Este é um espaço para os meus alunos de Português... os que o são, os que o foram... os alunos da Escola Secundária de Barcelos... (e seus amigos que, se "vierem por bem", serão muito bem recebidos!)... Poderá vir a ser um ponto de encontro, onde a palavra escrita imperará, em liberdade, criativamente, para além das limitações da sala de aula, porque acreditamos que escrever não é "um acto inútil"... inútil é calar.
domingo, 31 de maio de 2009
Até quando o homem irá ser necessário a ele mesmo?
Cada vez com mais frequência o homem inventa máquinas que façam o trabalho dele mesmo. Até aqui tudo bem, sim até porque o ser humano tem de se poupar, é escusado estar a fazer grandes esforços, quando na realidade os pode diminuir com o uso de aparelhos. Mas será que esses tais aparelhos, que começaram por ser feitos com o objectivo de minimizar o trabalho e aumentar o nível de produção do Homem, não estarão a levar à desvalorização da espécie humana? Pois essa é a grande questão.
Sim, é muito bom termos as máquinas que nos façam o trabalhinho todo, mas o que estão a fazer aqueles que estavam no lugar das máquinas antes de estas serem construídas? Ah, já sei, estão na fila, à porta do centro de emprego, à espera que haja alguém noutro lugar que ainda não tenha comprado máquinas de última tecnologia e precise de pessoas, pessoas mesmo feitas de muita carninha para trabalhar. Tudo bem que uma pessoa, para estar a trabalhar, precisa de um ordenado, mas também sabemos que, ao menos, esse ordenado vai para a casa dessa tal pessoa de carne e osso, para as despesas mensais, tais como os filhos. Mas uma máquina também não precisa de ordenado? À partida não, mas se aprofundarmos vemos que sim, então repare: quantos ordenados mensais dava, o dinheiro que custa uma máquina? E se formos a ver, os patrões pagam na mesma um ordenado mensal à máquina, só que em vez de o dinheiro ir para uma família para ser gasto em bens essenciais, vai para os cofres da EDP.
Mas o desenvolvimento da tecnologia não tem só estas consequências. Primeiro foram inventadas estas máquinas que substituem o homem no seu trabalho e, como se não bastasse, também querem substituir o homem noutros sítios. Então vejam lá que inventaram um tipo de máquinas a que chamam robô e algumas são tão parecidas com o homem que até têm bracinhos e perninhas, só que não são feitos de células (pelos menos não têm ADN), mas têm algumas funções do homem: falam, andam, correm, jogam futebol, e também fazem companhia a outros homens. É proibido na maioria dos países o casamento entre duas PESSOAS do mesmo sexo, será que também daqui a uns anos teremos este problema, mas em vez de ser entre duas pessoas, ser entre homem e máquina? Com o avanço da tecnologia desta maneira, daqui a pouco inventam homens e mulheres para todos os gostos, tamanhos e feitios. Por vezes, é preciso que não se desenvolva tanto a tecnologia, porque senão, daqui a uns anos, os tais robôs que inventámos para nos facilitar o trabalho vão ser os nosso patrões e nós seremos os seus funcionários.
Tiago Luso, 12ºC
A indiferença…
Como é meu hábito, este tipo de textos são realizados sempre com muito tempo de antecedência (ataque de tosse agoniante), mas ainda bem que desta vez foi diferente. Quando já tinha uma ideia em mente para mais um “desafio do blogue”… deparo-me como uma situação difícil de acreditar e impossível de tirar da cabeça. Decidi logo mudar de tema.
Esta situação ocorreu numa praça de uma das cidades mais emblemáticas do nosso país. Uma cidadã, de origem romena presumo, constatando que o seu pequeno empregado, que por acaso era seu filho (pormenor pouco relevante), não teve um dia ‘’feliz’’ e apenas conseguiu uns míseros euros a pedir na rua, “desata” à bofetada ao pequeno deixando o petiz em lágrimas.
Este pequeno incidente fez-me pensar em dois problemas: a exploração infantil e a imigração, mas como ambos os temas dão ‘’panos para mangas’’, decidi falar apenas sobre a forma como as crianças são usadas e abusadas pelos seus progenitores.
O Estatuto da Criança e do Adolescente reza que "É proibido qualquer trabalho a menores de catorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz"; será que aquele rapaz que eu vi estava a aprender a pedir!? Se calhar… é que se fosse um profissional vinha com os bolsos cheios de dinheiro, certo!?
Todas as campanhas ou algo do género contra a exploração infantil são muito bem-vindas, mas enquanto permitirmos que seja possível a abertura de fábricas em países como a Indonésia, China ou Brasil, apenas para poderem empregar crianças e assim diminuírem os encargos salariais, jamais acabaremos com este flagelo.
É urgente tirar as crianças das fábricas, das explorações mineiras e até mesmo das ruas, onde se prostituem. Estes exemplos são, apenas, umas gotas no oceano, pois, por todo o mundo, existem milhares e milhares de crianças a trabalharem em condições desumanas. É urgente dar-lhes uma oportunidade de frequentar a escola para que possam ter um futuro digno pela frente.
