terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Da Imagem - "Outra Vez" - por Rafaela Oliveira





Leitura da Imagem:


    Na imagem, como personagem principal, temos Emma Holten, uma ativista dinamarquesa que respondeu à chantagem do seu ex-namorado que, por vingança, publicou e espalhou fotos da mesma na internet.

Tendo sido vítima de um impiedoso cyberbulling pela "brincadeira" do namorado, Emma revoltou-se e decidiu "sair por cima". Deixou-se, então, fotografar e partilhou as fotos, desta vez por sua livre vontade. É de salientar que a foto apresenta nudez, numa desmistificação do corpo e numa luta contra a coisificação da mulher.

Esta é uma das fotografias por ela publicadas, onde podemos ver Emma, como qualquer outra mulher ou ser humano, a lavar os dentes. Apresenta-se nua, de cabelo preso e com pasta dos dentes a transbordar da boca. O espelho está sujo, há toalhas penduradas na parede e um rolo de papel no lavatório. Esta é, muito provavelmente, a rotina de qualquer uma, o quotidiano quase involuntário de qualquer um, que a ativista soube explorar muito bem, com a naturalidade que a foto transmite.
Em suma, podemos afirmar que Emma Holten quis ser a voz de todas as mulheres que não se sentem bem com o seu corpo e de todos os que sofrem ou sofreram de provocações ou assédios sexuais, esclarecendo que "quer ser vista como um objeto humano, e não como objeto sexual".


Recriação Textual: 


"Outra vez"


É injusto que ganhem os hipócritas. Não concordo com a justiça do poder do diálogo. Merda. Outra vez que desaparece e volta pela passadeira vermelha. Merda outra vez.
 Consigo olhar a decadência nos olhos e julgava-me tão segura, tão sólida. Acho que é assim mesmo que funciona: salva-se quem melhor fica na fotografia.
E eu que sempre escrevi a lápis por cautela? E todas as vezes que rasurei só com um traço, como que reprovando o rancor? No final da linha isso não conta. No final da página não tem importância. No final do livro... Ai! No final do livro ninguém se lembra. E é uma constante intacta e inata.

Comecei a escrever a caneta, tinta azul, e sabe bem melhor. Não me arrependo quando troco os acentos ou não faço o parágrafo onde devia. Escrevo só para mim e eu perdoo-me. Mas não escrevo por cima de linhas, é chato. Desenho. Ou quase.

É assim que tento levar a vida, com ou sem rascunhos, em folhas brancas. E que o vento leve estas folhas e não seja agente de erosão. E amanhã mudo a página. Outra vez.




Rafaela Oliveira, 12º D

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