Este é um espaço para os meus alunos de Português... os que o são, os que o foram... os alunos da Escola Secundária de Barcelos... (e seus amigos que, se "vierem por bem", serão muito bem recebidos!)... Poderá vir a ser um ponto de encontro, onde a palavra escrita imperará, em liberdade, criativamente, para além das limitações da sala de aula, porque acreditamos que escrever não é "um acto inútil"... inútil é calar.
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Vive no presente!
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Alberto Caeiro,
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith, 2001
A escolha deste poema assentou, acima de tudo, em dois pontos: o seu autor ser Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) e ser, a meu ver, um dos seus melhores poemas.
Fernando Pessoa, como todos sabemos, foi um autor genial, pela forma como escrevia e, sobretudo, pela sua capacidade de criar e dar vida a novas personagens (heterónimos), sem nunca deixar de ser ele próprio.
De todas as personagens (heterónimos) de Fernando Pessoa, o que me chamou a atenção e me conseguiu cativar foi Alberto Caeiro. Chamou-me a atenção e cativou-me pela sua maneira de ver o mundo, ou mesmo de unicamente ver o mundo e pela maneira exacta e objectiva como o vê. Nessa maneira de o olhar, não há espaço para mal entendidos, nem duplos sentidos, nem mesmo manipulações.
As coisas são como são e o que são. E a minha estima por Alberto Caeiro, resume-se a isto.
Não fugindo à regra, neste poema estão explícitas e implícitas as virtudes anteriormente mencionadas. Mas também nos revela uma outra mensagem interessante, que consiste em não nos deixarmos controlar pelo tempo.
Estamos, por vezes, tão absorvidos com a falta ou com o excesso tempo, que por vezes deixamos de ver. De ver o que realmente é importante e verdadeiro (objectivo), deixamos de ver o mundo como ele é realmente, para o ver dentro do que o tempo nos permite.
Se reflectirmos sobre este ponto de vista, certamente que este poema nos consegue marcar.
Hugo Salgueiro
12ºF
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