João Pedro Sá, 12ºC
No mundo
Esta pintura, criada pelo grande artista Pablo Picasso, reflecte a dor e o sofrimento resultante do bombardeamento da cidade de Guernica, no decorrer da Guerra Civil em Espanha.
Vários elementos significativos reúnem-se numa pintura, pintada a óleo sobre a tela, para dar a conhecer os horrores e desespero que a guerra causa.
Escolhi esta imagem pois faz-me reflectir sobre a situação mundial, da rapidez como passamos da harmonia para a guerra e violência. Os desentendimentos entre os povos têm sido cada vez mais frequentes e intensos, a ambição de cada país e a luta progressiva na tentativa de mostrar a sua superioridade têm causado distúrbios nas populações, acabando por pagar os inocentes pelos erros dos pecadores.
Desde início é de notar a cor do quadro: o preto, que, para mim, simboliza a morte, escuridão, dor, sofrimento, medo, todos eles foram sentidos em Guernica, naquele dia. Os sentimentos que este quadro transmite, claramente, podem ser transportados para o presente, aliás, eu vejo esta pintura como uma visão do mundo e não tanto como a guerra civil, visto que disso eu sei pouco.
O que mais me chama a atenção é a mistura entre figuras humanas e animalescas, homens e animais reúnem-se num inferno de dor, demonstrando a nossa semelhança, pois por vezes pomos de parte a nossa capacidade de pensar e raciocinar e tornamo-nos nuns verdadeiros animais, que apenas competem entre si ou por alimento, ou pelo melhor local, ou mesmo porque a sua natureza assim o exige.
A nossa natureza, porém, leva-nos a agir como perfeitos egoístas, a passar por cima de outros só para alcançarmos aquilo que mais desejamos, não olhamos a meios para atingir os fins. É assustador ver a nossa sociedade a degradar-se cada vez mais, de dia para dia, sempre no sentido de valorizar e salvaguardar os interesses dos mais poderosos, sendo estes os que ficam para a história e são recordados pelos seus actos. O que, normalmente, ninguém sabe, é que por trás desses grandes actos está todo o trabalho e dedicação, a luta e o sofrimento daqueles que pouco têm e que, por isso, se sujeitam “às mãos” das classes mais altas. Esta mensagem remete-nos, novamente, para a pintura, onde vemos um guerreiro com a espada partida, que lutou até à morte pela sua pátria. Tal como ele, muitos lutadores morrem todos os dias, no entanto, não são recordados, pois não foram eles que venceram a guerra. Todos nós somos heróis das nossas vidas e todos nós devemos ser recordados por aquilo que fazemos. Por mais insignificante que pareça aos olhos de uns pode significar muito aos olhos de outros.
Vemos, no quadro, uma janela que, ao primeiro olhar, pode representar uma capacidade de fuga, mas é tão pequena que ninguém pode escapar por ela. É assim que eu me sinto neste mundo, com vontade de fugir, mas presa num beco sem saída.
Ana Novo 12ºC
Mundos Paralelos
Vivemos grande parte da nossa vida virados para nós mesmos, sem sequer nos darmos conta do que se passa à nossa volta.
Apesar de caricata, esta imagem tornou-se quase um símbolo de marca da nossa sociedade. A verdade é que hoje grande parte da população deste mundo, que se diz civilizado, ignora tudo aquilo que lhe seja alheio e não lhe traga benefícios. Mesmo vivendo numa sociedade aparentemente estável, a nível económico (Portugal), deparamo-nos, muitas vezes, com situações desesperantes, de verdadeira miséria, a verdade é que, por muito que essas imagens nos choquem, ao virar da esquina encontramos um amigo, por exemplo, e nunca mais nos lembramos daquela situação. Sabe-se hoje que 1 em cada 5 pessoas vive em condições de pobreza extrema, a cada 5 segundos que passa morre uma criança com fome, mas, ou lamentamos, contrapondo que a vida está difícil para todos, ou ficamos sensibilizados com a situação, e até queremos ajudar, mas é então que nos deparamos com um outro mundo, totalmente desconhecido, mas por vezes bastante próximo de nós. Voltamos então, para a metade que nos foi entregue pelos nossos pais que nos dá conforto, segurança e luxo. Temos medo de pisar o outro lado da fronteira, pois tememos perder a vida a que estamos habituados. A verdade é que, passando para o outro lado com boa intenção, na tentativa de tornar este dois mundos mais homogéneos e próximos, iremos encontrar algo que, dificilmente, encontraríamos no lado oposto, pois é dando que se recebe.
Edificámos um mundo perfeito e belo para todos, mas o mundo perfeito acaba por nascer e morrer dentro de nós, pois o maior cego é aquele que não quer ver.
José Ramião, 12ºC
sábado, 30 de maio de 2009
Woodstock 69
Estes foram os três dias em que a paz e o amor foram o prato do dia por excelência, nos Estados Unidos da América. Durante estes três dias o ambiente que se viveu foi totalmente esmagado pela paz, amor e boa música.
