, quase sempre, na minha opinião, é o mesmo: ou o povo vive praticamente afastado de todos os seus direitos, tendo de viver oprimido por um "ditador malvado", ou o país contém algo que pode pôr em causa o bem-estar do mundo. Mas serão esses os verdadeiros motivos que levam alguém a entrar em guerra? ou será apenas uma camuflagem dos verdadeiros motivos, levando à morte de pessoas que nada têm a ver com as ambições e interesses dos seus governantes? é de frisar, também, a coragem desses "ditos cujos" governantes, supostos lideres da nação que levam o pais a entrar num dos piores cenários que se desejaria, mas na altura do confronto, onde andam eles? quem sabe num sítio seguro, a descansar depois da árdua decisão que tomaram. Digno de registo e um marco histórico seria ver um, apenas um, desses governantes na linha de combate ao lado dos homens com quem jurou defender a sua pátria, mas talvez aqui o julgamento seja errado da minha parte, pois poderei estar mal informado e o conceito de defender a pátria seja distinto para ambos.

Quantos não desejariam, como eu, que os nossos líderes fossem como os nossos antepassados, na altura em que a guerra era feita de igual para igual, corpo a corpo e, aqui sim, se poderia dizer que tínhamos um líder da nossa nação, pois o mesmo homem que decidira entrar em guerra, ou simplesmente defender-se da ambição de poder de outro país ou povo, seguramente estaria na linha da frente a comandar os seus homens, não como hoje em dia, em se manda um exército lá para onde judas perdeu as botas e se acompanha o desenrolar da guerra em casa, sentadinho na sua poltrona.

Concluindo, uma guerra tem e sempre terá, geralmente, os dois lados,o interesse(sempre com maior peso nas decisões, mas fica em segredo) e a causa nobre de derrubar o terrível ditador/governante que aterroriza o povo com a sua crueldade.



Carlos Filipe Vale, 12ºB

os nossos amigos



A amizade, o que será a amizade?
Nós, na nossa vida, sempre nos relacionamos com alguém, com muitos "alguém", com poucos “alguém“, mas sempre nos relacionamos.

Na nossa vida somos confrontados com situações difíceis, que temos de ultrapassar e só o conseguimos com a ajuda dos nossos amigos mais próximos, que estão sempre ao nosso lado para nos ajudar.

Estes nossos amigos mais próximos podem ser da escola, amigos da nossa rua, do sítio onde praticamos desporto, mas o que interessa é que sejam mesmo verdadeiros amigos.
Os verdadeiros podem não ser aqueles com quem nos divertimos mais, aqueles com que nos portamos mal na escola, aqueles que nos levam a faltar as aulas. Os verdadeiros podem ser os mais chatos, os que mais estudam, os que menos se divertem, mas estes são mesmo nossos amigos, são verdadeiros.
O verdadeiro parceiro de vida é aquele que, mesmo estando muitos chateados, nunca diz mal de nós, protege e ajuda na nossa vida toda.

Esta foto representa a amizade de muitas pessoas que foram numa viagem e resolveram captar esse momento para a posteridade. Embora nem sempre nos demos bem, muitas vezes entrámos em confronto uns com os outros, mas no final somos todos amigos.


Filipe Mota, 12ºB

À Turma




E era só mais um ano que começava na E.S.B. O último ano do secundário, digamos que o ano em que se decide um pouco as nossas vidas. A inquietação de rever os amigos, conhecer os professores, saber quem de novo entrou na turma, saber quem saiu, no fundo saber quem nos iria acompanhar neste nosso suposto ultimo ano. Mas rapidamente toda esta inquietação acaba e volta a monotonia, os testes, as aulas de manhã cedo, o mau-humor, o facto de quase todas as aulas serem uma seca, o desânimo pelas más notas e tudo mais. Pois bem, aqui está um exemplo de uma turma que quase nunca se deixa levar pela monotonia. Como todas as turmas temos os nossos conflitos, há sempre aquelas zangas e discussões, mas no fim há sempre algo que nos une e que nos vai marcar para sempre... a nossa AMIZADE! Posso dizer que quando sair desta escola vão ser estes tempos que mais me deixarão saudades, os momentos que passámos juntos e tudo o que já fizemos. Não somos perfeitos, mas, na verdade, ninguém o é, mas tentamos sempre nos divertir ao máximo. Nem sempre estamos bem, mas o facto é que, quando é preciso, estamos sempre lá todos juntos no bem e no mal.

Neste ano já passamos por várias coisas, mas o fundamental é que não nos podemos esquecer que só nos cabe a nós aproveitar o tempo em que estamos juntos pois nunca se sabe se daqui para frente teremos outras oportunidades. Estas pessoas são bastante importantes para mim, convivi com elas muito tempo, fazem parte do meu dia-a-dia e, para o bem ou para o mal, têm mesmo de levar comigo. Graças a eles posso dizer que nunca vou esquecer o meu secundário, porque, apesar de tudo, passámos por momentos fantásticos de tamanha diversão.
Por tudo isto, meus amigos, vos digo: estes foram os melhores anos da minha vida!


Natália, 12ºB

Extremos da Vida



Lembras-te meu amor? Nesse dia, tudo nos fugia. Fugiam-nos as palavras, as belas, doces e sensuais palavras guardadas durante tanto tempo. Fugiam-nos as palavras e ficámos ali, frente a frente, inesperadamente nus e vazios, sem elas. Lembras-te quando, finalmente, nos questionámos: Será que é para sempre? Será sequer que ele existe? Ou será que é esse um sentimento meramente ilusório e nunca o sentimos verdadeiramente?
Não é de evidências, mas de intocáveis, que se faz essa fugaz matéria a que chamamos amor. Faz-se de uma substância estranha, mutante e imprevisível, apenas concretizada na surpresa que, de repente, nos devolve o espelho: um corpo que desconhecíamos, um olhar perplexo. Faz-se de um súbito sobressalto que nos invade profundamente, um imperioso capricho da pele, um definitivo desassossego. Faz-se de um gesto indomável, insensível e impotente. Faz-se da essência dos rios, correndo em curso livre até se precipitarem num mar que nunca viram, mas sabem ser o seu único destino. E faz-se da serenidade dos lagos. Faz-se da beleza terrível de um incêndio, do abismo de um tornado, do mortífero poder de um raio. Faz-se de clarividência e de cegueira, de lucidez e de loucura. Faz-se de contentamento e de angústia. Faz-se de pudor e de sensualidade. Faz-se do mais magnífico festim e da mais insuportável solidão. Faz-se de glória e de miséria, de riso e de choro, de cobardia e de audácia, de música e de silêncio, de luz e de sombra. Faz-se de guerra e de paz. De vida e de morte.
Afinal o que se entende por amor? É o tudo. É o nada. Ele é o único que pode trazer-nos a fortuna da vida, mas ele é também o único que pode tirar-nos tudo isso e deixar-nos no mais profundo desalento. Ele existe, e é o tudo e o nada.
Hoje sei que me amas e sinto-o, eu sinto-o. Sim, ele existe.



