segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.


Alberto Caeiro


Depois de uma pequena pesquisa para tentar conhecer um pouco melhor este poema de Alberto Caeiro, fiquei a saber que este é um poema inconjunto pois não tem um tema específico. Talvez esta seja a principal razão pela qual escolhi analisar este poema pois apesar de não falar de um tema em concreto, conseguimos identificar alguns temas que costumam estar presentes nos poemas de Alberto Caeiro tais como a ausência da metafísica, a ausência do pensamento e o uso das sensações. Por estas razões acho que este é um poema em que é fácil ficarmos a conhecer um pouco melhor as ideias de Alberto Caeiro. Temos o exemplo do seguinte excerto, “Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento” em que e visível a temática de ausência de pensamento e o uso das sensações. Alberto Caeiro começa o poema por referir-se à sua biografia dizendo que isso seria fácil de fazer porque apenas estaria presente a sua data de nascimento e a data da sua morte. Esta afirmação leva-nos a concluir que Alberto Caeiro era um poeta muito reservado e o que se passava no dia-a-dia só a ele dizia respeito. Pelo meio o poeta define-se, estando evidente o uso das sensações e a ausência de pensamento. Alberto Caeiro era um observador da realidade. Apenas acreditava naquilo que via e não usava o pensamento já que afirmava que “pensar é estar doente dos olhos”. Por fim o poeta refere-se à sua morte e compara-se a uma criança (“Um dia deu-me o sono como a qualquer criança”). Esta metáfora reflecte a posição de Caeiro perante a vida, ou seja, quer aproximar-se da inocência de uma criança.Este foi um poema que despertou a minha curiosidade já que, o poeta, na parte final do poema, fala de uma forma fácil sobre um assunto tão difícil como é a morte comparando-a com um ser tão inocente como é uma criança. Para além disso, como na maior parte dos seus poemas, Alberto Caeiro não usa o pensamento e penso que isso por vezes é importante para se poder aproveitar a vida. Por vezes para podermos aproveitar as situações ao máximo temos de nos “atirar de cabeça” e fazermos as coisas sem pensar. Se acabarem por correr mal…é com os erros que se aprende!





José Rafael Soares da Costa, 12ºA


[texto por editar pela professora]

1 comentário:

Anónimo disse...

ajudaste-me bastante ! :)