Um dos motivos que fez com que se juntasse uma massa humana de tal ordem foi, sem dúvida, o cartaz que o festival apresentava, que estava repleto de grandes nomes da música, especialmente do Rock e do Rock psicadélico, como Jefferson Airplane, Jimi Hendrix e Santana.
Para além dos grandes músicos, o facto de estes também pertencerem a movimentos pacíficos ou hippies, que tiveram grande crescente entre as décadas de 60 e 70, influenciou o aglomerado de massa humana assistida [???] neste festival.
Devido à minha idade e ao local de meu nascimento, apenas posso ver fotos ou cassetes para ter uma ideia do ambiente que foi vivido naquele que foi tudo menos um mero festival de música.
Desde os primórdios dos festivais de música até aos nossos dias, muitos conseguiram juntar tantos, ou até mesmo mais gente, do que em Woodstock em 1969, mas das coisas que a maior parte desses festivais não teve foi a mística e o ambiente que foi vivido em Woodstock, em 1969. Este foi o acontecimento que mudou uma geração e, com isso, tornou-se intemporal e recordado pelas gerações vindouras, tal como a minha.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Já agora...
Agradecem-se quantidades maciças de público.
terça-feira, 26 de maio de 2009
Compasso de espera...
Pois o Tempo é meu tirano e tenho em mãos os testes... a ver se lhes dou um adianto ;-)
Por isso, aguardem, que em breve vos deliciarei com novos episódios desta saga imagética... tenho mais 35 textos em linha de espera!
... até já :D
Mãe Natureza
Esta imagem chamou-me atenção pois, se nós cortarmos a imagem em duas partes, conseguiremos distinguir duas realidades, na parte superior iremos apreciar um bonita paisagem e na parte de baixo o que homem é capaz fazer.
Por isso, eu escolhi esta imagem, pois agrada-me a diferença entre ambas as partes, a natureza vs. a poluição. Quem vencerá? O homem, neste momento, não pensa nas suas origens, onde nasceu, agora só pensa onde vai nascer, deixando assim um futuro negro e obscuro para a natureza, sua mãe.
A maior parte das reservas naturais correm perigo neste momento e, para sua grande tristeza, quem traz estes pecados mortíferos é o seu próprio filho, aquele a quem cuidou, alimentou e deixou viver, sacrificando pedaços e pedaços dos seus corações para as cultivações e para a ganância do homem (o dinheiro).
Agora que só resta um coração à natureza (Amazónia), o homem decidiu proteger a sua mãe, mas o problema é que pode ser tarde de mais, o destino da natureza está nas nossas mãos, pode ser é que já tenha atingido o limite dos dedos.
Esta imagem reflecte bem a pura natureza, por isso cuidem da vossa mãe.
Por isso eu escolhi esta imagem, porque gosto bastante do ambiente, dos animais, ou seja, da Natureza, e sinto que devemos fazer algo mais por ela.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Nevoeiro...
Solidão? Isolamento. É o que vejo nesta imagem. Às vezes sabe bem! Para pormos as ideias no lugar e não magoar ninguém. Contudo, por vezes é excessivo, ficamos cegos de uma cegueira artificial. Não queremos ver o que no rodeia. Por medo, por desinteresse, diria até por estupidez. Fechamo-nos num mundo à parte. Mas por muito longe que o nosso mundo seja do mundo do qual queremos fugir, o nosso mundo nunca sairá do mundo de todos os outros. Perante tanto materialismo e futilidade, somos de vez em quando assaltados por uma aliciante vontade de passarmos despercebidos por entre o nevoeiro. Fugimos da cor. Procuramos o cinzento. Caminhamos à procura de mais, de algo novo. Importante é não esquecer que quanto mais se caminha numa direcção, mais longe vamos ficando do lugar de onde partimos. Do lugar que quisemos ver um bocadinho distante, mas que, à partida, sabemos que queremos que este seja a nossa chegada. Cada um tem o seu caminho descolorido que quer pintar com a sua própria cor. Sejamos pintores. Sejamos nós próprios. Sejamos egoístas para conseguirmos ser solidários. Mas, por favor, não sejamos egoístas ao ponto de esquecer o mar que nos acompanha em silêncio para não atrapalhar. Não esqueçamos a pessoa que nos deixa ir, mas nos mostra um sorriso quando voltamos. É essa pessoa que faz desaparecer o nevoeiro e a cegueira. Ensina a pintar mas não pinta por nós, não se impõe, apenas aconselha, não julga, é mestre querendo continuar a ser discípulo.
domingo, 24 de maio de 2009
"cadáver adiado que procria"
Apesar de o quadro, que René Magritte conspurcou de Génio com a obra que apresento, ser só um retrato renascentista, Madame Récamier por Jacques Louis David, sempre me remeteu, pelo divã talvez, ou pelo divã de certeza, a sessões de terapia e às memórias visuais que tenho dos tempos em que as tinha, não que o que aqui diga tenha o que quer que seja a ver com o que quer que nessas minhas sessões se tenha dito, passado ou feito, mas enfim, a obra…
A ideia pré-concebida, ou sustentada por (aquela palavra feia na qual meio mundo se enterra, enquanto que a outra metade em tudo que não ela se soterra para não ter que nela pensar) fé de que somos reparáveis, facilmente purgados dos defeitos que concebemos, ou dos que o mundo, com eventos bruscos e impetuosos, se nos confia nos inumados planos em que imaginamos o que de intangível temos, só não me é indiferente porque me ocorre uma certa meio-pena, meio-inveja sobre quem acredita nela.