Ângela Gandra, 12ºB

Sem Abrigo



Porque é que vagueio
Sozinho
Pelas ruas
Despidas e nuas
Cruas
Onde não encontro aconchego
Onde não há sossego
Onde apenas tenho as valetas
E as paredes
E as pedras da calçada
Onde durmo
Esperando por um novo rumo
Mas não encontro
Não consigo
Não aguento
É esta dor
Que só me transmite sofrimento
E caio no desalento
Tento, tento, tento
Mas não há esperança

Um dia sonhei
Que ainda era uma criança
E brincava
Gritava
Como qualquer criança grita
A brincar no parque
Quando o baloiço se agita
Vendo pessoas
E aquele cão
Que passava todos os dias
Em frente à estação
Era feliz com uma casa
Família e amor
Mas isto não é verdade
O que me resta é dor
Rancor
De ter sido abandonado
Largado
Nesta rua fria e suja
Onde não consigo mais
Encontrar uma fuga
Porque já ninguém me quer
E isto é que fere
Perfura-me a alma

Agora estou sozinho
Sem um tostão na palma
E é tudo tão cruel
E insensível
As pessoas olham-me
Como se fosse invisível
Passam, andam a minha volta
E não fazem nada
Só conseguem dizer me
“Vai para aquela escada
É mais abrigada”
Mas tenho fome
Fome de algo para comer
Para amar e preencher
Fome de um abraço
Que me conforte este cansaço
Que torne grande
O que é escasso…

Já não sou criança
Nunca o fui
Nem o serei
Nunca brinquei
Sou um ser humano
Que luta apenas
Pela sobrevivência
E é esta carência
Que me tornou adulto
Já sonhei em ir para escola
Tornar-me mais culto
Mas não tive a oportunidade
O que me resta é a caridade
Daqueles que não conseguem
Fugir à realidade




Ana Lara, 12ºB

Saí do salão de baile



A gôndola deslizava suavemente pela água, procurando saber que rumo tomar. O nevoeiro era espesso, não deixando alcançar o destino.
Nesta altura, eu não estava preocupada com nada, a não ser livrar-me dos adereços mais valiosos.
Pela primeira vez na vida tinha conseguido assumir o controlo, quando saí do salão de baile. Até aqui davam-me ordens que me limitava a cumprir e digamos que é mais fácil.
Mas hoje, tinha prometido a mim mesma que ia assumir o papel principal, que ia sair das sombras, nem que fosse uma vez na vida e ver como me saía.
O tempo estava a mudar. A chuva branda que vinha a cair desde que a gôndola tinha saída da bela mansão, cessara subitamente. As águas cinzentas iluminaram-se, transformando-se em prata, e o sol a pôr-se irrompeu de súbito das nuvens. As brumas desvaneceram-se como se por ordem de um feiticeiro e a cena , um desenho a tinta, monocromático há pouco tempo atrás, era agora uma aguarela gloriosa.
Raios de ouro distintos espalharam-se pelo céu, captando a floresta de postos de ancoragem a erguer-se da água. O ar brilhava com a incandescência prateada pela qual a cidade era conhecida, fazendo tudo parecer irreal.
Quando a gôndola ancorou, o meu coração era como um martelo de ferro a bater contra o vidro frágil das minhas costas, mas era a sensação mais agradável do mundo.
Desci levantando a saia de veludo e o que vi fez-me suster a respiração. Um imenso mar de figuras mascaradas, tantas quantas as ocasiões e os destinos, uma profusão de cores inimagináveis, sem dúvida, a realeza de uma pintura renascentista.
Senti uma descarga de prazer a percorrer-me, a cidade mais bela e misteriosa do mundo.
Avancei e misturei-me com a multidão, como era possível não ter medo? Por trás de uma máscara poderia estar um ladrão e sabe-se lá o que mais. Mas a vida é mesmo assim, plena, bela e terrível, de dia e de noite.
Agora eu sabia o que era viver: era o preferir seguir em frente, enfrentar os desafios e lutar contra as dificuldades. Fazer aquilo que se tem que fazer e gozar a vida.
Até ao momento limitava-me a viver, porque via os outros viverem, mas agora eu sabia o verdadeiro sentido da vida. Não eram os bailes de máscaras glamorosos de uma classe de elite e intelectualizada, onde as pessoas se conhecem umas às outras e estão mais preocupadas em não fazerem nada de errado do que se divertirem, que me deixavam viver. Antes pelo contrário, sufocavam -me.
De repente, o fogo-de-artifício irrompeu e eu descobri que esta mescla maravilhosa de esperança, incredulidade e magia os igualava a todos, nivelando condições e classes sociais.




Manuela Faria, 12ºB

Amizade, um pilar essencial…





Costuma-se dizer que uma imagem vale mais do que mil palavras. Pois bem, o que dizer desta?! A simples e perfeita harmonia entre estes dois “bichinhos” espelha o que uma verdadeira e coesa amizade é capaz de construir.
Seja qual for a pessoa em causa, por mais forte e resistente que seja interiormente, não conseguiria suportar a frustração de estar só e de não ter um laço de amizade.
Eu, um mero ser humano como outro qualquer, não fujo à regra. É com base nos amigos que tenho de longa data e naqueles que vou conquistando durante o percurso de vida que vou trilhando, que eu encontro o meu alento interior.
Não tenho a mínima ideia (e ainda bem), da sensação de estar só, de querer dizer um simples – Olá! – e não poder, de ter a simples vontade de levantar o braço e acenar a um amigo e não poder, de desejar cumprimentar alguém e saber que a única mão disponível ser a outra que possui (e isto se não for maneta). Pior que isto, é saber que, no dia seguinte, nada muda e de ter, junto ao peit,o uma rude, dura e ingrata dor à qual se chama solidão.
Para ser honesto, acho que o grupo de pessoas a que chamamos solitárias não passam de um aglomerado de células do mais variado género, que buscam uma razão de cá estarem. Que buscam a resposta para o significado do “estar só e não ter ninguém em seu redor” a quem possam levantar num gesto piedoso e vagaroso, erguer a cabeça, nem que fosse só para pestanejar, apenas para depois sentirem o “feed-back” da parte de alguém como: "Olá, está tudo bem consigo?" Ou a natural palmadinha nas costas e sentir o peso de algo a mais sobre o seu corpo.
Agora, pergunto eu: Porque é que ainda há pessoas assim? Por vontade própria de quererem sofrer sós? Por culpa das outras pessoas serem preconceituosas ou anti-sociais? Francamente, não sei, portanto espero que o caro leitor mo diga.

