terça-feira, 6 de março de 2012

REcriar



Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior.

Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural como o levantar-se o vento...

                                 Alberto Caeiro
 
 
 
 

     O tema de que vou falar é o divórcio. Não preciso de frases ou pensamentos, nem vídeos ou imagens para ter a minha ideia sobre ele. Para alguns, quando se fala em divórcio, pensa-se sempre numa coisa péssima (o rompimento legal e definitivo do vínculo do casamento civil ), talvez seja uma maneira de o descrever, mas, para mim, o divórcio é muito mais do que isso.
     Recentemente os meus pais tiveram um encontro com esse tal senhor, o divórcio, o que a maioria associa ao início de uma guerra familiar e pessoal, talvez devido a todas as histórias que ouvimos acerca da luta pela custódia dos filhos, entre outras. Na verdade, não é assim tão difícil, ao contrário do que a gente pensa (inclusive eu, desde pouco tempo ), mas também não é fácil, porque, de certa maneira, custa acreditar que os nossos pais, sim aqueles que nos trouxeram à vida, não mais irão mostrar esse afeto um pelo outro. De certa forma é triste ver que nunca mais poderemos estar os três em família, felizes, e desfrutar de tudo de bom que tem. Talvez seja isso a melhor coisa que perdemos, talvez sinta que parte de mim se perdeu e que nunca mais será encontrada, a felicidade interior, aquela que realmente importa... se alguém a vir, talvez ma possa dar? Talvez seja por culpa deste senhor que parece que tudo tem corrido mal, ou talvez sou eu, que desperdiço as oportunidades que tenho para a mudar a minha felicidade e não tenho coragem de as aproveitar. Se calhar é por esse motivo que tenho tido tão fracos desempenhos, tanto a nível escolar como pessoal, ou se calhar sou eu que, despropositadamente, utilizo o divórcio como desculpa para tudo que está a acontecer.
   Tudo aquilo que sou, eu quero dar, e mesmo que não o demonstre, isso não significa que não o queira mostrar. Eu quero me poder abrir ao mundo, mas, talvez, seja demasiado cobarde para o fazer, como se ao dizer tudo aquilo que sinto me pusesse nu, desprotegido de tudo e de todos, e talvez seja por essa razão que não o faça, ou estou novamente a arranjar desculpas para não o fazer.
    Mas talvez nem tudo seja mau no divórcio, podemos perder várias coisas, mas talvez seja o destino que assim o queira, ou talvez as ações das pessoas é que têm uma certa causa. Talvez no divórcio esteja uma janela aberta, uma oportunidade inteiramente à minha disposição, sem que ninguém a possa agarrar, exceto eu. Talvez nessa oportunidade esteja um futuro de uma vida melhor, mais saudável, não no sentido físico, mas sim no sentido pessoal, que me possa fazer uma pessoa melhor, encontrar a minha felicidade e contribuir para a felicidade dos outros.



Rafael

 

2 comentários:

Mayara Rodrigues disse...

A vida é mesmo assim, rafa, cheia de altos e baixos (por vezes parecem mais baixos). Mas de tudo o que passamos, seja de bom ou de mau, podemos tirar lições e prender algo. Procura fazer isso. E não te esqueças que os teus amigos estão contigo para tudo, podes contar connosco, ou pelo menos comigo.
Gostei muito das repetições do talvez. (:

Fátima Inácio Gomes disse...

Como a Mayara apontou, foi bem conseguido o efeito estilístico da repetição do "talvez" (mas, se repares, eu realcei-o com a pontuação).

De resto... "Talvez nessa oportunidade esteja um futuro de uma vida melhor, mais saudável, não no sentido físico, mas sim no sentido pessoal, que me possa fazer uma pessoa melhor, encontrar a minha felicidade e contribuir para a felicidade dos outros."... é este o espírito. Nem mais.