Acho tão inumanamente redutor pensar -se é que é possível alterar o que de interior nos afecta, só porque remete a algo de que não se gostou (e deixo aqui espaço para o cruel, horrendo, castrador e dilacerante), ou influi ruidosamente com o nosso estrato e procedimento social, pelo simples motivo de existir uma centelha de após, logo diferente, em todos os grãos de areia de todas as cores e formatos que caem na ampulheta, fácil metáfora de existência.
Sobre o tema dos dois parágrafos que antecedem este, não me acho capaz de escrever mais o que quer que seja sem cair num discurso tautológico, razão pela qual volto à imagem que aqui me trouxe… Uma interpretação mais séria, e não menos sentimental e interior ao que já escrevi, é o ver no caixão, ou melhor, imaginar que Magritte vê, ao olhar o caixão, a sua mãe que viu pescada do rio Sambre, afluente da margem esquerda do rio Meuse, que se vê a braços com o Reno antes de chegar ao mar, apenas com a camisa de noite enovelando-lhe a cabeça e deixando um filho no segundo ano da adolescência inglesa enterrado numa memória cruel, horrenda, castradora e dilacerante que levou consigo durante 54 anos até que aos 68 um cancro lhe deu talvez o sossego que desde os 14 desejava.
Bruno Senra
Imagem
Poderia ter escolhido uma imagem muito harmoniosa como uma paisagem, um animal, ou possivelmente, uma imagem humorista, ou até uma fotografia de um momento da minha vida que quisesse partilhar convosco, mas nenhuma dessas imagens conseguiria fazer vibrar aquele tal nervo mais recatado ao qual a professora se referiu.
Admito que me senti um pouco impotente perante esta proposta, o facto deste tema ser tão livre dificultou-me a vida e nenhuma imagem em concreto conseguiu despertar em mim aquele bichinho, aquele que me faz satirizar e ter sempre algo a dizer.
Até que, de passagem num site, entre outras, encontrei esta imagem que figurava uma retrospectiva do ano 2008 em fotos.
Foi aí que o tal nervo deu sinais de vida e, desta forma, não poderia deixar passar em branco uma imagem como esta.
Na Fotografia é possível observar Fotógrafos a fotografarem um homem morto durante confrontos que, se supõe, estejam ligados às medidas ‘anti-violência’ em Reiger Park, África do Sul, em 20 de Maio de 2008.
Nesta tarde, a polícia Sul-Africana disparou balas de borracha sobre centenas de moradores de uma favela, na repressão contra a violência contra estrangeiros, que acabou por matar mais de 60 pessoas e ferindo outras centenas.
Francamente, não sei o que me choca mais, se o facto de saber que aquele cadáver resultou de um confronto entre a polícia e moradores estrangeiros numa favela por mera discriminação, se o facto de ver um cadáver sobre o chão, quase despido, todo sujo e abandonado, ou o facto de estarem vários fotógrafos à sua volta a fotografar, como se de um objecto se tratasse.
Julgar que o facto de o cadáver estar rodeado por fotógrafos é o que mais me aterroriza.
É simplesmente horrenda a forma como os meios de comunicação social aproveitam qualquer acontecimento para fazer notícia, perdendo assim, por várias vezes, a decência e a ética que deveria sempre acompanhar o seu trabalho.
Na imagem são visíveis, pelo menos, seis fotógrafos, e claro, cada um a tentar obter o melhor posicionamento visual para fotografar o cadáver de um homem baleado, abandonado no chão, sujo e quase despido, como se de um objecto se tratasse. É simplesmente inadmissível.
Não consigo compreender como se pode, assim, jogar com a dignidade de um homem morto.
Sinto ainda que o público, em grande parte das vezes, é o principal culpado no sucesso deste tipo de imagens, visto que as adquire.
Este é apenas um exemplo entre milhares, é apenas mais uma imagem onde a dignidade de um cadáver é rebaixada e utilizada para facturar.
Paula Fernandes 12ºF Nº14
Há quem se torne um lugar-comum numa escalada de dez meses, tal como há valores que em si mesmos valem por lugares-comuns, ainda que sejam esses valores o código genético das grandes obras, dos grandes actos. A foto que apresento é claramente portadora de algo como isso, que se torna quase corriqueiro em conversas de café, mas que, da esperança se tratando, se alastrou a todos (excepto aos Amish que disso não carecem, naturalmente). E foi pelos meandros de uma qualquer reflexão colectiva, e mais tarde pessoal, que decidi impreterivelmente redigir uma (breve!) dissertação que à condição humana se referisse e àquela questão do “pensar global, agir local” soar sempre bem a todos, mas ser mais música para os ouvidos do que para a cabeça.