Porém, ainda assim, a maioria das pessoas sabem o que é ter um amigo, e quando digo ter um amigo é mesmo ter um amigo, um amigo que se importe connosco, um amigo que nos levante a auto-estima e o ânimo quando nos sentimos em baixo, por mais profundo que seja esse poço de frustração e dor, um amigo que nos momentos correctos nos critique com a intenção de nos mostrar que estamos errados e, acima de tudo, um amigo que nos estime por um longo período de tempo e vice-versa. Agora, amigos de interesses é do que não faltam hoje em dia e desses mais vale manter distância.
Um verdadeiro amigo não se guarda junto ao peito, guarda-se junto à alma, para que de lá nunca mais torne a sair.



Marcelo Veloso, 12ºB

Passos de Solidão





Era quase noite, o meu eu procurava um lugar. Um lugar onde corpo e alma pudessem repousar. Vagueava há dias apenas com o conforto de saber, que um dia, seja ele qual for, encontraria o meu lugar.

O Mundo é o infinito. E para o infinito caminho em parte incerta. A luz que me bateu nos olhos, que me queimou a pele, que me guiou é a mesma que cessa agora no horizonte. Horizonte este que define a linha para a qual eu caminho, sem nunca chegar a lado nenhum. Estou perdida? Não, estou só. Uma pessoa que procura o nada nunca se perde porque por muito que ande, muito ainda lhe faltar para andar.
De todos os caminhos cruzados nenhum me levou ao meu lugar, porque não sei onde ele fica. Mas os meus pés, calejados, não param. Querem o conforto que há muito procuram, querem o lar que nunca tiveram, querem o gesto, o carinho, o amor, a vida que anseiam. As marcas dos meus pés estão no caminho que tracei para que nunca volte atrás. E mesmo que volta-se nunca seria a mesma, porque a cada passo nasço de novo.
Busco a cada dia a perfeição. Porque o mundo assim de mim o exige. Quero um lugar, um estatuto, um nome. Mas o mais importante, quero encontrar-me. Quero descobrir o que preenche o vazio dentro de mim. E por isso procuro algo, procuro alguém. Sem saber, no entanto onde, e como procurar.

Estou cansada e, por isso, sento-me, olho em meu redor e penso. Procurei em tudo mas apenas encontrei o nada. Porque nunca parei e me olhei. Eu sou o tudo, eu sou o nada. Sou o perfeito de mim mesma, porque sou eu. E só eu me basta para mim.


Cátia Ferreira, 12ºB

Fui eu que fiz por merecer...




Ainda me lembro do céu negro que estava nesse dia, esse mesmo dia, em que minha vida começou a perder sentido e tudo em que acreditava passou pela minha mente, em pequenas fracções como se fossem relâmpagos que caiam daquele céu negro. E foi aí que eu pensei que o destino me tinha encontrado, para dizer que toda a dor que eu encontrava nas minhas dúvidas, fui eu que fiz por merecer.
Aí, nesse momento, tudo em que acreditava desapareceu deixando um vácuo em minha mente, e nada do que eu tentasse lembrar fazia sentido, e a única coisa que eu queria fazer era esconder-me para tentar perceber o que comigo se passava. Mas não havia um lugar onde eu pudesse me esconder, fosse onde fosse minha vida parecia cinzas a cair como neve, depois de o destino me ter encontrado a dizer fui eu que fiz por merecer a dor.

E por mais que me arrependa por tudo o que perdi, por causa de mentiras e verdades que neguei, não há maneira de eu não ouvir o destino a dizer que fui eu que fiz por o merecer.
Mas foi nesse mesmo momento, quando já não podia fugir mais, que conclui que não era o destino que falava para mim, mas sim as minhas dúvidas. Foi então que decidi enfrentar todos os erros que me fizeram chegar a esta dor, para que possa provar para mim que eu sou capaz de sair deste buraco em que me coloquei, fazendo com que o céu negro que estava nesse dia fosse substituído por um nascer do sol (um novo nascer para mim) e, finalmente, já não ouviria mais aquela voz que dizia que fui eu que fiz por merecer a dor.



Rafael Mendes, 12ºB

O QUE VEJO E O QUE SINTO




A fotografia que observo reporta-me imediatamente para o meu sonho desde criança: ajudar os animais a ter uma vida digna, sem sofrimento e que os seus direitos sejam por todos respeitados.

O olhar triste do cão que se encontra atrás das grades é por demais impressionante, perturbador e comovente, porque revela o seu sofrimento pelo facto de se encontrar preso, de não ser livre para correr, provavelmente para o colo do dono, ou, numa situação mais extrema, e para mim mais aterradora, porque aguarda, em algum canil, a hora de ser “ adormecido”, porque ninguém o quer.

Por outro lado, e esquecendo ou relevando para segundo plano a infelicidade do animal, apreendo a sua beleza, constatando que é um animal com um aspecto saudável, um bonito exemplar de cão que, talvez por não ter raça definida reúna em si as características genéticas dos seus antecedentes, cuja mistura pode constituir uma mais valia para a convivência com os humanos.

Convivência que, felizmente está ser alvo de mudança, o que constitui um sinal de esperança para o futuro que ainda será de luta.



Maria João, 12ºB

Voando pela Imaginação




Escolhi esta imagem, pois faz-me lembrar do tudo e do nada!
Principalmente pela sua cor! A minha cor favorita é o preto e nela eu encontro a tranquilidade e o bem-estar. Quando me sinto triste, e mesmo em baixo, basta me imaginar esta imagem, fechar os olhos… Concentro-me em algo dela… Vejo, algo. Sim, vejo! Se não vejo, simplesmente, imagino. O que é? É a sua cor preta? E aí, quando estou entranhada naquele transe, não vejo mais nada, não me importo com mais nada, não sinto mais nada! Liberto-me totalmente de tudo, além… sim, da sua cor, preta! É bom! Sim, é bom! Poder sentir esta sensação! Sentir-me aliviada. E sentir-me levada pelo nada e por tudo! Enfim. Só? Não, não estou só! Estou com a minha imaginação! A imagem faz-me sonhar!

