segunda-feira, 5 de março de 2012

REcriar




“Enquanto somos crianças temos a nossa própria linguagem, e ao contrário do francês ou do espanhol, ou de qualquer outra língua que comecemos a aprender na escola, com esta já nascemos, e depois podemos eventualmente perder. Toda a gente com menos de sete anos é fluente na língua dos «ses»; convivam com alguém com menos de noventa centímetros e verão. E se uma tarântula gigante saísse daquele buraco por cima da nossa cabeça e nos picasse no pescoço? E se o único antídoto para o veneno estivesse trancado num cofre no cume de uma montanha? E se sobrevivêssemos à picada, mas só conseguíssemos mexer as pálpebras e pestanejar o alfabeto? Realmente não interessa até onde vamos; a questão é que existe um mundo de possibilidades. Os miúdos pensam com os cérebros completamente abertos; o processo de nos tornarmos adultos, já descobri, consiste apenas numa lenta costura para os fechar.”      

Excerto do livro “Para a minha irmã”,  Jodi Picoult.


 
Criança.
     Livre e feliz, põe de parte a responsabilidade e a preocupação e só dá ouvidos à alegria. Corre, mesmo se estiver cansada. Luta, mesmo que já esteja tudo perdido. Criança não desiste, criança não tem limites!
Se perguntássemos aos adolescentes se queriam voltar a ser crianças, eles iam responder que não. Mas se perguntássemos se queriam ser livres, eles iam responder que sim. Qual é a diferença entre ser livre e ser criança? Significado de livre: "que goza a liberdade; independente; salvo; não obrigado". As últimas duas palavras foram as que me chamaram mais a atenção. Não vamos dizer que uma criança é livre porque está salva ou porque não é obrigada, não é a criança, mas sim a sua mente que está salva de preconceitos e estereótipos, pois as crianças têm uma mente aberta, não se fecham só para um lado, não vêm só um caminho. Os que são “obrigados” só podem ver aquela parte, só podem pensar daquela maneira, não são livres.
As crianças vivem noutro mundo, num mundo onde ninguém liga ao amanhã, porque elas vivem o presente, num mundo onde tudo é possível, num mundo onde se ama só porque se ama (não há interesses), num mundo onde a rainha é a Felicidade e o rei é o Infinito (não há impossíveis), num mundo onde a tristeza não existe !
À medida que nos tornamos mais velhos, ao contrário do que achamos, a nossa liberdade vai ficando cada vez mais condicionada, até que chega a um certo ponto em que nós já não amamos só por amar, desistimos antes de lutar, vivemos para o amanhã sem nos apercebemos que o amanhã nunca vai ser o hoje, pois o amanhã do passado foi o hoje e o amanhã vai ser o hoje do futuro.
Mais vale ser ingénuo e feliz do que um sábio e infeliz !   

                                                                                                                                   
ANA SOFIA LOMAR, 11ºA

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Que belo tema, Sofia! Vamos falar tanto dele, para o ano, com o Fernando Pessoa e todos os seus heterónimos! Se há traço que os une é, precisamente, a nostalgia da infância.

Mas foi outro autor que eu mais recordei, ao ler a citação que escolheste, que também fala dessa capacidade libertadora da criança de acreditar que tudo é possível:

"Ora o artista, quando olhava para a sua infância, sofria uma saudade tão grande, um enternecimento tão comovido... Só nessa época indecisa ele fora feliz – tivera tudo. E porquê? Percebera-o nitidamente nesse instante – tinha ali o exemplo em sua face: é que, na infância, não possuímos ainda o sentido da impossibilidade; tanto podemos cavalgar um leão como uma abelha...”
Mario de Sá-Carneiro*, in Mistério"

Muito bom texto. Muito boa reflexão.