Que venha o
intervalo!
Maldita epidemia! Já tomou a minha avó que não me deixa mudar de
canal quando a visito.
Chega deste
emarear no sofá, na cozinha, no quarto, nos corredores e no WC, onde despejo
todas as enfermidades do enjoo, que se manteve, embora atenuado pela
inexistência dos movimentos drásticos e piruetas das câmaras que incentivam a
loucura dos telespectadores.
Chega da
animação forçada! Chega de lançar as câmaras ao ar para disparar os pacemakers! Chega de tardes perdidas!
Chega do
despertar de injúrias e invectivas silenciosas pela rotina saturante! Não de
ver a avó, nem de não poder ver o filme que não passa em nenhum dos quatro, mas
do formato baseado em guiões exaustivamente repetidos com ligeira e única
alteração do nome que surge no extremo esquerdo da televisão (que nem nisso é
assim diferente).
Até os que
escapam à epidemia se perdem pelo que sobra! Um vício mais frequente entre os
quarentões - esse do futebol - que, sem possibilidade de beber as suas cervejas
na tasca da esquina, as bebem no sofá a alimentar a gravidez já avançada.
Mas se há algo
realmente desconcertante é o João Baião e sua laia.
O choque abala a
velhota devota de João quando troca do “Aqui Portugal” para “Portugal em festa”.
Tal prostituta muda de parceiro, Baião muda de canal (mas tudo isto só se
afirmou com Jorge Gabriel a vincular que não tinha morrido Baião). Mais idosas
se juntam ao manifesto, mas os seus corações já só batem, ou para morrer de
desgosto, ou para premir o botão da SIC e ver João deixar as lágrimas de
despedida, para festejar a nova canção de abertura, por ele interpretada.
Vieram os dotes de cantor, as velhotas da rtp1 (que escaparam ao desgosto) e
junto a carteira de Baião sedenta de telefonemas para os 760’s.
Tempos antes
fora embora a Merche Romero, tão jeitosa a moça! Mas chegou Rita Ferro
Rodrigues! Tão bem disposta e com tão bela voz de perua com o cio, que a cada
palavra cresce uma vontade insaciável de cortar a luz e dizer à avó que foi trovoada.
760 103 103,
ESTE É O NUMERO CERTO DAS CONTAS QUE VOCÊ FEZ!
“Portugal em
Festa”, “Somos Portugal” e “Aqui Portugal”! Uau! Mas que nomes originais. De
tão pouca semelhança não sei qual terá mais audiências. Será o do Baião? Ou
será aquele onde a querida (e recentemente mais gorda) Ana Malhoa canta? Ou o
outro Portugal qualquer coisa com a Liliane Marise e suas pancadinhas de amor?
Ou o zé Amaro? Ou a eloquente Cláudisabel, que não deve ter passado a 4º
classe? Ou mesmo a Susy, que desde que passou pelo festival da canção originou uma
febre equiparável à da Malhoa, já há uns anos imbatível. O truque são certamente
as mamas. Cantam e dançam para um microfone desligado e sobem a tensão arterial
dos velhos que nunca viram algo assim na vida! De tanto impacto que causam, as
velhotas, já esquecidas do valores morais da sociedade, incentivam as netas a
seguir os passos das estrelas de tv(i), para arrasarem as pernas e as mamas ao
descoberto. Mas estas “estrelas” não se esquecem do oportunismo! Depois da
lapdance feita, há que publicitar as outras que não passam na televisão! E
essas sim enchem!
INTERVALO!
Quando os
velhotes se fartarem deste nudismo atenuado, alguém terá de fundar a
pornografia musical! Dar chapéus azuis à plateia e carradas de dinheiro em
troca da chamada à escondida do marido, já defunto por terem saído as
bailarinas, não será mais suficiente para o pacemaker recarregar.
Que venha o
intervalo!
