terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ora até que enfim..., perfeitamente...



Ora até que enfim..., perfeitamente...
Cá está ela!
Tenho a loucura exactamente na cabeça.

Meu coração estourou como uma bomba de pataco,
E a minha cabeça teve o sobressalto pela espinha acima...

Graças a Deus estou doido!
Que tudo quanto dei me voltou em lixo,
E, como cuspo atirado ao vento,
Me dispersou pela cara livre!
Que tudo que fui se me atou aos pés,
Como a serapilheira para embrulhar coisa nenhuma!
Que tudo quanto pensei me faz cócegas na garganta
E me quer fazer vomitar sem eu ter comido nada!

Graças a Deus, porque, como na bebedeira,
Isto é uma solução,
Arre, encontrei uma solução, e foi preciso o estômago!
Encontrei uma verdade, senti-a com os intestinos!
Poesia transcendental, já a fiz também!
Grandes raptos líricos, também já por cá passaram!
A organização de poemas relativos à vastidão de cada assunto
resolvido com vários -
Também não é novidade.
Tenho vontade de vomitar, e de me vomitar a mim...
Tenho uma náusea que, se pudesse comer o universo
para o despejar comia-o.
Com esforço, mas era para bom fim.
Ao menos era para um fim.
E assim como sou não tenho fim nem vida...

Álvaro de Campos










Decidi escolher Álvaro de Campos, não é que não tenha gostado de Fernando Pessoa Ortónimo ou de Alberto Caeiro, até é pelo contrário, não me conseguia decidir no poema! Então desisti da ideia de escolher entre Mestre e Ortónimo para abrir horizontes a novos heterónimos! A partir do momento em que decidir procurar Álvaro de Campos, este poema foi uma escolha bastante fácil!
Não o escolhi porque me identifico com ele (ou pelos menos esta é a versão oficial e juro-a até à morte!), mas antes escolhi-o porque é simplesmente e loucamente genial! Tem uma visão bastante distorcida de realização pessoal, dá a ideia tresloucada de vida concretizada… ou não!
É quase um grito de libertação das convenções e das ideias pré concebidas de “como se deve viver!”; “o que devemos e não devemos esperar da vida!”… parece que tudo o que fazemos deve ter um fim e esse fim é a perfeição e nunca o lixo!!!
Mal comecei a ler este poema, deu-me uma enorme vontade de me levantar da cadeira, colocar o pé direito em cima dela e de mão ao peito, lê-lo a gritar! E esta foi a razão principal que me fez escolher este poema - por mexeu comigo. E um poema não precisa de ser belo ou de me descrever na perfeição para eu o escolher e gostar dele… precisa de ter aquele toque especial que não sei explicar, mas garanto que este poema tem!
Precisa de ser louco e de quebrar estereótipos.
Adorei este poema e gritei! Sabe muito bem, experimentem!


Daniela Santos, 12ºC

3 comentários:

Sandra Catanho disse...

Olá Daniela... antes demais deixa dar-te os parabéns... o teu comentário é muito bom...
mas sabes que mais??? Acho que Alvaro de campos deixa levar-se muito pelas sensações o que , neste mundo, nao é nada bom... da mesma maneira que tbm não é nada bom ser como Pessoa Ortonimo porque este é dramatico demais... optimo é estar no intervalo da sensação de Alvaro de Campos e no inicio da consciencia de Pessoa...
AS vezes deixamo-nos levar pelo sentir e nao pelo pensar e isso , em certos momentos, tras-nos consequencias...
mas pronto... ainda bem que todos somos diferente!

ps. Acho que quando escolhemos um poema para o escolhermos temos que nos identificar em certo ponto com ele... com as palavras nele contido, com as emoçoes (nao so as que estao nitidas mas tbm com as que estao para alem das palavras... ) acredita: uma palavra nunca é só uma palavra... é bem mais do que isso...

Sandra Catanho

José Jesus disse...

Bela iniciativa!
Parabéns!

Fátima Inácio Gomes disse...



Agradeço, José Jesus. :)