terça-feira, 17 de março de 2015

Da Imagem - Assédio - por Juliana Senra







Análise formal da imagem:


   A imagem que escolhi é uma fotografia de Ruth Orkin, tirada em meados do verão italiano de 1952, sendo por isso ainda a preto e branco. A situação que capturou não foi encenada ou preparada, mas sim espontânea e bastante pertinente. Na imagem vemos uma jovem e bonita amiga de Ruth, que viajava com ela, a passar por uma rua ocupada por vários homens, incluindo jovens e idosos, sendo ela o único elemento feminino presente. A rua é bastante banal, com pouco mais do que um restaurante.
 
Essencialmente, é devido à sua passagem que todos os homens presentes pararam o que estavam a fazer, olhando-a de uma maneira persistente e forte. A nível dos detalhes, vemos que a sua cara mostra desconforto e tensão. Um dos homens mais próximos dela toca nos seus genitas enquando a observa, outros sorriem desdenhosamente e outros olham-na com uma perturbadora seriedade. 


A fotografia tem principalmente uma função crítica, pois pretende expor as dificuldades da vida citadina de uma jovem rapariga, obrigada a enfrentar os olhares e piropos de homens que ela não conhece. Denuncia uma forma de assédio muitas vezes considerada aceitável, um assédio que claramente deixa a jovem preocupada. Tem, ainda hoje, uma mensagem relevante.




Texto expositivo-argumentativo




            Vivemos na fantástica era da libertação feminina. Pelo menos, é nisso que queremos acreditar, mas a verdade é que, quanto mais se faz, mais precisa de ser feito. A questão da criminalização do assédio parece para muitos irrelevante ou uma mesquinhez, quando, na verdade, ela está intimamente ligada à perpetuação de uma mentalidade tacanha e injusta face às mulheres.


            Apesar de todas as conquistas dos movimentos feministas, desde o direito ao voto até à entrada da mulher no mercado de trabalho, a mudança de mentalidades não foi de todo suficiente. Quando um homem assume que tem o direito de interpelar uma desconhecida na rua por causa da sua beleza ou vestuário sugestivo, está não só a continuar o extenso legado da objetificação da mulher como também a exercer um poder opressivo sobre ela, individualmente. Qualquer rapariga adolescente, passando por mudanças físicas e psicológicas já de si complicadas, descobre também que terá que ter cuidado daí em diante com, praticamente, todos os estranhos que encontrar na rua. Passa por situações de medo ou desconforto perante homens ou rapazes inoportunos, sempre ciente de que aquela não será a última vez que se verá intimidada desta maneira.


            Este é um problema que se relaciona com as exigências da sociedade quanto à aparência feminina. O incentivo ao “corpo perfeito” (sendo que esta noção varia consoante a época) e à feminilidade nos comportamentos e na aparência das mulheres são ideais incutidos a crianças de ambos os géneros. Assim, no século XXI, as meninas ainda aspiram a serem bonitas e os meninos ainda são incentivados a “tornaram-se homens”, fortes e decididos. A consequência imediata é que se mantém o padrão social de exigir uma harmoniosa aparência das mulheres, acima do sucesso ou da realização pessoal, num ciclo vicioso que só gradualmente vai desvanecendo. O assédio nas ruas é só mais uma marca deste controle que é exercido sobre os corpos femininos.


            A opressão feminina é marca de uma sociedade irracional, que julga que as diferenças físicas podem alguma vez representar diferenças a nível do pensamento. Quando homens e mulheres se encararem como intelectualmente iguais, não terão opção senão a de se respeitarem mutuamente.  E uma vez que não podemos funcionar uns sem os outros, está na altura de homens e mulheres finalmente se valorizarem e juntarem esforços. Fim a esta ridícula guerra dos sexos!





Juliana Senra, 12º C

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