O que mais espanta são os nomes dos programas! Belos, poéticos, isentos de qualquer incoerência, numa combinação complexa de vogais e consoantes que só pode ter envolvido uma sede de sinonímia (mais cópia que sinonímia), apenas saciável pelo dicionário da língua portuguesa. Tudo para lembrar os mais esquecidos que se trata de Portugal e não de um filme erótico fragmentado com 760’s e beijinhos para familiares.
Basta de
imitação!
A febre patriótica começou com “Portugal no coração”! Foi na verdade o primeiro a ser original a ponto de colocar Portugal no título. Foi também o único que acolheu Malato, tal como o “em festa” acolheu Baião. Mas Malato, incapacitado por múltiplas overdoses de piadas adiposas, foi afastado para programas onde a cultura geral é impulsionada, por razões que não se podem compreender.
Cesse esta corrente de lepidópteros! Cesse o desalento e esmorecimento pelo intelecto! Basta de servitude às maiorias! Já chega de atirar os “restos” para os programas com algum valor mínimo!
É triste
imaginar a geração que virá. Viciados em programas de sábado à tarde a
manifestar por não passarem todos os dias. E os velhotes dos tempos futuros
impossibilitados de ver tv pela epidemia que irá de mal a pior.
760 20 60 20! 760
20 60 20!
BASTA! (enquanto
é tempo)
Alívio! Chegou o
intervalo! 30 segundos de felicidade, que é muita, mas não tanta, porque já se foram
os 30.
Há concerto! Que
beleza. Agora temos Cátia Palhinha! Esta reconheço e não esqueço! O
característico cantar esganiçado a nada se equipara. Mas nem de tudo podemos
dizer mal… A adição do ritmo pela concertina, pela primeira vez, ajuda a
atenuar o sofrimento dos tímpanos e a cada minuto de “música”, aumenta a
esperança média de vida dos portugueses. No entanto, que se prepare a Palhinha!
Se continuar assim, futuramente terá exércitos de idosos “a correr sempre
atrás” dela, para “pôr a mão na bilha” dela.
Enfim. Pobres
coitados.
Basta de pimba
português! Deus salve os jovens que ambicionam envergar neste ramo para se
tornarem estrelas de revista.
INTERVALO!
Baião faz pausa
para cumprimentar as velhotas, de tal modo viciadas no formato que já não lhes
chega o sofá. “Beijinhos prá Suíça, Beijinhos prá mãe, pai, netinha, bisnetinha
Vanessa e pra você que assiste em casa” e manda beijinho de volta. Passa a
outra velhota e lá voltam os beijinhos prá Suíça, pó netinho na Alemanha e prá
filhota na França, que, sem dúvida alguma, estará a ver o programa com tanta
atenção, que, não tarda muito, se juntará à festa. Tudo, claro, para ver Ágata,
tocada por Deus e chamada a partilhar o seu dom com os fãs. De tanto contacto
com Deus não sei como não se encheu de estigmas!
760 200 303!
SE QUER MESMO GANHAR, LIGUE ANTES 3!
Chega de falsos
diretos com o intendente da terra!
Chega de
discursos do presidente da câmara! Promessas de umas quantas obras e umas
reduções nas despesas, mas no fim nada muda... As velhas e as novas que velhas
precoces são, ficam encantadas com tanto engodo!
De seguida vemos
o artesanato do costume. Se não é galos, é galinhas. Se não é galinhas, é
chouriços e alheiras de Mirandela. Se nem isso é, serão uns pães de ló por
cozinhar, uns ovos moles por estrelar, umas queijadinhas, um paninho de viana
ou o diabo a quatro.
Entrevistas,
gastronomia local, a feirinha que tanta gente atrai… Já chega! Por amor de
Deus. A epidemia pode não ter tocado aos quatro, mas três já foram e o que
sobra não é menos saturante.
Que venha
trovoada!
Que venha o intervalo!
Que venham ambos de uma vez, para quando o
intervalo chegar, não mais voltar a acabar!
José Sendim, 12º C
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