domingo, 18 de janeiro de 2015

Da imagem - Anonimato - por Carlos Costa







Anonimato


Leitura da imagem:
 
Um comboio. Uma cidade. Uma imagem. Uma imagem meramente ilustrativa, mas que nos diz tanto, que nos conta uma história. História essa que se conjuga no intenso jogo de cores que emanam do sol, lentamente a desvanecer no horizonte, e nas cores frias e distantes que se verificam nas sombras, quase que numa perfeita harmonia com o meio. A pura representação da beleza simplista de uma viagem de comboio comum para muitos ou até presente no quotidiano de outros tantos. Na imagem é de notar o facto de cada pessoa estar “ausente” do que a rodeia, quase que a viver a sua própria realidade. Uma mulher a ler, pacificamente, enquanto a luz trespassa pela janela como se nada fosse acontecer, a simples e reconfortante sucessão de rotinas que tão bem carateriza este meio de transporte.



Criação textual a partir da imagem:
 
 O comboio não é apenas uma forma de nos dirigirmos de um local para outro, é muito mais que isso. É o sítio onde estranhos se cruzam e histórias se desenvolvem, é o derradeiro encontro de anónimos e o anonimato fascina-me. Saber que existo por existir simplesmente, sem conversas, toques, sem nada. Sentar-me num lugar vazio, estar comigo próprio por uns momentos e aperceber-me da imensidão de possibilidades que existem nesse mesmo comboio é fantástico. Será que vou encontrar dinheiro no chão? Será que há alguém neste comboio que, na verdade, é um alien, mas se disfarça de humano para se integrar na sociedade e nos estudar secretamente? Tolices, certamente, mas são este tipo de tolices que me fascinam. A incapacidade de descodificar aquilo que pode ou não acontecer ou até mesmo aquilo que está a acontecer é incrivelmente frustrante e misteriosamente satisfatório.
Talvez seja eu que imagino demasiado. Não gosto de estar sozinho e, por isso, crio cenários onde me distancio do nada que sou e do tudo que todos dizem que devo ser. Cenários onde a realidade se torna bem mais aprazível do que aquilo que verdadeiramente é. Onde as pessoas não se matam umas às outras por amigos imaginários  ou para ver quem é que tem mais razão, dinheiro ou poder. Onde não há bullshit nehuma e as coisas são o que são sem satisfações a terceiros. E gosto assim. Gosto das minhas realidades. Gosto de ser nada num mundo onde todos querem ser tudo.


Carlos Costa, 12º G

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