O Yes, we can! mais do que um cliché transbordado dos ecrãs e das manchetes, foi um fiat luxà anomia da sociedade e todavia, os braços que ali vemos, como que supliciados em louvor de um qualquer jingle que erradique o subprime, não são mais do que o momento.
Elevemo-nos, pelo contrário, a nós próprios muito mais alto. Façamos sempre brilhar de forma grandiosa o nosso exemplo. (Friedrich Nietzsche)
O exceder o nosso Eu, em nosso proveito, gerará novas conjunturas no outro. Um Obama que exaltou o mundo, é um resultado de um processo brilhante que aqueles que ali o escutam deveriam procurar. Pudera o Futuro acometer a todos com a indissolúvel certeza da Morte, e, quem sabe, mais do que à flor da pele se imiscuísse a busca de um Ego melhor. Then, we could… a Arte, a Ciência, o Humanismo… Porque não haverá mais nada depois disso, depois do Conseguir e do Realizar, do fazer mais, fazer melhor, pensar além… Excepto o Nada, aquele que está antes e que se segue a tudo, à vida, que está presente em vida, em quem o merece, em quem o não supera, porque não o quer.
(ainda é Sábado, certo?)
Tic-Tac Tic-Tac
Não sei… Não sei por onde começar, nem sequer sei o que dizer. Tempo. Tempo que não temos. Tempo que temos a mais e desperdiçamos por falta de tempo. Tempo que nos prende e condiciona. E tempo que nos dá liberdade. Tempo que nos controla e nos faz controlar. Tempo que criamos já depois de ele existir. Tempo que tudo cura. Tempo destruidor. Só… tempo.
Vivemos o tempo como se fosse tudo… como se dele dependesse a nossa vida… e a verdade é que assim é. Mas porque nós assim o queremos. Desde os primórdios da Humanidade que o Homem sentiu necessidade de criar o tempo, mas desconhecia que o tempo já existia e que criá-lo de novo, e contá-lo, nos ia prender e condicionar. Agora que o tempo contado existe, olhámos à nossa volta e vemos pessoas a correr por falta de tempo, porque contam que estão atrasadas 5 minutos… e afinal que são 5 minutos senão 300 segundos? Pois, e o que é um segundo? Podia ser uma eternidade se assim quiséssemos, se não vivêssemos presos ao tempo, ansiosos a contá-lo… ou podia ser só um segundo.
Olho para mim e vejo que faço parte desta gente que se diverte a contar o tempo e a viver condicionada por ele. Mas, quando estou contigo deixo de o ser… passo a ser aquela que vê em cada hora a rapidez de um segundo e em cada segundo a eternidade de um amor. O tempo para nós não existe…
Bárbara Loureiro 12ºB nº. 5
sábado, 23 de maio de 2009
Carpe Vitam
“Carpe Diem”… É o que nos incita a primeira imagem que vemos. A imagem da Efémera, que, vivendo apenas 24 horas, as deve aproveitar como sendo o “último dia da sua vida” (engraçado, e não é que é mesmo?). Este estilo de vida, choca-me de certo modo.
Como podemos nós queres seguir esta “filosofia”? De viver hoje tudo, como se não houvesse amanhã? Além disso, poderemos nós dizer que vivemos isto ou aquilo, quando na realidade o que aconteceu foi que nós experimentámos e que nunca deu para “saborear” e “digerir”? Não, a meu ver, não. A meu ver, a nossa filosofia de vida deveria ser a proposta pela tartaruga: “Carpe Vitae” (Vive a vida).
Pelo facto de ter tantos anos pela frente, vive cada dia calma e vagarosamente e aproveitando para “viver” (no pleno sentido literal da palavra) cada momento, seja ele bom ou mau, triste ou alegre... É, aliás, este facto, de poder viver plenamente cada momento, que lhe permite dar um pleno sentido à vida. Isto é, só conseguimos compreender e valorizar completamente as coisas boas que a vida nos reserva se tivermos antes percorrido os caminhos do sofrimento, as ruas da amargura e as vielas do desespero.
É aqui que reside a maldição da Efémera e todos os que dizem ser como ela e aproveitam cada dia como o último: ao aproveitarem e rentabilizarem os seus dias ao máximo, não têm tempo de compreender esta dimensão da vida, enquanto a pacífica tartaruga a compreende na mais profunda dimensão. Porque, no primeiro caso, procuramos apenas o prazer momentâneo, enquanto, no segundo caso, procuramos a intensidade do momento.
Tal conclusão leva-me a possuir apenas um sentimento pelos adeptos do “Carpe Diem” assim como da Efémera, o sentimento de pena e pesar, pois nunca serão capazes de perceber a verdadeira dimensão da vida, enquanto por outro lado, a triste e solitária tartaruga, que todos deixa compadecidos, nos mostra como viver a vida: simplesmente vivendo…
Vitor Miranda 12ºB nº 27
Inspiração
Era um dia chuvoso, tal como muitos outros de Inverno, exceptuando ser Primavera, a estação mais radiosa e florida do ano. Nunca o céu ousara tanto como naquele dia, pelo que decidi ficar em casa, “não vale a pena sair com este temporal”, pensei para mim.
