terça-feira, 3 de março de 2015

Da Imagem - Serei(a) Louca- por Roberta Lobarinhas






Leitura da imagem

A fotografia é considerada uma das mais correntes formas de arte. Devido à facilidade de comunicação e partilha de informação através do uso da internet, muitos fotógrafos utilizam este meio para exporem o seu trabalho ao grande público.
Manuel Galrinho encontrou o seu espaço no site olhares.sapo.pt, onde publica atualmente o seu trabalho. Irreverente e heterogéneo na sua obra, aborda temas como a natureza e a nudez humana. Desta última, como é o caso da fotografia apresentada.
A imagem mostra uma cena fotografada em que estão presentes elementos ligados, especialmente, à natureza, como é o caso da água, dos sargaços, um mar repleto destes, que se vão amontoando no lado esquerdo da fotografia e da mulher que se encontra sobre o sargaço, despida, cuja silhueta é revelada pela luz do sol que incide pelo lado superior da imagem.
Em termos cromáticos não temos uma grande disparidade de cores, estas remetem-se maioritariamente para o azul e o verde. A imagem é valorizada pela diferença presente nos seus tons e variáveis e não propriamente pela cor em si. O azul é somado à imagem através do mar, este azul aparece numa paleta mais acinzentada e que gradualmente vai escurecendo, dando lugar ao verde dos sargaços, que, pelo efeito da luz solar, assume tons tanto mais escuros, como mais claro, revelando também tonalidades acastanhadas. Nesta composição de cores, deixa-se sobressair um rosa pálido vindo da figura feminina que jaz sobre a acumulação das algas.
As linhas exploradas no retrato são curvas (sargaço), apresentando uma disposição desordenada que confere a ideia de relevo.
Na fotografia pode-se identificar também uma diversidade nas texturas, a da água uma textura fluída, o sargaço tem uma textura que se vai tornando cada vez mais densa, devido a escassez de água ao seu redor, pois vai-se acumulando e, gradualmente, torna-se mais seco e áspero porque o sol o começa a desidratar.
        É através dos sentidos que o autor pretende chegar até ao seu público. A subjetividade presente em toda a cena é aquilo que seduz o recetor a admirar a obra e a tentar desmistificá-la atribuindo o seu próprio sentido, derivado da tradução pessoal do seu simbolismo. Como tal a única forma de proceder á sua interpretação é, justamente, tentar aproximar-se da intenção do artista, pois a fotografia analisada possui uma função estética.
Através da coloração presente pode-se considerar que o quadro apresentado pretende transmitir uma certa melancolia, tristeza e dolência. Fatores como a profundidade do mar, contrastada com o amontoado de algas, relaciona a ideia de fluidez, de espontaneidade e de liberdade com o sentimento de angústia e de estrangulação provocado pelo acumulado. A figura feminina encontra-se despida, este facto tem como simbolismo associado a uma liberdade quase como primitiva, ao despir de preconceitos, de angústias. Pode também estar associada à inocência, pois a nudez é o estado primeiro do ser humano. Por vezes, a imagem da nudez associada à água remete para um sentido de renascimento.
O relacionar de todos estes dados pode ser decifrado como os confrontos interiores do nosso ser que preenchem a nossa alma, sobre o qual assenta a nossa personalidade, como a própria figura feminina assenta sobre estes elementos. Esta é a interpretação que faço desta fotografia, como tal é subjetiva, própria e a única possível, pois toda a arte é singular.

Recriação Textual
Serei(a) Louca

28 Dezembro de 2014

           Deixa-me consciência, larga-me a mão!
Sinto a dor da minha existência como uma veia a pulsar na cabeça, este terrível universo que insiste em viver fora de mim.
Não, não quero ter de refletir sobre tudo o que acontece sistematicamente ao meu redor, nem estar sempre a tentar descodificar a metafísica das coisas.
Deixa-me consciência!
Dá descanso à minha cabeça e para de brincar com os meus pensamentos, como se fossem peças de lego em mãos de criança traquina. Só te peço um pouco de descanso para poder gozar a vida como qualquer outra pessoa, que não tem de planejar exaustivamente a sua vivência e rever o passado com um suspiro sôfrego.
Preciso de quebrar este ciclo vicioso, mas é difícil encontrar a voz para dar esse grito de rutura.
11 Janeiro de 2015

         Estou num estado em que não suporto viver com este sentimento de culpa que me comprime o estômago. Chegou a altura de me revoltar contra mim mesma e esta estagnação. Quero quebrar a rotina decadente em que a minha vida se transformou.
Não quero ser como o mar, que tanto anda e não chega a lado nenhum.
É hoje o dia que vou partir de vez o aquário, deixar o Atlântico, arrancar as escamas e rasgar a barbatana, até tíbias romperem da carne e caminhar pelas próprias pernas até onde os sonhos me levarem.
Agora tenho um desejo inexplicável pelo desconhecido, apetece-me bramir e esbracejar sem razão. Louca dentro de mim mesma, a desafiar constantemente aquilo que fui e a tentar igualar aquilo que quero ser.
Já sei como é quando as coisas dão errado, agora quero ver como é quando dão certo…
23 Janeiro de 2015

         Sinto um orgulho inexplicável em mim e naquilo que tenho alcançado. Apesar das armadilhas que, por vezes, nos fazem tropeçar, tenho conseguido superar desafios diariamente. Todos temos dias em que nos sentimos desanimados e desmotivados, porém é a desenvoltura com que nos conseguimos motivar novamente que determina o nosso caráter.
Já me senti como estando embrenhada no mais sufocante dos sargaços, mas tive uma ajuda de Deus que me fez olhar para o céu e contemplar o brilho fúlguro das estrelas que velam por mim e voltar a acreditar. Sei que a vida pode acabar e começar todos os dias, contudo terei sempre alguém ou alguma coisa que me guie e me mostre o rumo.
Repouso enquanto ainda há sol e a noite não chega. Aproveito cada bocadinho de felicidade que Deus me dá e tento não temer o destino nem aquilo que está por vir, porque a melhor maneira de nos prepararmos para o futuro é concentrar toda a imaginação e entusiasmo na execução dos projetos presentes.
Serei a louca que vai deixar o mar em busca de um escasso vislumbre da aurora.

 Roberta Lobarinhas, 12ºD



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