quinta-feira, 21 de junho de 2007

Eu...


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...


Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...


Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...


Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo para me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca


Escolhi este poema devido à carga sentimental que este contém, e à forma como a autora evidencia o papel da mulher portuguesa na sociedade, em inícios do século XX.
Na minha opinião, neste poema estão patentes dois traços que eram característicos da autora, a sua feminilidade, e a sua solidão no amor.

Florbela Espanca foi uma das pioneiras do movimento feminista em Portugal, e como consequência disso em algumas das suas obras podemos verificar um claro desejo de reconhecimento do sexo feminino, face às desigualdades sociais vividas na época.
Esta teve uma vida bastante conturbada e inquieta, passando por vários casamentos, alguns infelizes. A morte do seu irmão foi, digamos o “cume” de todos os desgostos que tinha tido anteriormente e a partir desse dia Florbela tentou o suicídio várias vezes.
É esta onda de sentimentos que dá toda a qualidade e mérito aos seus poemas.

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Eis um poema que sintetiza a poesia de Florbela Espanca.
Boa análise! Parabéns! De um modo conciso, somando àquilo que o príoprio soneto revela, deste a conhecer a poetisa.