Por outro lado, já quando acordada, lúcida, e fixando verdadeiramente a imagem, sonho, também sonho! Lembro-me das coisas boas e más do passado, e do presente. Dói! Sim, dói! É ai que me leva a voltar a fechar os olhos, e a concentrar-me em algo. Sim! Vendo algo, é a escuridão? é a sua cor preta? Não! Sim, é a minha imaginação! A imagem faz-me feliz, faz-me acordar, faz-me sentir… sim... sim... sentir… o tudo e o nada que há dentro de mim, a minha imaginação! E assim, enfim, sinto-me leve, pronta a voar novamente assim que a veja, ou mesmo, imagine!



Sara Anjo, 12ºB

A cinderela!





Quem já não ouviu falar da bonita história de amor da formosa “Gata Borralheira”?
Todos nós, de diferentes faixas etárias, crescemos a ouvir a história desta princesa, e todos nós sonhamos um dia em encontrar o nosso príncipe “encantado”. Pois é, meus caros, por algum motivo é que príncipe encantado só havia um, e a cinderela já ficou com ele.
Mas não interpretem mal as minhas palavras, não é de todo minha intenção fazer uma crítica aos elementos do sexo masculino, mas uma coisa é certa, “Quem diz a verdade, não merece castigo”.
Ainda dizem que não existem mulheres bonitas? Eu diria é que não existem homens perfeitos! Bem… Esperem… Existia sim! O príncipe encantado, que por acaso era uma personagem de um conto infantil, inventado certamente por um elemento do sexo masculino, e claro, depois nós é que não temos argumentos para justificar a nossa existência, lá porque eles tiveram a dignidade de nos ceder uma costela, costela essa que ficaria visível se acreditássemos na perfeição masculina.
É claro que não deixa de ser uma imagem, e poderiam contra-argumentar com a frase “Se a cinderela é um conto infantil, isto também não deixa de ser um desenho”, mas meus “queridos”, isso já o disse eu!
Na dúvida, sendo imagem verdadeira ou não, não conte a história da cinderela às “pequenitas”, só para garantir a sobrevivência das mulheres, porque lá por sermos mais neste mundo, não vamos querer que a imagem (que é apenas um desenho) passe a ser verídica.

Cinderela? Não! Eu não contaria! E tenho duas razões que me impediriam de o fazer, a primeira é que não saberia começar a história, se por “ Há muito tempo atrás” ou “Há bué de time”. Isto é como uma dúvida existencial, aquelas “coisas” que os jovens de hoje em dia têm. O segundo impedimento é que já chega os políticos enganarem os adultos, não vou eu me “armar” em esperta e enganar as “criancinhas”.
Já chega de gente “tapadinha” neste país.
Homens perfeitos? Não existem, não se fazem, contudo, com muito jeitinho tudo se resolve, pois “atrás de um grande homem, está uma grande mulher”, assim, há sempre alguma coisa boa, que eles têm para nos mostrar.
Mas claro…Esta teoria serve apenas para homens, não para políticos!




:D Tânia Gomes 12ºB

Livros e Gentes




Sempre ouvi dizer que não podemos julgar um livro pela capa. Antes não percebia o porquê desta afirmação, mas, com o passar dos anos, tenho-me apercebido do seu verdadeiro significado. Se julgarmos um livro pela sua capa podemos ser enganados muito facilmente. Qualquer julgamento só pode ser feito tendo um conhecimento mínimo daquilo que está inscrito no seu interior.

O que acontece é que, por vezes, os livros têm uma capa desgastada, ou pouco apelativa, tornando-os pouco atractivos para as pessoas, sendo, por isso, desvalorizados, não deixando, no entanto, de poder ser um livro muito interessante. Como sem ler nunca saberemos se é, ou não, interessante, não podemos colocá-lo de lado sem lhe dar sequer uma oportunidade de avaliar o seu valor.
Quando um livro tem uma capa com uma imagem apelativa, em bom estado, será mais atractivo e levar-nos-á a querer conhecê-lo e lê-lo, este poderá, então, ser interessante, ou desiludir-nos muito, pois, pela mera observação da sua capa, fomos mais uma vez, enganados, verificamos que, afinal, não tem nada de interessante, ficando perante a chamada leitura “light”, que não exige muito esforço para percorrer aquela aventura.
Nós, seres humanos, por vezes não agimos da melhor maneira, discriminando e excluindo aquilo que não tem boa aparência e que nos pode surpreender positivamente, mas que, só pelo facto de ser diferente já não temos a capacidade de aceitar tão bem, pois interfere com os nossos valores, com a nossa vida e com o nosso dia a dia. Aceitamos mais facilmente aquilo que tem boa aparência e que é da nossa preferência, mas que nos pode desiludir pela futilidade ou outro defeito. O exterior engana. A essência permanece.

Tudo isto para dizer que um livro com uma má capa pode não ser de rejeitar e um com uma bela capa aceite pela primeira impressão, mas sim que temos que dar a todos os livros uma oportunidade e tentar conhecê-los. Só depois podemos tirar conclusões sobre ele, até pode ser que a capa transmita o conteúdo do livro, mas nunca se sabe com o que poderemos contar. Por isso nunca devemos julgar um livro desta forma.



Melânia Carvalho, 12ºB

Amigos



Como é bom estar lá em cima… Sem pressões e tristezas. Apenas me suportam, qualquer que seja a ocasião, tenha eu ou não razão, ou motivos para merecer respeito ou carinho.
É bom ter quem nos faça isso, não os troco por nada, e enquanto eles me suportarem eu também suportarei a estrutura importantíssima de que eu e eles fazemos parte, e que, sem o esforço de todos, se iria desmoronar, e todo o trabalho árduo que tivemos até hoje seria em vão, e todos iríamos cair.
Espero que isto nunca aconteça e quero que todos os que me ajudam, eu os ajudarei [frase!], sempre que necessário, eu cá estarei, para que, as nossas ligações, o peso e responsabilidade que cada um acarreta seja distribuído com precisão, de modo a que cada vez menos restaurações [?] sejam necessárias, para que, ao passar do tempo, cada um de nós continue fiel, e igual às suas origens, como nos construíram, puros e verdadeiros, onde todos trabalham para o bem do que nos tornou tão próximos e dependentes uns dos outros.
Sozinho não existia, e agradeço a todos os que me suportam e me ajudam a suportar a vida, a que muitas vezes fugimos.
Convosco tudo é melhor.








