Análise formal da
imagem:
Essencialmente, é devido
à sua passagem que todos os homens presentes pararam o que estavam a fazer, olhando-a
de uma maneira persistente e forte. A nível dos detalhes, vemos que a sua cara
mostra desconforto e tensão. Um dos homens mais próximos dela toca nos seus
genitas enquando a observa, outros sorriem desdenhosamente e outros olham-na
com uma perturbadora seriedade.
A fotografia tem
principalmente uma função crítica, pois pretende expor as dificuldades da vida
citadina de uma jovem rapariga, obrigada a enfrentar os olhares e piropos de
homens que ela não conhece. Denuncia uma forma de assédio muitas vezes
considerada aceitável, um assédio que claramente deixa a jovem preocupada. Tem, ainda hoje, uma
mensagem relevante.
Texto expositivo-argumentativo
Vivemos
na fantástica era da libertação feminina. Pelo menos, é nisso que queremos
acreditar, mas a verdade é que, quanto mais se
faz, mais precisa de ser feito. A questão da criminalização do assédio parece
para muitos irrelevante ou uma mesquinhez, quando,
na verdade, ela está intimamente ligada à
perpetuação de uma mentalidade tacanha e injusta face às mulheres.
Apesar
de todas as conquistas dos movimentos feministas, desde o direito ao voto até à
entrada da mulher no mercado de trabalho, a mudança de mentalidades não foi de
todo suficiente. Quando um homem assume que tem o direito de interpelar uma
desconhecida na rua por causa da sua beleza ou vestuário sugestivo, está não só
a continuar o extenso legado da objetificação da mulher como também a exercer um
poder opressivo sobre ela, individualmente.
Qualquer rapariga adolescente, passando por mudanças físicas e psicológicas já
de si complicadas, descobre também que terá que ter cuidado daí em diante com,
praticamente, todos os estranhos que encontrar na rua. Passa por situações de
medo ou desconforto perante homens ou rapazes inoportunos, sempre ciente de que
aquela não será a última vez que se verá intimidada desta maneira.
Este
é um problema que se relaciona com as exigências da sociedade quanto à
aparência feminina. O incentivo ao “corpo perfeito” (sendo que esta noção varia
consoante a época) e à feminilidade nos comportamentos e na aparência das
mulheres são ideais incutidos a crianças de ambos os géneros. Assim, no século
XXI, as meninas ainda aspiram a serem bonitas e os meninos ainda são
incentivados a “tornaram-se homens”, fortes e decididos. A consequência
imediata é que se mantém o padrão social de exigir uma harmoniosa aparência das
mulheres, acima do sucesso ou da realização pessoal, num ciclo vicioso que só
gradualmente vai desvanecendo. O assédio nas ruas é só mais uma marca deste
controle que é exercido sobre os corpos femininos.
A
opressão feminina é marca de uma sociedade irracional, que julga que as
diferenças físicas podem alguma vez representar diferenças a nível do
pensamento. Quando homens e mulheres se encararem como intelectualmente iguais,
não terão opção senão a de se respeitarem mutuamente. E uma vez que não podemos funcionar uns sem
os outros, está na altura de homens e mulheres finalmente se valorizarem e
juntarem esforços. Fim a esta ridícula guerra dos sexos!
Juliana Senra,
12º C
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