Este é um espaço para os meus alunos de Português... os que o são, os que o foram... os alunos da Escola Secundária de Barcelos... (e seus amigos que, se "vierem por bem", serão muito bem recebidos!)... Poderá vir a ser um ponto de encontro, onde a palavra escrita imperará, em liberdade, criativamente, para além das limitações da sala de aula, porque acreditamos que escrever não é "um acto inútil"... inútil é calar.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Chove...
Chove muito, chove excessivamente...
Chove e de vez em quando faz um vento frio...
Estou triste, muito triste, como se o dia fosse eu.
Num dia no meu futuro em que chova assim também
E eu, à janela, de repente me lembre do dia de hoje,
Pensarei eu «ah nesse tempo eu era mais feliz»
Ou pensarei «ah, que tempo triste foi aquele»!
Ah, meu Deus, eu que pensarei deste dia nesse dia
E o que serei, de que forma; o que me será o passado que é hoje só presente?...
O ar está mais desagasalhado, mais frio, mais triste
E há uma grande dúvida de chumbo no meu coração...
Álvaro de Campos
20-11-1914
Escolhi este poema, porque o eu poético questiona o seu futuro. Pergunta-se se este tempo presente será visto como um tempo em que é mais feliz ou como um tempo triste, visto esse futuro ser mais risonho. Esta é cada vez mais, a minha dúvida. Por vezes, pergunto-me se no futuro vou ser feliz, mais feliz do que sou agora, ou se este meu “futuro passado” vai ser lembrado como o tempo mais feliz da minha existência.
“Chove muito (…) estou triste (…) como se o dia fosse eu.”
A chuva é considerada como algo triste. Num dia de chuva as pessoas não riem tanto, ficam em casa, está frio… O dia fica escuro. O eu poético compara-se ao dia em que chove excessivamente e faz um vento frio. O tempo exterior é reflexo daquilo que ele sente. A chuva instala-se e nele a melancolia cresce e se o passado é melancólico e o futuro uma dúvida, o eu poético sente que ficou “mais frio, mais triste”. Uma “grande dúvida de chumbo” inquieta-o, pois a sua angústia parece não ter fim, e o facto de não encontrar respostas angustia-o ainda mais.
Anita Magalhães Faria
12ºC
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