Gonçalo Fonseca, 12ºA

Sonho Delicado




Preparadas? Vou colocar a música… Olha-me esses pés! Pescoço de girafa, sorriso na cara e… Lá entoava o som de uma música serena enriquecida pelos saltos e piruetas de uma turma de alunas da escola.
Com falhas de dentes desavergonhadas e cabelos repuxados, formando um elegante puxo, embevecíamos o olhar de quem nos topava. O pingar do olho dos pais e a estrondosa sonoridade do choque das mãos quando tudo acabava, arrebatava com o auditório. A verdade é que por muito orgulho que os nossos pais tenham em nós e por muito prematuros que pareçamos, devemos ter sempre a liberdade de exprimir e idealizar os nossos sonhos e convicções. Ainda hoje aquelas palmas me enchem os ouvidos e provocam em mim arritmias que me impulsionam a largar tudo e seguir. Seguir rumo à tensão e exigência dos exames, abraçar as saias de tule e pisar o chão com os sapatos delicados e moldadores de um movimento artístico.
O meu sonho foi travado e a actualidade recorda-me como era feliz quando podia dançar Ballet. A dança sempre me fascinou, mas a atitude trazida pelo Ballet provoca saudade e actualiza-me daquilo que eu vivera. A vida é tão matreira e tem voltas tão estranhas, que no passado não me importava que fossem de trezentos e sessenta graus para voltar a sentir-me viva!
Agora, o que oiço é apenas… Preparada? Olha que não tarda nada e estão aí os exames! Olha essa cabeça… tens que estudar! E tudo o que preciso se resume à dança, a melhor expressão artística que alguma vez conheci! E por duas vezes uma voz maléfica destruiu o que outrora sempre sonhei: ser bailarina.



Joana Cordeiro 12ºA

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Fita! (ALERTA)





Podes parar o mundo e tentar mudar-me a mente.
Podes parar o mundo mas não me mudarás!

Estes dias que correm, trezentos e sessenta graus vezes um, vezes dois, vezes três…
Não passam de ilusões de óptica! A fita de cinema está destinada a parar num qualquer ponto crítico, embora esta fita não tenha um fim, ela acaba por tê-lo. Nem que se rasgue, nem que a queimem, ou a cortem!
Nesta fita as aves voam ao contrário do planeta em si próprio, quererão elas mudar algo? Voltar o planeta de costas, retroceder o tempo talvez!? Este planeta onde o crepúsculo é constante, onde os três estados se encontram, dia, noite e ausência de ambos!
Caminhamos para nos sucumbirmos, a nossa mão cerrada em volta da nossa garganta. O fim que me impõem, não é o fim que desejo.

ALERTA! ALERTA! Código vermelho!
(retomem a suas casas, e permaneçam dentro destas, isolem-se na cave se a tiverem, qualquer contacto com o exterior será punido)
ALERTA! ALERTA! Código vermelho!

Somos livres, disseram todos aqueles que quiseram falar por nós!
E no fim seremos apenas cães presos, vagabundos de uma Terra que já foi nossa, sem qualquer distinção de uma raça de uma pobreza ou pensamento. Esta Terra já não é nossa, está podre, contaminada por modas, doenças, guerras, e químicos!
Quero ser um átomo, quero uma explosão outra vez, quero ser oxigénio ou hélio!
Quero viver, quero mesmo.





Eduardo, 12ºA

A falta de presença




Um homem com sonhos e ambições como tantos outros.
Sonhou um dia, em pequeno, em ser grande.
Sonhou com uma vida digna de um homem digno de vida.
Fez de tudo um pouco: estudou, trabalhou, saiu, passeou, fez amigos, namorou e casou.
Casou e planeou uma família como a maioria dos casais: sonhou com filhos a correr pela casa, sonhou em ouvir a primeira palavra do rebento que já havia anunciado a sua chegada após quatro anos de casamento.
Sonhou… e quem é que nunca sonhou?
Grande ironia do destino. Nunca viu a casa cheia de crianças a correr nem ouviu a minha primeira palavra! Caramba… a vida é mesmo cruel!

Pai…não me ouviste a falar, não viste os meus primeiros passos, não acompanhaste as minhas primeiras brincadeiras, não me contaste histórias para adormecer… não e não.
Juraste à mãe que voltavas em menos de um ano. Ela jurou-me que vinhas a tempo de me ensinar a andar. Juraste-lhe que nunca mais ias embora… mas foste. Disseste que era uma situação provisória… mas não foi. A culpa foi minha? Pensei tantas vezes que não gostavas de mim…chorei tanto e questionei tantas vezes a mãe: Porque é que os meus amigos vivem com o pai e com a mãe, Porque vivo só contigo? Foram tantas as minhas inquietações…Sempre que ias embora eu ficava doente. Doente mesmo. Adormecia abraçada às tuas camisas, contemplava as tuas fotos, chorava às escondidas para que a mãe não me visse assim. Não queria ir para a escola, não queria conversar com ninguém, só queria o “meu mundo”. Um mundo de solidão e de enorme tristeza, de mágoa e de saudade. Queria tanto ter-te aqui, pai! De todas as vezes que ias, era como se de mim levasses uma parte. Uma parte do peito, do coração.
Hoje tenho quase 18 anos e nada mudou. As tuas visitas são pontuais: Dezembro, Abril e Agosto. A saudade não mudou, nem a tristeza, nem a mágoa, nem a solidão, nem o coração partido. Mas agora há uma pequena grande diferença: Compreendo. Sei porque vais e já não acredito na velha máxima da mãe: “Desta vez ele vem de vez”.
Eu sei que não vens. Sei que vou crescer e continuar a ouvir o mesmo de sempre: “Estás cada vez maior” ou então: “Estás uma mulher, ainda há pouco eras uma criança”. Isto repete-se todos os anos. Repete-se também a quantidade incontável de lágrimas que perco quando te vais. Perco o número de sorrisos e de unhas ruídas quando estás para chegar. Vejo o brilho nos olhos da mãe: de alegria quando chegas e de tristeza quando partes. Não quero contar mais o número de minutos que falamos pelo telefone. Cansei. Não quero contar o número de vezes que te escrevi. Não adianta. Não serve de nada. Quero apenas guardar comigo as boas recordações: as nossas viagens, os nossos acampamentos, as tuas brincadeiras de criança, quando vamos às compras, o teu sorriso, o teu perfume, o teu olhar e a tua maneira de ser.
Amo-te por seres como és. Amo-te por me mimares. Amo-te pela tua força. Venero a tua coragem. Respeito as tuas decisões. Nunca te vou julgar, porque, apesar da tua ausência física, nunca estiveste longe de mim.




