quinta-feira, 4 de junho de 2009

Sem Abrigo



Porque é que vagueio
Sozinho
Pelas ruas
Despidas e nuas
Cruas
Onde não encontro aconchego
Onde não há sossego
Onde apenas tenho as valetas
E as paredes
E as pedras da calçada
Onde durmo
Esperando por um novo rumo
Mas não encontro
Não consigo
Não aguento
É esta dor
Que só me transmite sofrimento
E caio no desalento
Tento, tento, tento
Mas não há esperança

Um dia sonhei
Que ainda era uma criança
E brincava
Gritava
Como qualquer criança grita
A brincar no parque
Quando o baloiço se agita
Vendo pessoas
E aquele cão
Que passava todos os dias
Em frente à estação
Era feliz com uma casa
Família e amor
Mas isto não é verdade
O que me resta é dor
Rancor
De ter sido abandonado
Largado
Nesta rua fria e suja
Onde não consigo mais
Encontrar uma fuga
Porque já ninguém me quer
E isto é que fere
Perfura-me a alma

Agora estou sozinho
Sem um tostão na palma
E é tudo tão cruel
E insensível
As pessoas olham-me
Como se fosse invisível
Passam, andam a minha volta
E não fazem nada
Só conseguem dizer me
“Vai para aquela escada
É mais abrigada”
Mas tenho fome
Fome de algo para comer
Para amar e preencher
Fome de um abraço
Que me conforte este cansaço
Que torne grande
O que é escasso…

Já não sou criança
Nunca o fui
Nem o serei
Nunca brinquei
Sou um ser humano
Que luta apenas
Pela sobrevivência
E é esta carência
Que me tornou adulto
Já sonhei em ir para escola
Tornar-me mais culto
Mas não tive a oportunidade
O que me resta é a caridade
Daqueles que não conseguem
Fugir à realidade




Ana Lara, 12ºB

3 comentários:

Fátima Inácio Gomes disse...

Estou sem palavras, Lara.
Belíssimo,íssimo, íssimo.
:)

Lara disse...

Obrigado professora :) fico mesmo contente que uma pessoa com tanta cultura literária aprecie "pequenos textos" dos alunos malandros que nas aulas só brincam e nem sempre tiram boas notas :P
hahahha
umas boas férias para si e para todos aqueles que gostam de escrever ;)

Fátima Inácio Gomes disse...

Mas eu gosto dos alunos malandros, Lara ;-)

E não me hei-de esquecer, nós as duas a corrermos naquele salão em Mafra, para eu te mostrar o "tromp'oeil" do tecto e tu a dizeres EU VI!!! EU VI ele a mexer-se!!! ahahahah
E a guia, incrédula, a dizer... mas ela é pior que os alunos!... ahahahah
Liiindo! :D