terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cansaço


O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos


Por que razão escolhi eu este poema para postar no maravilhoso blogue (graxa!) da nossa tão querida professora (olha?! Mais graxa!)?
A resposta a essa pergunta pode ser dividida em duas partes:
Primeiro, o poema cujo tema era o prazer de não fazer um dever já tinha sido reclamado, e eu gosto de ser original;
Segundo, o que havia em mim era mesmo cansaço, aliás, o que há em mim, neste momento é cansaço, porque, parecendo que não, escolher um poema entre as centenas, senão milhares, de escritos Fernando Pessoa, cansa.
Eu sei que há pessoas que esperavam alguma coisa mais profunda e mais poética. Mas querem algo mais poético do que a verdade, ela mesma poesia? (deixem-me adivinhar. Sim!)
Eu tenho reparado que a maior parte das pessoas fazem análises extensivas ao poema. Eu não. Até porque eu não percebo nada de poesia, e, sinceramente, não tenho interesse neste tipo de escrita. Por isso vou só focar um ou outro aspecto interessante (ou não tão interessante assim) deste poema.
Posso começar por focar cansaço provocado pelas sensações inúteis, nomeadamente, as paixões ardentes e coisas tais, mas eu posso acrescentar, neste contexto, aquilo a que eu chamo: o poetismo extremo, que é um estado mental em que as pessoas vivem no que elas pensam ser um planeta cor-de-rosa poético-filosófico chamado jet-set. Uma conversa com essas pessoas soaria mais ou menos a isto:
- Eurecââââ! Des-co-briiiii?!
- Descobriste o quê? A solução para todos os problemas da Humanidade? Como dividir um ângulo em três com uma régua, um esquadro e um compasso?
- Não. Acabei de pensar na coisâ mâis fútil que o ser humano conseguirá pensareee.
- O quê? - Pergunta a personagem com uma impaciência conformada.
- Estar vievúu é o contrário de estar mortôôôô?!*


*(nota: algumas partes estão escritas em Lili-caneçiano)**

**(nota da nota: isto era totalmente desnecessário mas tenho de desviar a atenção da minha incapacidade de interpretar poemas)***

Mas continuando, eu acho que o que Álvaro de Campos queria dizer com cansaço era, mais a sensação de perda de tempo provocada por estes sentimentos de pura futilidade, que acaba por ser irritante e, até mesmo, cansativa.
Outra coisa que eu gostaria de focar era a felicidade que ele sente por se sentir cansado das coisas mencionadas no poema, que pode ser interpretada como uma sensação de liberdade. Uma liberdade provocada por saber que não é alguém que terá de andar a perseguir amores ardentes, ou a seguir filosofias fúteis. É uma sensação de gozo por nem sequer pensar o que é a vida, se está vivo, ou sequer, se é feliz assim.***


***(De notar que aguentei 625 palavras sem fazer qualquer critica à ministra da educação)


Tiago Cordeiro, 12º C
[texto por editar pela professora]

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Ainda não li com cuidado, ainda, mas do que me foi dado ver enquanto postava.... AHAHAHAHAH!

...para já, vou deixando que desvies a minha atenção da tua "incapacidade de interpretar poemas".
Parafraseando o outro, que não era poeta... I'll be back!