sábado, 25 de agosto de 2007

Self Slavery Service




Escravo de Si Mesmo


A suposição de que a identidade de uma pessoa transcende, em grandeza e importância, tudo o que ela possa fazer ou produzir é um elemento indispensável da dignidade humana. (...) Só os vulgares consentirão em atribuir a sua dignidade ao que fizeram; em virtude dessa condescendência serão «escravos e prisioneiros» das suas próprias faculdades e descobrirão, caso lhes reste algo mais que mera vaidade estulta, que ser escravo e prisioneiro de si mesmo é tão ou mais amargo e humilhante que ser escravo de outrem.


Hannah Arendt, in 'A Condição Humana'





quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Viver

"Já perdoei erros quase imperdoáveis, tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso, já me decepcionei com pessoas, mas também já decepcionei alguém. Já abracei pra proteger, já ri quando não podia, fiz amigos eternos.
Já amei e fui amado, mas também já fui rejeitado, fui amado e não amei. Já gritei e pulei de felicidade, já vivi o amor e fiz juras eternas, já sofri muitas vezes! Já chorei a ouvir música e a ver fotos, já liguei só para ouvir uma voz, apaixonei-me por um sorriso.
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade e tive medo de perder alguém especial (e acabei por perder)! Mas vivi! E ainda vivo! Não passo pela vida. Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é MUITO para ser insignificante."
(Charles Chaplin)

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

TORGA... o Gigante!!!!


Ontem não pude vir cá, para assinalar os 100 anos do nascimento de Miguel Torga, mas nunca é tarde para prestar homenagem a quem nos lembra que o Homem pode ser sempre Maior! E o Poeta, então, esse... nunca morre.


E o Poeta morreu.

A sombra do cipreste pôde enfim

Abraçar o cipreste.

O torrão

Caiu desfeito ao chão

Da aventura celeste.


Nenhum tormento mais, nenhuma imagem

(No caixão, ninguém pode

Fantasiar).

Pronto para a viagem

De acabar.


Só no ouvido dos versos,

Onde a seiva não corre,

Um rima perdura

A dizer com brandura

Que um Poeta não morre.


Miguel Torga



E como nunca é demais ouvir, ler, sentir Torga, peço-vos que relembrem o "Livro de Horas", o "Desfecho", o "Dies Irae", falados na aula, e deixo-vos, ainda...



Desço aos infernos, a descer em mim.

Mas agora o meu canto não perfura

O coração da morte,

À procura

Da sombra

Dum amor perdido.

Agora

É o repetido

Aceno

Do próprio abismo

Que me seduz.

É ele, embriaguez nocturna da vontade,

Que me obriga a sair da claridade

E a caminhar sem luz.


Ergo a voz e mergulho

Dentro do poço,

Neste moço

Heroísmo

Dos poetas,

Que enfrentam confiantes

O interdito

Guardado por gigantes,

Cães vigilantes

Aos portões do mito.


E entro finalmente

No reino tenebroso

Das minhas trevas.

Quebra-se a lira,

Cessa a melodia;

E um medo triste, de vergonha e assombro,

Gela-me o sangue, rio sem nascente,

Onde o céu, lá do alto, se reflecte,

Inútil como a paz que me promete.