quinta-feira, 4 de junho de 2009

Extremos da Vida



Lembras-te meu amor? Nesse dia, tudo nos fugia. Fugiam-nos as palavras, as belas, doces e sensuais palavras guardadas durante tanto tempo. Fugiam-nos as palavras e ficámos ali, frente a frente, inesperadamente nus e vazios, sem elas. Lembras-te quando, finalmente, nos questionámos: Será que é para sempre? Será sequer que ele existe? Ou será que é esse um sentimento meramente ilusório e nunca o sentimos verdadeiramente?
Não é de evidências, mas de intocáveis, que se faz essa fugaz matéria a que chamamos amor. Faz-se de uma substância estranha, mutante e imprevisível, apenas concretizada na surpresa que, de repente, nos devolve o espelho: um corpo que desconhecíamos, um olhar perplexo. Faz-se de um súbito sobressalto que nos invade profundamente, um imperioso capricho da pele, um definitivo desassossego. Faz-se de um gesto indomável, insensível e impotente. Faz-se da essência dos rios, correndo em curso livre até se precipitarem num mar que nunca viram, mas sabem ser o seu único destino. E faz-se da serenidade dos lagos. Faz-se da beleza terrível de um incêndio, do abismo de um tornado, do mortífero poder de um raio. Faz-se de clarividência e de cegueira, de lucidez e de loucura. Faz-se de contentamento e de angústia. Faz-se de pudor e de sensualidade. Faz-se do mais magnífico festim e da mais insuportável solidão. Faz-se de glória e de miséria, de riso e de choro, de cobardia e de audácia, de música e de silêncio, de luz e de sombra. Faz-se de guerra e de paz. De vida e de morte.
Afinal o que se entende por amor? É o tudo. É o nada. Ele é o único que pode trazer-nos a fortuna da vida, mas ele é também o único que pode tirar-nos tudo isso e deixar-nos no mais profundo desalento. Ele existe, e é o tudo e o nada.
Hoje sei que me amas e sinto-o, eu sinto-o. Sim, ele existe.



Ângela Gandra, 12ºB

5 comentários:

Fátima Inácio Gomes disse...

Fugiam-nos as palavras e ficámos ali, frente a frente, inesperadamente nus e vazios, sem elas."... tão lindo, Ângela.

É um texto maravilhoso. Nunca vislumbrei em ti essa maturidade...

Anónimo disse...

Inicio sublime :)))

como a professora disse "tão lindo"

Parabêns, bom trabalho :)

Bézitah disse...

Esqueci de assinar, :)

Eva

Fátima Inácio Gomes disse...

Lamentavelmente, as palavras não são tuas, Ângela :(
Um dia, aprenderás a sentir assim...

Vamos dar o seu a seu dono.
http://portadovento.blogs.sapo.pt/tag/magritte

Não posso é deixar de te agradecer a descoberta desta Ana Vidal, que escreve como quem faz das palavras o ar que respira.

Rafa disse...

Belo texto angela, gostei muito ;)