Anonimato
Leitura da imagem:
Um comboio. Uma cidade. Uma imagem. Uma
imagem meramente ilustrativa, mas que nos diz
tanto, que nos conta uma história. História essa que se conjuga no intenso jogo
de cores que emanam do sol, lentamente a desvanecer no horizonte, e nas cores
frias e distantes que se verificam nas sombras, quase que numa perfeita
harmonia com o meio. A pura representação da beleza simplista de uma viagem de
comboio comum para muitos ou até presente no quotidiano de outros tantos. Na
imagem é de notar o facto de cada pessoa estar “ausente” do que a rodeia, quase
que a viver a sua própria realidade. Uma mulher a ler,
pacificamente, enquanto a luz trespassa pela
janela como se nada fosse acontecer, a simples e reconfortante sucessão de
rotinas que tão bem carateriza este meio de transporte.
Criação textual a partir da imagem:
O comboio não é apenas uma forma
de nos dirigirmos de um local para outro, é muito mais que isso. É o sítio onde
estranhos se cruzam e histórias se desenvolvem, é o derradeiro encontro de
anónimos e o anonimato fascina-me. Saber que existo por existir simplesmente,
sem conversas, toques, sem nada. Sentar-me num lugar vazio, estar comigo
próprio por uns momentos e aperceber-me da imensidão de possibilidades que
existem nesse mesmo comboio é fantástico. Será que vou encontrar dinheiro no
chão? Será que há alguém neste comboio que, na
verdade, é um alien, mas se disfarça de humano para se integrar na sociedade e
nos estudar secretamente? Tolices, certamente, mas são este tipo de tolices que
me fascinam. A incapacidade de descodificar aquilo que pode ou não acontecer ou
até mesmo aquilo que está a acontecer é incrivelmente frustrante e
misteriosamente satisfatório.
Talvez seja eu que imagino demasiado.
Não gosto de estar sozinho e, por isso, crio cenários onde me distancio do nada
que sou e do tudo que todos dizem que devo ser. Cenários onde a
realidade se torna bem mais aprazível do que aquilo que verdadeiramente é. Onde
as pessoas não se matam umas às outras por amigos imaginários ou para ver quem é que tem mais razão, dinheiro ou poder. Onde não há bullshit
nehuma e as coisas são o que são sem satisfações a terceiros. E gosto assim.
Gosto das minhas realidades. Gosto de ser nada num mundo onde todos querem ser
tudo.
Carlos
Costa, 12º G
Sem comentários:
Enviar um comentário