Cláudia Martins, 12ºA

Contraste




Se eu não soubesse o motivo pelo qual esta fotografia veio ter à minha mão diria que estava diante de uma criança feliz! Sim, porque poderíamos pensar que ele posa para uma fotografia apenas para mostrar que é útil, que é livre e vaidoso em mostrar a sua pescaria. Mas Não! Ele é apenas uma das crianças presas ao sistema e à educação de países em que as crianças são apenas mais um para trabalhar e ganhar a vida, sem direitos e só obrigações. Será que estas crianças estarão sujeitas aos mesmos direitos da Convenção aprovada em 1989? Será esta criança feliz? Não sei, se calhar não lhe foi dado a oportunidade de escolher. Saberá ele que do outro lado do mundo existem crianças, como ele, que reclamam apenas porque o pai ou mãe não o deixaM ir pescar de barco?
Agora eu pergunto: quem será mais feliz? Aquele que obrigam a pescar para sobreviver ou aquele que não o deixam pescar. Quase que posso afirmar que é o que não o deixam pescar, pois esse pode brincar de outra maneira, enquanto o menino da fotografia não tem escolha. Quando não nos é dada oportunidade de escolha o nosso remédio é viver com o que temos.
Assim digo que, se não soubermos a história de uma fotografia, podemos ser traídos pelas aparências ou pelo que nos quer mostrar. Por isso, quando virem uma fotografia, tentem saber a história dela.


Rui Costa 12º A

A Terra



A Terra. A Terra que todos adoramos e conhecemos.Mas há uma questão que permanece... o que é a terra? Será que a terra é uma esfera num plano cheio de figuras?

Como é que nesta pequena esfera há tanta coisa,tanto bem como mal.
Como é que uma esfera tão verde e tão azul, pode ficar tão manchado de vermelho.
Como é que numa esfera a pureza era vista e a impureza não o é.
Quando é que o amor passou a ódio e a partilha à ganância,
Quando é que até o mais optimista deixou de ter esperança.
É uma esfera onde até o mais pequeno gesto faz a maior diferença,
Onde até o mais incapacitado a faz mexer.
Onde até os menos conscientes e racionais sabem amar e odiar.
Onde até o mais cego vê o chão que pisa.
Como é que um ser como qualquer outro pode servir de inspiração a uns, onde até os de lá de cima o respeita, e os de lá do fundo o temem.
É uma esfera onde uma só palavra pode significar e representar tanto o quanto está à frente dos nossos olhos.
Onde os sonhos de um são a realidade de outros, onde os pesadelos de uns são as vivências de outros.
Onde um simples olhar desamparado pode reflectir uma vida inteira.
Mas todos os dias quebram-se sinos e mostram-nos a realidade, e acima de tudo, é que tudo tem um fim.

Mas afinal esta esfera é só mais uma num plano cheio de figuras? Não!!!
Esta é “A” esfera num plano cheio de figuras. É uma casa,um lar,um abrigo,
É o Planeta TERRA.......





Michael Ferreira Da Silva 12ºA

O que irá na cabeça deles…




Será difícil entretê-los?
Difícil não será
Pois para além de cabelos
Pouco mais existirá
Tão parvinhos por vezes
Outros convictos de si
Parecem os chineses
Não percebem o que se diz.

Mas basta uma pequena e bela
Que todos correm atrás dela
Bem… Não se pode chamar de problema
Uma “panca” talvez
E todos os anos o mesmo dilema
Quem será campeão desta vez?
Enfim, mas não nos vamos enganar,
Pois certo é, nunca irão mudar.



Juliana Barroso
12º A

Férias



Ai a praia! Tanto tempo à espera do verão para poder ir para a praia e agora está mesmo a chegar o bom tempo. Nem acredito!

Para mim esta é uma boa altura para falar desta tema, porque começo a lembrar-me das boas recordações vividas nos anos anteriores. Mas claro que essas boas recordações só foram possíveis porque tenho amigos que tornaram esses momentos inesquecíveis e únicos. Lembro-me daquelas grandes jogos de futebol que fazíamos à beira da água, das caminhadas à noite pela praia, de molharmo-nos uns aos outros, tanta coisa! É claro que muita gente pode não dar valor a estas pequenas brincadeiras, mas para mim são muito importantes e é por estes momentos que eu espero o ano todo. Mas também é nesta altura de praia que fazemos novas amizades. Conhecemos muito “pessoal fixe”, e quem sabe, pessoas que virão a ser muito importantes para nós. Acreditem ou não, é difícil lembrar-me de coisas más que se tenham passado comigo na praia!

Por isso é que optei por escolher esta imagem. É que ao fim de um ano cansativo e desgastante de aulas, testes, trabalhos… não há nada melhor que umas boas semaninhas de praia com os amigos para espairecer e esquecer por uns tempos a adrenalina de ter de entregar trabalhos e fazer testes.


José Rafael Soares da Costa, 12ºA

Amigos




Escolhi esta imagem, que representa os amigos, porque acho que eles são muito importantes para a nossa formação como pessoas, visto que é com eles que nós passamos grande tempo da nossa adolescência.
Quanto a mim os amigos são muito importantes, porque é a eles que nós contamos aquilo que nos alegra, mas sobretudo é a eles que nós confessamos aquilo com que nos preocupamos e lhes contamos os nossos maiores problemas. Eu acho muito importante nós termos amigos, mas temos de ter um especial cuidado com os amigos que temos, porque acho que colegas nós temos muitos, mas amigos temos os verdadeiros, aqueles que estão sempre ao nosso lado quando mais precisamos. Temos que distinguir aqueles amigos que temos, que só são nossos amigos por interesse a alguma coisa, daqueles amigos que temos que são amigos para tudo e para todas as situações.
Para concluir, penso que todos nós temos de ter os nossos amigos, mas com especial cuidado com quem “escolhemos” para a nossa amizade.



João Aldeia, 12ºA

Música




A música, como se sabe, é um estimulante para o desenvolvimento de vários sentidos, chega a ser influente no nosso desenvolvimento.

A música, para mim, é muito mais que um phone no ouvido e, para quem estuda música anos, esta imagem é o que vemos todos os dias, montes de notas, pausas, ligaduras e suspensões. Todas estas dicas são analisadas em menos de um segundo. Este estilo de música tem sido deixado um bocado para trás, porque acho que as pessoas criaram um preconceito imaginário de que a música clássica era uma coisa muito requintada e com o aparecimento de novos estilos mais urbanos menos complexos ou mais fáceis de entender, as pessoas aderiram e tornaram-se fãs. Uma pergunta que me fazem é se é difícil conciliar a duas vidas e acham estranho, porque a matemática e a música não se relacionam muito. Dou sempre uma resposta afirmativa à questão e é obvio que ou nos dedicamos a 100% ou não temos grande sucesso. Esta imagem mostra-me a minha evolução ao longo dos anos porque antes música era difícil, mas agora revela grande simplicidade. Eu gosto também de outros tipos de música aos quais também me dedico, mas este é a base aonde posso evoluir e criticar.


