segunda-feira, 18 de junho de 2007

"E tudo era possível"



Na minha juventude antes de ter saído
De casa dos meus pais disposto a viajar
Eu conhecia já o rebentar do mar
Das páginas dos livros que já tinha lido.

Chegava o mês de maio era tudo florido
O rolo das manhãs punha-se a circular
E era só ouvir o sonhador falar
Da vida como se ela houvesse acontecido.

E tudo se passava numa outra vida
E havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer.

Só sei que tinha o poder duma criança
Entre as coisas e mim havia vizinhança
E tudo era possível era só querer.




Ruy Belo




“E tudo era possível”, um título, que a meu ver, nos remete para o mundo da fantasia, onde todos os nossos sonhos se tornam realidade, onde tudo brilha e todos são felizes.
Neste poema, esse mundo mágico é a infância do sujeito poético.
O eu poético faz a distinção do “antes” (a juventude), um período de alegria e crença no sonho e do “depois” (estado adulto), bem oposto ao “antes”.
O verso “Só sei que tinha o poder duma criança” é, para mim, o que torna este poema intenso e belo, pois uma criança, sendo um ser pequeno, inocente, frágil e sensível mostra acreditar na força e magia dos sonhos, transformando a dor e o sofrimento em felicidade, ao contrário de muitos adultos que não querem, por comodismo, lutar por aquilo em que acreditam.
Tal como dizia Fernando Pessoa: “O melhor do Mundo são as crianças”.

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Belíssimo poema! Belíssima análise!