Era solitária, mas já estava adaptada, com o emprego dos meus pais, a cada seis meses era habitual a mudança. “Tens tudo de bom”, diziam-me. Verdade, até à altura tinha aprendido mais de dez línguas, tinha matemática, economia, anatomia, e qualquer outra disciplina exorbitante com os melhores professores, já havia visitado meio mundo e conhecido pessoas célebres, ídolos de inúmeros jovens da minha idade. Mas nada disso me interessava. Para quê, perguntava, para quê se não podia sonhar e manter a chama da esperança acesa?
Nesse dia saí de casa, não aguentava nem mais um dia lá fechada. Corri o mais que pude, para o mais longe que podia de todo o palco que era a minha vida, pena não ter nascido para ser actriz, dizia para mim!
Corri tanto que já nem a chuva me alcançava.
Subitamente, parei!
Sentei-me, ofegante, cansada, não podia fugir mais, estava no meu limite.
Olhei em redor até fixar num ponto, alguém… Tinha um olhar triste, distante, profundamente confuso mas, ao mesmo tempo, intensamente belo. Nunca na minha vida alguém me cativara tanto com um simples olhar.
Aproximei-me receosa, mas com o coração desesperadamente ansioso. Tentei conhecê-lo, mas havia algo nele que me impossibilitava de o fazer. Era distante, mas ao mesmo tempo sentia-o perto. Falámos durante horas, de tudo e de nada. Os dias foram passando, e com eles as semanas. À medida que o conhecia, ficava mais fascinada do que antes. Tudo nele brilhava (pelo menos para mim).
Desejei que o tempo parasse, que o momento não terminasse e que o adeus nunca tivesse de ser dito. Eu respirava, transpirava e irradiava felicidade. Tudo para mim era perfeito.
Seis meses passaram e chegou o dia em que os meus pais, mais uma vez, me propuseram mudança. “Propor? Isto é mais uma obrigação”. Contestei o mais que pude, mas nada era suficiente para exprimir o meu desespero. Nesse instante corri para ele, era a única pessoa que, no seu perfeito encanto, me iria acalmar.
Vivi o dia como se não houvesse outro (e não haveria, pelo menos com ele). Ri com ele o mais que pude, e pensando bem, era tudo o que havia para recordar. Em todo tempo que passámos juntos, nunca uma lágrima havia escorrido no meu rosto.
O dia terminou.
Despediu-se de mim, já sem o olhar triste que em tempos me cativou. Ainda me cativava, mas agora pelo seu brilho e vivacidade. Abracei-o com uma força que desconhecia, não o queria deixar ir assim, sem um adeus digno de tudo com que me havia presenteado.
Vi-o partir, calmo, como sempre havia sido… À medida que se afastava, eu sufocava. Cada passo que dava era como uma faca que se cravava no meu coração.
Nesse momento percebi o que irremediavelmente havia acontecido, eu estava “incondicionalmente apaixonada por ele” e de uma coisa eu tinha a certeza:
para onde quer que eu fosse, o meu coração permaneceria, para sempre, naquele olhar.
Beatriz, 12ºB
O Nosso Futuro
A decisão por uma das muitas opções que o ensino superior nos oferece é muito difícil. Quais os pontos que devemos ter como prioritários para a nossa escolha? A vocação? As saídas profissionais? O salário que poderemos vir a receber? O número de semestres? A nossa média? A cidade onde se situa a universidade? O mais acertado deveria ser um equilíbrio entre todos os pontos, o que, na minha opinião, não será muito fácil de obter.
Temos que ter consciência de que as escolhas que fizermos poderão significar uma profissão para toda a vida. E como podemos ter a certeza se queremos ou não ter aquele trabalho? Eu sei que temos sempre a hipótese de, um dia mais tarde, voltar à universidade e mudar de ramo profissional, contudo, nem todos têm capacidades para isso, tornando-se maus profissionais e infelizes na função que desempenham.
Tal como eu, muitos dos futuros universitários ainda não fizeram as suas escolhas, por isso digo que devemos ter cuidado com as nossas opções, devemos reflectir bem quando estivermos na altura de fazer as nossas candidaturas. Por isso escolhi esta imagem, para mostrar que, apesar de existir um horizonte, cada um de nós o pode ver de maneira diferente, fazendo-nos tomar diferentes decisões.
Infinito
Quando se olha assim para uma coisa que nos mexe tanto, dá vontade de, de alguma maneira, entrar na fotografia e percorrer aquele longo caminho, a pé ou de comboio ou de outra forma qualquer. Só queria era percorrê-lo.
Tiago Pereira, nº23, 12ºC
A fraude
Desde a fundação [?] da vida que acções fraudulentas ocorrem dia após dia. Escolhi esta imagem para representar este tema, pois as mãos podem representar a acção fraudulenta, e as pessoas correspondem ao envolvido na acção.
