sábado, 14 de março de 2015

Da Imagem - O Momento - Dineia Teixeira





Leitura da imagem

O «guarda-sol» foi uma das primeiras obras do famoso pintor espanhol Francisco Goya. Esta pintura pode ser encontrada no Museu do Prado, em Madrid. No entanto, a que observamos na imagem não é a verdadeira, mas sim uma cópia. Este facto não travou um senhor, provavelmente cego, de sentir através das mãos a obra, e de um fotógrafo captar esse momento.

Embora uma cópia, a obra transmite a ideia de descanso e conforto. São as cores neutras que transmitem isso, mas estas desaparecem na imagem perante o negro da roupa do senhor e da luz que incide na obra. O relevo da obra ainda se consegue notar, visto que é a única coisa que o senhor consegue sentir, arrisco-me em dizer que a cópia foi feita para estes indivíduos que não sentem a beleza com o olhar, mas sim com o pensamento e com o tacto.



Texto argumentativo



O Momento


A ideia de criarmos uma «obra falsa» para quem não consegue ver, é um pouco absurda. Visto que a única maneira de poder «sentir» a obra é através do tato, porque não darmos a presenciar o verdadeiro relevo da obra, assim quem sente a obra com as mãos consegue sentir as linhas retas, curvas… e os erros do pintor… e talvez, assim, conhecer mais a intencionalidade da obra, ou seja, a ideia que o pintor queria transmitir. 

Mas a ideia de conhecer o mundo com o pensamento, isso sim não é absurdo. Não estou a falar da opinião… mas da criação que podemos fazer com o pensamento. Não podemos acreditar em tudo o que os nossos olhos veem.

Imaginemos um mundo em que todas as pessoas eram cegas. Não saberíamos o que eram as cores, não poderíamos distinguir a noite do dia, não julgaríamos pela aparência. Talvez esse mundo exista, e a única maneira de poder sobreviver é através da confiança perante as outras pessoas, e através do nosso pensamento.

 Talvez a intencionalidade do fotógrafo, quando captou este momento, fosse mostrar as dificuldades de um invisual. A simplicidade numa fotografia de um senhor a tentar compreender uma obra, que terá mais de mil significados.

A minha opinião é que o fotógrafo captou o momento, um padre invisual (pois tem na mão direita um anel que indica o celibato, bem como os seus trajes escuros e formais) aprecia uma obra de arte da pintura, uma cópia de uma tela de Francisco Goya, pelo relevo da tela. Ele vê e toca procurando na tela o entendimento de quem somos, onde estamos e o que fazemos.

Também está perante “a apreciação do belo, ainda que se inicie nos sentidos, chega ao seu ápice na inteligência. É na instância intelectiva que tem lugar o juízo estético. Tendo esse dado por premissa, infere-se o fator essencialmente humano que rege a experiência estética e, claro está, o contato com as artes que produzem o belo. Só o homem vivencia a beleza. Ora, se a dimensão estética do homem radica-se prioritariamente no intelecto, não é a cegueira, ou outro impedimento de ordem física, que atua como entrave intransponível para que se tenha acesso às coisas belas." (cf. João Ganzarolli de Oliveira)
 Diz a tradição que Homero foi cego; contudo, sua obra mais se assemelha à pintura do que à poesia. Que região, que praia, que local da Grécia, que tipo de batalha, que exército, que armada, que mobilização de homens, que aspecto e variedade de animais não nos pinta, levando-nos a ver o que ele mesmo não viu? “ (idem)

Com esta fotografia, o fotógrafo concluiu que a cegueira não é impedimento à origem do sentimento e, sobretudo, ao desenvolvimento de uma inteligência para além dos sentidos e alertou para um problema existente na sociedade, a deficiência.


Dineia Teixeira, 12º D
                                                        


Sem comentários: