segunda-feira, 19 de março de 2007

"Cão Como Nós"

Para quem não sabe (embora não devam ser muitas pessoas) Manuel Alegre, para além da sua actividade política, é também escritor e poeta.
O título desta obra é sugestivo: trata-se de um cão, de seu nome Kurika, “como nós”, ou seja, a relação entre o narrador e o cão, embora não seja uma relação pessoa a pessoa, também não e uma relação de pessoa a animal, “eram relações algo híbridas”, porque se tratava de um cão “que tendia a deixar de o ser”.
A obra está escrita na primeira pessoa, com referências autobiográficas tanto de locais, por exemplo Águeda, como familiares, “a minha mulher”, “os meus filhos”, etc.
O mais interessante da obra é o tempo. Temos de considerar o tempo da história, em que predomina o passado e se conta a relação do narrador e sua família com o cão, e o tempo da escrita, onde predomina o presente e se fazem reflexões filosóficas de cariz existencialista, em jeito de monólogo interior, em que o narrador como que pressente a presença do cão e refere “se não fosse como sou já tinhas morrido completamente”, ou seja, o cão existe enquanto existir na sua memória.
O poema final, que tem o mesmo título da obra, revela as qualidades poéticas de Manuel Alegre. Nele se resume as características antitéticas do cão, que “como nós” era “altivo” e “fiel” mas “desobediente”, “não cativo”, “sempre presente-ausente”, características que sabemos pertencerem a Manuel Alegre, com seu espírito revolucionário, rebelde e altivo.
A obra “Cão Como Nós” é cativante por ser de leitura acessível, numa linguagem coloquial e simples que nos prende do princípio ao fim.


Nuno Areia 10º C

3 comentários:

Cláudia Amorim disse...

Olá Nuno, quero agradecer-te por me teres emprestado esse livro, pois proporcionaste-me umas horas de desordem emocional, muito agradáveis, diga-se de passagem. Devo dizer que "Cão como nós" possui as características que mais aprecio num livro. É pequeno (ñ interpretem mal lol)mas muito intenso porque transpõe os sentimentos mais fortes de uma forma simples e ao mesmo tempo arrebatadora e deliciosa(hum). Devo-te confessar que depois de o ter lido fiquei com a história impregnada no meu subconsciente durante muito tempo e podes não acreditar, mas lembro-me, muitas vezes, do livro no dia-a-dia. Não esperava tal coisa do Manuel Alegre, de facto surpreendeu-me, pela positiva.
Das duas uma,ou eu não estava no meu perfeito juízo quando o li, ou estava com uma tara qualquer, porque a história entranhou-se-me no cérebro(se é que tenho algum). Bem, acho que me excedi. Fica bem (vejo que seguis-te o meu conselho, afinal de contas não me achas um ser tão repugnante quanto isso lol, ou então não tinhas lido mais nenhum livro, pois foi isso lol)

Fátima Inácio Gomes disse...

Ora,não posso estar mais de acordo com a Cláudia, exceptuando a violenta impressão que a deixou "abananada"!... também gostei muito do livro e, embora conheça poesia do manuel Alegre, não o conhecia na narrativa e , confesso, tinha as minhas reticências (creio que não me abstraía da imagem do político). Surpreendeu-me muito pela positiva.
Quanto ao teu comentário... pouco a apontar, além de que está muíssimo bem elaborado, com muita qualidade. Parabéns! :D

Cláudia Amorim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.