domingo, 4 de março de 2012

Recriar


“O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá”
In Cosmos, Carl Sagan

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Olhemos para além do atingível, do óbvio, do adquirido… Deixemos que aquela gasta frase se entranhe, que oleie as engrenagens mais insignificantes e pensemos e imaginemos…
Seremos nós, seres imperfeitos, meros mortais que esperam pela morte?
O nosso corpo, barro moldado por deuses, desvanece-se num ínfimo segundo. Contudo, não somos meramente um corpo, porque a vida, à semelhança do vento, não necessita de corpo para viver. Pergunto-me, então, se “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, o que sucede ao que deveras nos dá vida? O que sucede às quimeras, às palavras e perguntas e enigmas em que nos perdemos; o que sucede à nossa alma?
A alma é senão mais que um cosmos, mundo de ideias profanas e sagradas, de sonhos e devaneios; mundo enigmático sem fim à semelhança do universo cósmico de rocha, metal e mistério em que o nosso corpo subsiste.
Nenhum ser se recorda de ser gerado, e interrogo-me se o mesmo acontece quando o nosso corpo se renova junto da terra fecunda que nos originou algures no tempo. O que nos impede então de não termos tido início e fim, à semelhança do próprio tempo?
Se realmente somos cosmos, que subsiste neste momento em terra imperfeita que se renova, e se “o cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá”, nós somos, seres pensantes que conferem vida a cadáveres, da mesma natureza que o universo que nos rodeia, o mesmo que deu origem às estrelas, à poeira cósmica e ao infinito.
Somos meramente mundos, pertencentes a um outro, mundos infinitos e imortais, que vagueiam pelo tempo, ora na sua verdadeira natureza, ora em corpos destinados a morrer. Mundos que percorremos na esperança de os desvendar até nós eternidade… É isso que fazemos a sonhar!


“O conhecimento é finito, o desconhecido infinito; intelectualmente, estamos numa ilha no meio de um oceano ilimitado de inexplicabilidade. O nosso dever em cada geração é recuperar um pouco mais de terra.”
T. H. Huxley, 1887



CATARINA RIBEIRO, 11º A


1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Reflexão profunda, audaz. E que na sua abstração encontrou um fio condutor, um argumento onde se sustentar.
Nesse mundo do intangível, como rebater?

Várias vezes, durante a leitura do teu texto, me ocorreu o verso do Pessoa: "Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver addiado que procria?"

A loucura, de Pessoa, é o sonho, esse teu "mundo de ideias profanas e sagradas, de sonhos e devaneios; mundo enigmático sem fim".
Muito bem, Catarina.