domingo, 4 de março de 2012

REcriar


“Nunca em toda a sua vida sentira uma ânsia assim. Queria que Mikael lhe batesse à porta e... e o quê? A levantasse do chão, a apertasse contra o peito? A levasse apaixonadamente para o quarto e lhe arranchasse as roupas? Não, na verdade só queria a companhia dele. Queria ouvi-lo dizer que gostava dela tal como era. Que ela era alguém especial no seu mundo e na sua vida. Queria que ele tivesse um gesto de amor, não apenas de amizade ou de camaradagem. Estou a flipar, pensou.”

Excerto de Os homens que odeiam as mulheres de Stieg Larsson


Abraça-me, beija-me, segura-me nos teus braços, ama-me. Ou assim rezam as músicas, os poemas, as histórias de encantar.
Vou só esclarecer, por agora, que não entendo nada deste assunto em geral.
Não é irónico que, ao fim ao cabo, vá fazer um texto sobre um assunto do qual desprezo falar?
Quando oiço pessoas a falar sobre isto, sobre, bem, “amor”, dá-me vontade de rir. Grande parte das vezes, é tudo uma anedota, uma farsa.
É hilariante ver pessoas a ter “relações” a “torto e a direito” com pessoas cuja atração é apenas física ou até, por vezes, só para “as vistas”. É até repugnante, se me é permitido '9dizê-lo.
Esse sentimento de que tanto se fala, aquele pelo qual pessoas se matam, se humilham, se reduzem a seres que jamais pensariam em se tornar. Apetece-me rir (aliás estou, de fato, a sorrir para o ecrã agora mesmo). Esse sentimento é, pura e simplesmente, bom. Deixa-nos um calorzinho no coração, que, por quão lamechas soe, é de facto real. Deixa-nos incapacitados, malucos até, completamente fora de nós, flipados. Ao ponto de, ao vermos alguém, sentirmos os nossos joelhos a tremer, a nossa cara a arder, a expressão parva que a nossa cara adquire, mesmo a tempo de parecer o mais “irresistível” possível. É embaraçoso, é ofegante. É, quando nas horas em que estamos acordados pensamos na pessoa pela qual nutrimos este sentimento, e quando dormimos, sonhamos com ela. É teres desejos que nunca antes passaram pela tua cabeça ou que imaginaste alguma vez teres.
É ridículo. É pura e simplesmente desnatural, desumano e humilhante. O poder que uma pessoa pode ter sobre nós, por vezes, só pelo simples facto de existir. O quão subjetivos (?), influenciáveis nos tornamos e o quão patéticos parecemos, todos nós.
É um sentimento que nos deixa aparvalhados, ponto. É como levar uma lavagem cerebral e, de repente, puff o teu corpo não mexe como devia, começas a sentir coisas com uma estúpida intensidade que nos faz parecer um computador dos anos noventa a tentar trabalhar com o software do windows 7.
E depois, para acrescentar à “desgraça”, é também quando o nosso subconsciente larga a sirene. A sirene que constantemente ignoramos aquando neste estado de dormência, a que nos avisa que iremos, eventualmente, magoar-nos muito. Pouco a pouco começamos a ficar mais consciente do que somos, do que fazemos, do que vestimos. Começamos a tornar-nos inseguros, a tentar ser melhor para a tal pessoa, por muito boa pessoa que nós já sejamos. Choramos muito, gritamos e fazemos coisas que mais tarde nos arrependemos. No fim, acaba. Independentemente de termos conseguido algo ou não. Acaba sempre.
E depois repete-se tudo de novo.



CARLA GONÇALVES, 11ºA

4 comentários:

Inês disse...

Carla, gostei mesmo muito :)

Fátima Inácio Gomes disse...

Está a tua cara, Carla! :)

O que eu me ri ao ler o teu texto :) e, sim, é isso tudo. E é, também, algo inteiramente sério.
É o motor que move o mundo. Até daqueles que o rejeitam.
E um dia, confirmarás tudo o que aqui dizes. E uma infinidade de coisas mais...
Se uma dessas experiências não fomentar um profundo processo de descoberta, vai por mim, é porque não vale a pena... ;-)

carla disse...

pahah, faço sempre questão de acrescentar um toque pessoal aos meus textos, de certa forma, escrevo um pouco como falo xD obrigada :)

DiogoMota disse...

"(...)parecer um computador dos anos noventa a tentar trabalhar com o software do windows 7. " Simplesmente fantástico CArly