Este tema encaixa-se em todos os assuntos, desde a economia até à sociologia, daí a justificação da minha escolha. Um possível exemplo de fraude é o jogo televisivo norte-americano "split or steal", onde duas pessoas estão frente a frente e podem negociar o resultado final, acabando, por vezes, por se enganar um ao outro, ou seja, pode ser considerada uma fraude.
Podemos deduzir que a fraude nos rodeia, tal como as mãos vermelhas, esta pertinência [?] trata-se da ideia que pretendo transmitir.
Tiago Barbosa 12ºB
Pôr de variáveis
Tu podes ver um simples final do dia e, por vezes, até com tristeza e angústia, porque pensas que podias ter feito muitas mais compras, e ter comprado aquele lindo casaco que estava na montra daquela loja, mas logo dizes, não faz mal, compro amanhã, e deitas-te descansado. O outro pode pensar logo no que tem de fazer amanhã, no que vai caçar para comer e para alimentar a sua família, onde vai buscar água, o que vai fazer para sobreviver a mais um dia. Para ele, este fim é apenas mais um princípio de uma corrida de obstáculos que tu e eu vemos… Quanto a mim, o pôr-do-sol é o princípio do fim e um novo início. Um princípio do fim porque está prestes a acabar-se um dia, é mais um na nossa vida que se finda e ao qual não temos mais acesso, é o fim de uma página na nossa história de vida, mas, por outro lado, é um novo início, porque me transmite esperança e coragem para um novo dia - este já acabou, mas tenho outro amanhã, se não consegui hoje, tenho o dia de amanhã. Nesta imagem, as pegadas que se salientam da neve indicam, para mim, o caminho, que é seguir em frente, porque não é aqui que tudo vai terminar.
A maneira como encaramos a mesma imagem difere sempre de pessoa para pessoa, de contexto para contexto, está dependente da história de vida de cada um. Uns descrevem o pôr-do-sol como lindo, maravilhoso, mágico, mas com tristeza por este indicar o fim, outros nem sequer pensam nele e passam completamente ao seu lado. E ainda temos aqueles que ficam felizes por já estar a terminar um dia, porque amanhã vem outro, onde há muito para fazer, de forma a aproveitá-lo.
Não podemos dizer que, tal como eu vejo o pôr-do-sol, tu também o tens de ver.
Letícia Fortes 12ºC Nº14
"La Movida" de Lloret de Mar
Era uma vez...
Ele chama-se Pantufa, ela chama-se Estrela e esta é a história de ambos, se de amor, talvez no final saibamos, ou talvez não. E se ainda apenas uma linha leu e já considera o autor da mesma ligeiramente descompensado, e o tema da história ridículo, talvez não esteja de todo longe da verdade.
De facto, ele é preto e branco, uma fofa bola redonda de um longo pêlo que faz a delícia dos ásperos dedos calvos que ousem sobre o mesmo deslizar. Corpo robusto, imponente estrutura alargada por uma induzida esterilidade, se muitos assusta num primeiro vislumbre, todos enternece quando olhando mais atentamente lhe apreciam a cabecinha suspensa como uma pena que ondula para cada um dos lados, iluminada pelo meigo brilho dos vivos olhos cor de mel, que parecem implorar por uma mão (ou perna, pé…) acariciadora. E se se atrever a fazê-lo, o num simples toque da ponta do dedo basta para que aquele enorme castelo de pêlo se desmorone e rebole no chão para um lado e para o outro, com as patinhas dobradas e a cauda em movimento, qual espanador dançante, ao som dum ronronar desesperado por mimo. Os longos bigodes arqueados parecem aguçadas lanças que partem dum triângulo da mesma cor de neve estampado na fronte, brancura apenas tingida pela “mosca” preta que se destaca do lado esquerdo do queixo.
Por seu lado, ela cobre-se de um manto de seda cinza que lhe cobre o corpo branco. As meias também brancas que traz calçadas nunca se sujam, curioso caso (nunca reparei que as trocasse, talvez ande distraída). E envolta numa elegância real, esta pequenina princesa passeia em harmónica coordenação todo o seu corpo, delicadas patinhas que parecem nem tocar o chão, como se todo o corpo estivesse suspenso pelo hipnotizante ondular da sua fina cauda. E se a sua elegante serenidade for estímulo para uma tentativa de aproximação, o melhor é ter cuidado, repensar a estratégia, ponderar a abordagem, porque esta princesinha não mostrará toda a sua eterna meiguice por ser essa a vontade do curioso, mas apenas por ser essa a sua vontade, independentemente da do curioso. E não faltarão as ágeis garras e afiados dentes que sua majestade não receará usar sempre que a real vontade não for respeitada.
E aqui estão ambos, ele abraçando-a carinhosamente, ela deixando-se abraçar com calma satisfação. Assim passam o seu tempo, um no outro, de tal forma unidos que, não fossem as visíveis diferenças de aspecto, seriam indistinguíveis fim e princípio de um e de outro, tal é a complementaridade. Quando ela acorda com o pesado gemer do sono dele, logo carícias tratam de compensar o sucedido, com as patas dele envolvendo-a e segurando-lhe o pescocinho, onde deposita doces beijos ternos. Ela adormece nos braços dele e tudo fica como antes, numa paz celestial que até os anjos, se existem, invejam. No passado ficaram seis filhos que a consanguinidade destes dois irmãos não impediu que nascessem de uma beleza rara, quase divina.
