quarta-feira, 27 de junho de 2007

A morte absoluta

Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.


Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão – felizes! – num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.


Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?


Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.


Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."


Morrer mais completamente ainda,
– Sem deixar sequer esse nome.


Manuel Bandeira


Optei por este poema porque a temática do mesmo despertou o meu interesse.
O sujeito poético demonstra uma enorme sensibilidade perante a morte, desmistificando-a e retirando-lhe a sua carga negativa. A morte, aqui, desprende-se totalmente da sua complexidade, no carácter físico e emocional, é também abordada de uma forma prática, e resolvendo as suas questões, que seriam, certamente, motivo de mágoa e que possuem grande carga emocional junto dos demais.
Foi esta magnífica forma de apresentação que fez com que o poema me tocasse e que me levou a apresentá-lo aqui diante de vocês.



Eva Castanheira 10ºG

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Não conhecia esse poema... e adorei!!! Obrigada, Eva, por o teres trazido aqui.
Atua abordagem é, também, delicada e, curiosamente, muito positiva! Na verdade, se há esse teor desmistificador, quer-me parecer que ele existe num sentido de vazio absoluto, esmagador, aniquilador da existência! Não lhe encontramos o mesmo tom, suave e libertário, do Gomes Ferreira.
De todo o modo, gostei muito! :D