Este é um espaço para os meus alunos de Português... os que o são, os que o foram... os alunos da Escola Secundária de Barcelos... (e seus amigos que, se "vierem por bem", serão muito bem recebidos!)... Poderá vir a ser um ponto de encontro, onde a palavra escrita imperará, em liberdade, criativamente, para além das limitações da sala de aula, porque acreditamos que escrever não é "um acto inútil"... inútil é calar.
domingo, 10 de maio de 2009
Cthulhu...
A casa antiga. A porta. As escadas que rangem sob o peso dos pés trémulos. Os retratos que percorrem a escadaria. A luz é fraca, apenas uma janela no fim da escadaria deixa ver os toscos degraus. O som ensurdecedor de uma caixa de música faz-se ouvir enquanto subo, lentamente. Depois de um último gemido das escadas, vejo o corredor à minha frente. O corredor é mais iluminado. Orbes pendentes do texto deixam ver um corredor forrado com hastes de veado de alto abaixo. Parece que respira. Ou talvez seja eu que esteja a respirar de menos. Em todo o caso, o corredor parece alargar e encolher. Calmo e suavemente ele respira, e murmura.
Há mais um lance de escadas, ao fundo do corredor, e uma porta entreaberta. Espreito para dentro e vejo alguém… Alguém a dançar. Está uma caixa de música no chão a tocar a ensurdecedora melodia. Também há um ramo de rosas vermelhas na mão desse alguém dançante. Está vestido de negro, mas a sua pele é de um branco cal. Tem unhas compridas. É careca, excepto na nuca, onde tem um molho de cabelo amarrado e espetado. Parece uma personagem um tanto ou quanto excêntrica. Agora está a dançar. Dança como uma criança, aos saltos e em círculo, em volta da caixa de música, com um sorriso nos lábios. Durante este tempo todo apenas a caixa de música se faz ouvir.
Não parece reparar em mim parado na soleira da porta. Viro-me para o corredor e continuo o meu caminho deixando o bizarro e excêntrico espectáculo para trás. Subo o lance de escadas e deparo-me com um corredor igual ao que deixei para trás. Este, assim como o anterior, é ladeado de chifres. Percorro o corredor até ao fim, onde há uma porta entreaberta, outra vez. Espreito e lá dentro está a caixa de música e o ramo de rosas no chão, mas nem sinal do dançarino. Uma das orbes do corredor apaga-se e acende-se. O quarto está agora completamente vazio. Tenho a certeza de que ouço um respirar e um murmúrio nas minhas costas, mas não há nada atrás de mim. Apenas o corredor e mais uma escadaria para o próximo andar.
Um último olhar ao quarto vazio e nova subida. Mais uma vez. um corredor cheio de troféus de caça. Ou será o mesmo? Não há escadas no fim deste, apenas uma porta. Estranho…a porta parece…parece como que deslocada do resto do corredor, da decoração deste. A porta é feita de uma madeira avermelhada e é húmida ao toque, como se a tivessem mergulhado em água. E o odor a maresia. Para além disto, está esculpida de cima abaixo com símbolos e inscrições. Há ainda uma viseira na porta. Para lá da porta está uma estátua gigante com olhos feitos de esmeraldas. Está acorrentada às paredes, ao tecto e chão.
Lá está outra vez. Aquele murmúrio, mas parece mais alto. Fico à escuta. Lá está outra vez. Consigo perceber alguns sons. Decido entrar pela estranha porta adentro. A estátua é realmente gigante. Dou por mim a arfar e a tremer. A estátua é horrivelmente grande. A visão começa-me a dobrar e sinto um medo em crescendo. Os olhos. Não…Tenho medo. Estou a ouvir coisas. Ou serei eu a pensar? Não me consigo segurar em pé. Caio de costas no chão. As corrente da estátua movem-se como que levadas por uma brisa. E um cheiro a maresia e a peixe morto sente-se então. Os sons na minha cabeça fazem-ma doer. Preciso…preciso de sair daqui. Arrasto-me para a porta. O homem do quarto, com a caixa de música está à entrada. Está a olhar para mim enquanto fala. Não percebo o que ele diz. Nem o que diz a voz na minha cabeça. Grito que não entendo, mas nem a mim próprio me consigo ouvir. Só o repetido som “Ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wagh’nagl fhtagn. I’a Hydra! I’a Dagon! I’a Cthulhu!” É ensurdecedor “I’a Cthulhu! I’a Cthulhu! I’a Cthulhu!”
Os olhos começam a fechar-se com a dor, a última imagem de que me lembro é das paredes começarem a escorrer água e o cheiro a mar e peixe morto se intensificar.
Abro os olhos. Está tudo verde. Respiro mas não há ar. Apenas água. Estou a afogar-me! Falta-me o ar. Não…não…consigo…aquilo?...Grande…cidade…colossal…som…Ph’nglui mglw’nafh…Cthulhu R’lyeh…wagh’nagl fhtagn…sono…olhos…R’lyeh…
“Jazendo na sua casa em R’lyeh, Cthulhu aguarda e sonha”
Tiago Faria, 12ºC
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6 comentários:
Perturbador, Tiago... mas creio que a intenção era essa. So... mission accomplished :)
Lovecraft sentir-se-ia orgulhoso... I'a Tiago!
(atenção a essa vírgulas... tive que entrar nos húmidos reinos de Cthulhu para fazer umas correcçõezitas...)
E falta um "h" ao nome do grande primordial...que ele tenha pena da prof quando acordar do seu sono. :twisted:
I'a Cthulhu!
Falta nada....
(shhhh não faças barulho, eu vou ali ao corrector e venho já...)
Até que não está mau
http://www.youtube.com/watch?v=GEkRIiasVGI
humm... promissing
indeed...I'm living proof
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