“Enquanto somos crianças
temos a nossa própria linguagem, e ao contrário do francês ou do espanhol, ou
de qualquer outra língua que comecemos a aprender na escola, com esta já
nascemos, e depois podemos eventualmente perder. Toda a gente com menos de sete
anos é fluente na língua dos «ses»; convivam com alguém com menos de noventa
centímetros e verão. E se uma tarântula gigante saísse daquele buraco por cima
da nossa cabeça e nos picasse no pescoço? E se o único antídoto para o veneno
estivesse trancado num cofre no cume de uma montanha? E se sobrevivêssemos à
picada, mas só conseguíssemos mexer as pálpebras e pestanejar o alfabeto?
Realmente não interessa até onde vamos; a questão é que existe um mundo de
possibilidades. Os miúdos pensam com os cérebros completamente abertos; o
processo de nos tornarmos adultos, já descobri, consiste apenas numa lenta
costura para os fechar.”
Excerto do
livro “Para a minha irmã”, Jodi Picoult.
Criança.
Livre e feliz, põe de parte a responsabilidade e a preocupação e só dá ouvidos à alegria. Corre, mesmo se estiver cansada. Luta, mesmo que já esteja tudo perdido. Criança não desiste, criança não tem limites!
Livre e feliz, põe de parte a responsabilidade e a preocupação e só dá ouvidos à alegria. Corre, mesmo se estiver cansada. Luta, mesmo que já esteja tudo perdido. Criança não desiste, criança não tem limites!
Se perguntássemos aos adolescentes se queriam voltar a ser crianças, eles iam
responder que não. Mas se perguntássemos se queriam ser livres, eles iam
responder que sim. Qual é a diferença entre ser livre e ser criança? Significado de
livre: "que goza a liberdade; independente; salvo; não obrigado". As últimas duas
palavras foram as que me chamaram mais a atenção. Não vamos dizer que uma
criança é livre porque está salva ou porque não é obrigada, não é a criança, mas
sim a sua mente que está salva de preconceitos e estereótipos, pois as crianças
têm uma mente aberta, não se fecham só para um lado, não vêm só um caminho.
Os que são “obrigados” só podem ver aquela parte, só podem pensar daquela
maneira, não são livres.
As
crianças vivem noutro mundo, num mundo onde ninguém liga ao amanhã, porque elas
vivem o presente, num mundo onde tudo é possível, num mundo onde se ama só porque
se ama (não há interesses), num mundo onde a rainha é a Felicidade e o rei é o
Infinito (não há impossíveis), num mundo onde a tristeza não existe !
À medida que nos tornamos mais velhos, ao
contrário do que achamos, a nossa liberdade vai ficando cada vez mais
condicionada, até que chega a um certo ponto em que nós já não amamos só por
amar, desistimos antes de lutar, vivemos para o amanhã sem nos apercebemos que
o amanhã nunca vai ser o hoje, pois o amanhã do passado foi o hoje e o amanhã
vai ser o hoje do futuro.
Mais
vale ser ingénuo e feliz do que um sábio e infeliz !
ANA SOFIA LOMAR, 11ºA
1 comentário:
Que belo tema, Sofia! Vamos falar tanto dele, para o ano, com o Fernando Pessoa e todos os seus heterónimos! Se há traço que os une é, precisamente, a nostalgia da infância.
Mas foi outro autor que eu mais recordei, ao ler a citação que escolheste, que também fala dessa capacidade libertadora da criança de acreditar que tudo é possível:
"Ora o artista, quando olhava para a sua infância, sofria uma saudade tão grande, um enternecimento tão comovido... Só nessa época indecisa ele fora feliz – tivera tudo. E porquê? Percebera-o nitidamente nesse instante – tinha ali o exemplo em sua face: é que, na infância, não possuímos ainda o sentido da impossibilidade; tanto podemos cavalgar um leão como uma abelha...”
Mario de Sá-Carneiro*, in Mistério"
Muito bom texto. Muito boa reflexão.
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