Se é amor ou qualquer espécie de carinho o que os une, não sei. Se de raciocínio carecem, e mesmo puramente animais continuam ele e ela, juntos, não por ímpeto sexual dada a incapacidade dele, mas por puro bem-estar e prazer afável de se sentirem um perto do outro, protegidos, acariciados, sem que de isso se apercebam ou sequer venham a ter consciência. Mas que é então o amor, senão uma entrega total em que dois se tornam um, sem que importe a consciência disso, mas apenas o bem-estar, a segurança sentida pelo encontro de ambos? De facto, não importa saber se é amor, importa que se ame e que se sinta isso, sem a necessidade de o saber explicar, mas reconhecendo-o sempre pela autenticidade da sua natureza…
E amem-se ou não estes dois, esta é a sua história. Este de preto e branco é o Pantufa, esta de cinzento é a Estrela. Amantes ou não, que importa? Pudessem todos os amantes permanecer como eles, um nos braços do outro, sem o tempo, sem o mundo, sem nada, com tudo… um com o outro, que é o bastante para que as almas sobrevivam.
Catarina Gonçalves, 12ºC
Refúgio...
Sempre que olho para esta imagem, ela transmite-me paz, o azul do mar reflecte a pureza, o verde mostra o como parece respirável, o como parece saudável este local.
Sempre que estou triste penso no como gostaria nesse momento de estar lá, só com as pessoas de quem gosto e que gostam de mim, divertindo-me, estando longe da realidade de todos os problemas.
Esta imagem é como se fosse o meu refúgio, o meu porto de abrigo, perante ela eu sinto-me em paz, fico aliviado de todo o stress por momentos, que apesar de curtos ajudam-me a acalmar, e quando chego à realidade é mais fácil ter a capacidade de resolver os meus problemas com a atenção e concentração que necessitam.
Posso dizer que esta imagem não me faz bem, pois leva-me para longe da realidade, mas é naquele local que gostaria de estar, porque ao pensar que lá estou faz-me sentir melhor, faz-me sentir feliz.
Esta é das imagens que mais significado tem para mim, porque quando sonho com um mundo melhor, sonho com esta imagem.
Miguel Pinheiro nº17 12ºB
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Sempre verei!
Ver, sei que vejo! Vejo o que quero e o que não quero! Vejo o que conheço e o que vou conhecer. Sempre verei!
Tenho-te como sempre tive mãos, pernas ou boca, ouvir nunca te ouvi, sentir nunca te senti, apenas me fizeste sentir. Surge-me a dor, a dor que de ti vai directamente encobrir a minha alma como uma nébula densa e negra que rege o meu pensamento. Fazes-me pensar se sim, se não, se talvez. Desfocas-te com a água que derramas e salgas o gosto quando assim o fazes. Desfocada, fazes-me pensar se valerá a pena me atormentar com o que, por mais que queira, já foi sentido.
Como cresci contigo! Aprendi o que a vida é, ou o que da vida me quiseste mostrar até hoje. Ainda há pouco via baloiçar, correr, via de quem fugia na “caçadinha”, quem procurava nas “escondidinhas”. E agora? Agora, além daqueles que, como tu, alimentam a minha vontade de viver, que me fazem ver e crescer, que me apontam os defeitos e valorizam os valores, vejo a tristeza, o egoísmo, a morte, a fome e a guerra.
Um turbilhão de sentimentos, de emoções, de reacções que, culminadas, fazem com que, a cada dia, experiências novas carregue a meus ombros.
Curioso estou de chegar ao tempo em que já tudo me deste a viver, que será impossível de contar todos os sorrisos, afectos, todas as lágrimas e, até mesmo, as mortes que graças a ti vivenciei. Mas... mas, e quando chegar o tempo em que só me faltará ver o que por ti não poderei ver? Por vermes e insectos serás devorado e decomposto, como qualquer folha que no Outono cai, por já não ter significado para o ser a quem pertenceu. Se não vais ser tu a desvendar esse novo caminho, o que será? Sem ti como poderei eu sentir o que me faltará sentir? Não irei sentir? Tudo o que vivi e tudo que me deste a viver simplesmente evaporará? Oh, como por pensar na tua ausência, mais distante fico de mim mesmo. Acho ridículo seres o primeiro a ser corroído sabendo que és mais importante para a minha existência do que qualquer osso ou cabelo que permanece intacto por milhares de anos. Sei que, mesmo não existindo, permanecerás eternamente em mim.
Tornaste-te a dádiva que alegra e apodrece meu ser. Se penso depressivamente, foste tu que me sujeitaste há tristeza, se penso alegremente, foste quem me deu a razão de sorrir interiormente. E é por esta dicotomia que orgulhosamente afirmo: SOU ESCRAVO DE TI, OLHAR!
Luis Loureiro
Nº13 Turma B