João Paulo Nascimento, 12ºA

Essência de uma vida





Esta imagem pode ser um simples instrumento, mas para mim é muito mais do que isso.
Guitarra é o seu nome e apareceu na minha vida porque eu assim quis.

Desde que eu era miúdo que ela despertava em mim uma curiosidade enorme em a conhecer, mas talvez por não estar confiante em que tinha capacidades para saber usá-la é que demorei uns bons anos para ganhar coragem e ir ao seu encontro.
Foi o ano passado que arrisquei e comprei uma guitarra. A ansiedade em começar a aprender foi tanta que o meu gosto pela guitarra só por aí aumentou e muito.
Porque para mim a música completa a minha vida, e a guitarra é, sem dúvida, dos instrumentos que mais criatividade pede para que funcione. Então, eu comecei a dar passos pelo seu mundo e a explorar tudo o que a envolvesse.
As suas seis cordas são o seu símbolo maior e são aquilo que lhe dão a voz. E saber usá-las não é para todos.

Mas aquilo que me atrai mais neste instrumento é que, quando já estamos à vontade com ele, podemos tocar músicas que nos fazem sair deste mundo e entrarmos naqueles momentos a que eu chamo “zen”, o que para mim significa esquecermos tudo e sentir a essência da música que a guitarra proporciona. E é essa essência que faz da guitarra dos mais extraordinários instrumentos musicais.
É tão bom chegar a casa e, para esquecer o cansaço e o stress de mais um dia, e pegar na “guitarrinha” e desabafar tudo para ela e ela responder com a sua música tão pura, que limpa a mente e faz acabar bem o dia.

A guitarra já faz parte de mim e fará até ao final dos meus dias…



Manuel Sarmento, 12ºA

Mendigo



Possivelmente, ao olhar esta foto, estamos perante um mendigo, um de tantos que vagueia por este Portugal anónimo.

Ao ver esta imagem, o meu espírito é invadido por uma tristeza avassaladora, por uma revolta sincera e pela incapacidade de apenas “ver e calar”.
Esta figura, que mostra a debilidade deste homem, desperta-nos para a falta de convicções, de ânimo para encarar o futuro e, com certeza, falta de motivos para seguir em frente.

Talvez, por ironia do destino, não sei, o fundo desta foto contrasta na totalidade com este homem, que de certo, não tem nem caminhos a seguir, nem projectos, nem os seus pensamentos o levam à felicidade.

Ser feliz, ao ver exemplos como este, não é de todo correcto, mas pelo menos, tenhamos consciência de que ter um tecto e uma cama é motivo para sermos felizes!


Cristiana Ribeiro 12ºF

Diferença?



Vêem diferença? Claro que vêem. Eu também. Certamente, as diferenças físicas, a diferença de cor… Mas penso que concordarão comigo que nada mais é diferente em relação aos direitos da menina da esquerda e da menina da direita… Penso eu que pensarão assim… Ou será que partilham da opinião de milhares de racistas que existem neste mundo completo de cores, paisagens, entre outras coisas diferentes, que condenam, discriminam, agridem pessoas, só porque não são iguais ou não se enquadram nos conceitos adoptados por eles!
É lamentável, em países que se dizem desenvolvidos, assistirmos a actos de racismo. E, apesar de pensarmos que não existem essas discriminações no nosso país, ou nos restantes países do ocidente, estamos enganados, porque todos os dias isso acontece, mesmo um simples olhar de desprezo perante alguém que não se enquadra nos conceitos de uma certa sociedade, é um acto discriminatório, acto esse que é tão grave como um acto de violência verbal ou física.

Eu poderia falar da crise e até falar sobre uma imagem do nosso Primeiro-ministro, mas para quê? Se o que interessa são os afectos que existem entre todos e sem afectos vamos viver sempre em crise, porque a verdadeira crise é aquela que está dentro das pessoas que não conseguem viver com o outro, porque é diferente. Tanto desacordo e tão pouco civismo por parte de pessoas que vêem demais a diferença dos outros e que acabam por não verem que o defeito são eles próprios. E é exactamente nesta sociedade que vivemos: por vezes, nem reparamos na discriminação presente em torno de nós.

Esta imagem chamou-me a atenção por tantas pessoas fazerem tanta distinção em duas crianças tão parecidas…




Tânia Lopes, 12º F

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Análise do "Hoax"


Antes do mais, amarre-se a palavra que engole todo o texto , “inutilidade” , e ( não a largando mais) prossigamos na análise.

Comecemos, portanto, pelo quinto parágrafo (perdoem-me o salto, mas agora guio eu) : “Que inutilidade que é tudo! É inútil a única verdade em mim, e encontrar-me com ela, mas é sobretudo inútil e ridículo dizer isso com palavras.” - esta é a tese do texto, tudo o que se lhe antecede são metáforas, em jeito de premissas, que a vão destapando.

Posto isto, passemos, agora sim, ao primeiro parágrafo, onde é invocada uma expressão que se irá repetir ao longo do texto, “ a única verdade em mim”, que é uma forma simples de designar uma das grandes dores de dentes dos filósofos – a essência do ser humano. O que é dito neste parágrafo, é que essa mesma essência é inacessível aos outros, “invisível”, mesmo àqueles que fazem parte do indivíduo, que o constroem com as suas próprias vivências - os quais são designados, posteriormente, de “outros-eu”.

1ª premissa: O “eu” é um conjunto daquilo que são os “outros”.

Adiante, no parágrafo seguinte, é exposta, de uma forma muito, ora, particular… o confronto com aquilo que o “eu” é, despido de todas as vivências dos outros. Nessa circunstância e de acordo com a perspectiva apresentada, o “eu” é um vazio, “um nada” aflitivo, que irá apontar, portanto, para a inexistência de sentido da vida humana, ou seja, para a sua inutilidade. A consciência disto incomoda e inquieta!
“Esses outros-eu, se fossem raspados de mim com muita força, de unhas e navalhas empenhadas, não me sobejaria Nada. Um Nada que é a única verdade em mim; tenazmente minha, como um embaraço líquido que se me entornou pela consciência abaixo.”

2ª premissa: O “eu” sem o eco dos outros é um vazio.
3ª premissa: A essência do ser humano será menos que pó.

Tese: A vida do Homem passa a ser inútil, se ele na sua essência não é nada, aliás, se na sua essência é Nada.

