sábado, 23 de maio de 2009

Inspiração



Era um dia chuvoso, tal como muitos outros de Inverno, exceptuando ser Primavera, a estação mais radiosa e florida do ano. Nunca o céu ousara tanto como naquele dia, pelo que decidi ficar em casa, “não vale a pena sair com este temporal”, pensei para mim.
Era solitária, mas já estava adaptada, com o emprego dos meus pais, a cada seis meses era habitual a mudança. “Tens tudo de bom”, diziam-me. Verdade, até à altura tinha aprendido mais de dez línguas, tinha matemática, economia, anatomia, e qualquer outra disciplina exorbitante com os melhores professores, já havia visitado meio mundo e conhecido pessoas célebres, ídolos de inúmeros jovens da minha idade. Mas nada disso me interessava. Para quê, perguntava, para quê se não podia sonhar e manter a chama da esperança acesa?
Nesse dia saí de casa, não aguentava nem mais um dia lá fechada. Corri o mais que pude, para o mais longe que podia de todo o palco que era a minha vida, pena não ter nascido para ser actriz, dizia para mim!
Corri tanto que já nem a chuva me alcançava.
Subitamente, parei!
Sentei-me, ofegante, cansada, não podia fugir mais, estava no meu limite.
Olhei em redor até fixar num ponto, alguém… Tinha um olhar triste, distante, profundamente confuso mas, ao mesmo tempo, intensamente belo. Nunca na minha vida alguém me cativara tanto com um simples olhar.
Aproximei-me receosa, mas com o coração desesperadamente ansioso. Tentei conhecê-lo, mas havia algo nele que me impossibilitava de o fazer. Era distante, mas ao mesmo tempo sentia-o perto. Falámos durante horas, de tudo e de nada. Os dias foram passando, e com eles as semanas. À medida que o conhecia, ficava mais fascinada do que antes. Tudo nele brilhava (pelo menos para mim).
Desejei que o tempo parasse, que o momento não terminasse e que o adeus nunca tivesse de ser dito. Eu respirava, transpirava e irradiava felicidade. Tudo para mim era perfeito.
Seis meses passaram e chegou o dia em que os meus pais, mais uma vez, me propuseram mudança. “Propor? Isto é mais uma obrigação”. Contestei o mais que pude, mas nada era suficiente para exprimir o meu desespero. Nesse instante corri para ele, era a única pessoa que, no seu perfeito encanto, me iria acalmar.
Vivi o dia como se não houvesse outro (e não haveria, pelo menos com ele). Ri com ele o mais que pude, e pensando bem, era tudo o que havia para recordar. Em todo tempo que passámos juntos, nunca uma lágrima havia escorrido no meu rosto.
O dia terminou.
Despediu-se de mim, já sem o olhar triste que em tempos me cativou. Ainda me cativava, mas agora pelo seu brilho e vivacidade. Abracei-o com uma força que desconhecia, não o queria deixar ir assim, sem um adeus digno de tudo com que me havia presenteado.
Vi-o partir, calmo, como sempre havia sido… À medida que se afastava, eu sufocava. Cada passo que dava era como uma faca que se cravava no meu coração.
Nesse momento percebi o que irremediavelmente havia acontecido, eu estava “incondicionalmente apaixonada por ele” e de uma coisa eu tinha a certeza:
para onde quer que eu fosse, o meu coração permaneceria, para sempre, naquele olhar.


Beatriz, 12ºB

4 comentários:

Luis Loureiro disse...

muito bom :D
Contava com um final totalmente diferente xD Surpreendeste-me.

E mais! Terminamos os nossos textos com a mesma palavra!

:D

Parabéns

Rafa disse...

Ai Sara mesmo depois destes anos continuas a surpreender-me!!

Gosto muito deste texto! xD

Fátima Inácio Gomes disse...

Gostei imenso da imagem... e ela, de facto, inspirou-te. No fundo, contas uma bela história de amor... mas, porque é que as histórias de amor têm sempre de ser tristes?

Beatriz disse...

Oh, eu estou habituada a ver sempre finais felizes =D
Ja chateia, temos de variar um pouco... lol