Este é um espaço para os meus alunos de Português... os que o são, os que o foram... os alunos da Escola Secundária de Barcelos... (e seus amigos que, se "vierem por bem", serão muito bem recebidos!)... Poderá vir a ser um ponto de encontro, onde a palavra escrita imperará, em liberdade, criativamente, para além das limitações da sala de aula, porque acreditamos que escrever não é "um acto inútil"... inútil é calar.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Se eu pudesse trincar a terra toda
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro
Alberto Caeiro, um dos muitos heterónimos de Fernando Pessoa, é o autor deste poema. Uma das razões pela qual optei por este poema é [foi] simplesmente, pelo facto que, de todos os heterónimos de Fernando Pessoa, de quem mais gosto é de Caeiro, por este ser tão frontal, objectivo e viver a vida sempre naturalmente.
Caeiro, o poeta da Natureza, tem aqui mais um poema onde, com naturalidade, privilegia os sentidos, neste caso o paladar, mas desta vez começa de uma forma um pouco curiosa. Logo a começar pelo primeiro verso, onde cita [refere/aponta]: “Se eu pudesse trincar a terra toda” temos que concordar que é no mínimo um verso misterioso e incomum.
Pois bem, para mim, deixa de ser incomum e misterioso ao longo da leitura do poema, porque consegue transmitir-me uma mensagem deveras importante. Esta não é nada mais que o facto de as pessoas deverem aprender a lidar com fases boas e com fases menos boas, assim como momentos de felicidade e de infelicidade.
Se Caeiro diz que toma a infelicidade e a felicidade juntas e sente-se um momento mais feliz, então porque é que nós não fazemos o mesmo? Segundo Caeiro: “Nem tudo é dias de sol, E a chuva, quando falta muito, pede-se”. Passo a explicar o verso: aqui Caeiro refere-se à chuva como uma coisa má comparando com o sol, todavia a chuva também é necessária para se viver. Portanto a gente precisa é “passar por elas”, por momentos felizes mas também por momentos infelizes, para se poder ser natural. Mau grado termos de passar por momentos infelizes, com certeza que daremos muito mais valor aos momentos felizes.
Para suportarmos estas oscilações, o que é preciso é sermos naturais e calmos e viver a vida a cada momento, não olhando para traz nem para a frente, mas seguindo o “conselho” de Caeiro: “Sentir como quem olha E pensar como quem anda”.
Nota: Apesar de ainda só ter estudado Fernando Pessoa – Ortónimo e Alberto Caeiro, de certa forma posso dizer que admiro naturalmente Caeiro. Não desrespeitando o Ortónimo, porque seja como for, a gente também precisa de racionalizar de vez em quando. Contudo, regalo-me com os poemas de Caeiro, devido ao seu modo básico, simples e natural de exprimir o que “pensa” sobre o Mundo, pelo facto de ele admitir que a maior filosofia é não ter filosofia nenhuma. Deixo aqui esse pequeno pedido, com o intuito de que isto de não se precisar de filosofia nenhuma, não chegue aos ouvidos de uma certa pessoa que a gente cá conhece, porque senão passamos todos a ser um bando de incompetentes.
Gilberto Veloso, 12ºB
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