Avancemos, para o 3º parágrafo: “Mas como caiu em pano escuro, sendo escura, ninguém repara, excepto eu, quando vou para aqueles sítios que nos roubam os olhos, encontrar-me com a única verdade em mim.”
Permitam-me expor aqui um esquema da janela de Johary, a fim de explicar o porquê de “ninguém reparar”, à excepção do “eu”.


É, assim, facilmente compreensível associar a condição referida no paragrafo à do “eu secreto”, que será, então, construído por algo do conhecimento do “eu” mas não do conhecimento dos outros. Daí também o uso de “pano escuro”, enquanto elemento simbólico do desconhecimento, não fosse a sua função cobrir algo.


Em relação aos “sítios que nos roubam os olhos”, esses, cada um sabe quais são os seus (por exemplo, para o Bonifácio, pelos vistos, é a praia de Afife) :) . Neste contexto, o meu foi um castelo, que dizem não ser castelo, mas eu tapo os ouvidos e faço muita força para acreditar que é e que já lá andaram dragões gigantes e cavaleiros jei…valentes.


Devaneios à parte, continuemos a análise.

Em relação aos “sítios que nos roubam os olhos”, esses, cada um sabe quais são os seus (por exemplo, para o Bonifácio, pelos vistos, é a praia de Afife) J. Neste contexto, o meu foi um castelo que dizem não ser castelo, mas eu tapo os ouvidos e faço muita força para acreditar que é e que já lá andaram dragões gigantes e cavaleiros jei…valentes.

Devaneios à parte, continuemos a análise.

O parágrafo seguinte, “Fica sempre muito calada, mesmo quando a olho de perto, não com os olhos, que esses foram roubados em linha outra, mas olho-a com as mãos e com o que isso possa ter de sólido Absurdo.”, surge para moldar, digamos assim, um ser (material ou espectral, fica ao critério do leitor) que afigurará a “única verdade em mim”, e não é ao acaso que esta “fica sempre muito calada”. Talvez porque nada tenha para dizer, ou será talvez porque, ao fim ao cabo, nada é?

Este parágrafo introduz também uma reflexão que se reitera, mais explicitamente, no sexto parágrafo. Essa reflexão torna-se importante para a percepção do resto do texto, na medida em que enuncia a dicotomia que mais perturba o “eu”. Esta dicotomia estabelece-se entre a consciência do indivíduo e o seu desejo (impetuoso por um lado, ingénuo por outro) de a renunciar: “E sei-o, e continuo a dize-lo como uma voz gravada. Inquieta-se o Absurdo de contente, por entre os meus dedos.”

Há uma notória rejeição da ideia, anteriormente apresentada, do vazio essencial do ser humano, deste modo, evidencia-se uma vontade ofegante de procurar, mais exactamente, de encontrar um qualquer sentido, para, sobre ele, fundamentar a vida.

“O eu esbarrado, que nem um coelho veloz, contra os limites da sua própria inteligência. Desfaz-se o roedor nestas vãs corridas. É ver as vísceras centrifugadas contra o chão… Quanto sangue…” Este pequeno excerto traduz a violência dessa mesma dicotomia e, de certa forma, o triunfo da razão sobre o desejo do “eu”. De que lhe valem as “corridas” pela busca de um sentido, se a inteligência se erguerá sempre, sob a forma de tabique, para lhe relembrar que tudo é inútil?

Atroz, sufocante… o “eu” - “roedor” inquieto e assustado - vale-se da oração, invocando a figura maternal, símbolo de segurança uterina.

“Madre Protégenos
Segura-nos com o teu braço, Mãe, encosta os teus cabelos ao nosso peito até eles nos sufocarem de conforto e aconchego. Lança as tuas unhas contra os nossos corpos para que se libertem deste sangue.”

“ Madre Protégenos” é o título de um álbum dos Íon . Aquelas duas frases foram escritas aquando a primeira audição do single, desde então, costumo sussurra-las quando me sinto mais aflita… paranóico? Talvez. A libertação do sangue representa o esvaziar da angústia, da inquietação. A referência ao sangue surge por ser uma angústia subjugada pela emoção, apesar de partir de um dilema racional.

Nisto a “única verdade em mim”, já personificada, resolve falar ao “eu” e todo o seu discurso é um fervilhar de zombaria atirado ao sonho deste, ao desejo inocente e esperançoso que o individuo teima em alimentar. Mas a dicotomia em que este se envolve e perde (tal é a envolvência) é absolutamente irrisória e absurda, pelo que a caricatura surge de forma imediata “Olha para ti embuste…”,pensamentos pequeninos como agulhas…e já os perdeste no palheiro que és.”

Atente-se na expressão “contos das fadas sem dentes” que concentra em si toda a desmistificação do sonho.

“Agora tenho de ir embora, pois não tenho? Obrigou-me a ir embora…”, o “eu” não tem escapatória possível e sabe disso. Então, decide voltar as costas e retomar os seus afazeres quotidianos: “Vou pela rua abaixo, tenho de ir tratar daquilo antes que feche. Onde era mesmo? Lá ao fundo, pois claro.”

Mas a fantasia não se lhe despega… e toda a realidade banal serve de trampolim para as brincadeiras da imaginação: “Mas os lápis desta papelaria não sabem o sono. E os livros também não. Nem nas vezes em que adormecemos sobre eles, as páginas se interessam em percebe-lo. E tanto faz ser livro de muito saber, como de pouco.”

Contudo, o “eu” não tem como dissimular aquilo que sabe (a inutilidade da vida, o vazio que é a sua essência), neste sentido surge a comparação acre e frontal do “eu” (que se transfigura num “Ela” em falso jeito de identificação pessoal) com uma prostituta que de seu nada tem, que é apenas o conjunto dos “outros”,enfim, que é “forasteira da própria sombra”. Entenda-se aqui a sombra como sendo representativa da consciência daquilo que é “invisível para os outros”, ou seja, voltemos ao início, da “única verdade em mim”, que, inevitavelmente e contra-desejo, é nenhuma (como inicialmente se concluiu).

“Cola-se-lhe ao corpo, como a dor ao peito, a dor de sentir que a única verdade em si, é afinal uma mentira de penas e bunodontes.”

"Ela cresce em mim na ânsia de me ser.
E dentro dela,
Eu caio."



- Desculpe, boa noite,
podia dizer-me as horas que lhe restam?”

O “eu” desiste do seu sonho, deixa-se apoderar pela consciência e fica contando "as horas que lhe restam", pois:

Tese - A vida do Homem passa a ser inútil, se ele na sua essência não é nada, aliás, se a sua essência é Nada.