ESTE É O TEMPO
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam
25 DE ABRIL
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Escolhi estes dois poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen porque, apesar de pequenos, dizem tudo e demonstram bem a diferença existente entre o tempo de ditadura e o tempo de liberdade. Na realidade, a ditadura está bem expressa em palavras como “selva obscura” em que o “ar azul se tornou grades”. As injustiças de um regime ditatorial estão presentes na “impura” luz do sol e na “noite” que é “densa de chacais”. Todas estas palavras têm uma conotação negativa, associada à angústia, à “amargura” e à renúncia dos homens.
Pelo contrário, o outro poema é todo ele um hino à liberdade. Em vez de noite temos a “madrugada”, um dia inteiro “inicial” e “limpo”, um começo em que tudo é possível, em que a inocência está presente e afastou a noite e toda a carga negativa a ela associada.
Rui Bonifácio, 10ºC
1 comentário:
Batoteiro!!! Atacas logo com dois!!! :D
Mas são, de facto, pequenos ;)... não o são é no seu significado! De facto, são a prova de como a poesia, quando superiormente escrita, tem a capacidade de "condensar o mundo" (já dizia a Florbela!) em tão poucas palavras.
Temos, nesses dois poemas, mais uma manisfestação do carácter contestatário e sentido de justiça e liberdade de Sophia. São dois poemas belíssimos, e no segundo, encontra-se a definição mais bela, tocante e sentida do 25 de Abril... foi "O dia inicial inteiro e limpo".
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