“O Cosmos é tudo o que existe, existiu ou existirá”
In
Cosmos, Carl Sagan
***
Olhemos para além do atingível, do óbvio, do adquirido…
Deixemos que aquela gasta frase se entranhe, que oleie as engrenagens mais
insignificantes e pensemos e imaginemos…
Seremos nós, seres imperfeitos, meros mortais que esperam
pela morte?
O nosso corpo, barro moldado por deuses, desvanece-se num
ínfimo segundo. Contudo, não somos meramente um corpo, porque a vida, à
semelhança do vento, não necessita de corpo para viver. Pergunto-me, então, se
“na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, o que sucede ao que
deveras nos dá vida? O que sucede às quimeras, às palavras e perguntas e
enigmas em que nos perdemos; o que sucede à nossa alma?
A alma é senão mais que um cosmos, mundo de ideias
profanas e sagradas, de sonhos e devaneios; mundo enigmático sem fim à
semelhança do universo cósmico de rocha, metal e mistério em que o nosso corpo
subsiste.
Nenhum ser se recorda de ser gerado, e interrogo-me se o
mesmo acontece quando o nosso corpo se renova junto da terra fecunda que nos
originou algures no tempo. O que nos impede então de não termos tido início e
fim, à semelhança do próprio tempo?
Se realmente somos cosmos, que subsiste neste momento em
terra imperfeita que se renova, e se “o cosmos é tudo o que existe, existiu ou
existirá”, nós somos, seres pensantes que conferem vida a cadáveres, da mesma
natureza que o universo que nos rodeia, o mesmo que deu origem às estrelas, à
poeira cósmica e ao infinito.
Somos meramente mundos, pertencentes a um outro, mundos
infinitos e imortais, que vagueiam pelo tempo, ora na sua verdadeira natureza,
ora em corpos destinados a morrer. Mundos que percorremos na esperança de os
desvendar até nós eternidade… É isso que fazemos a sonhar!
“O conhecimento é
finito, o desconhecido infinito; intelectualmente, estamos numa ilha no meio de
um oceano ilimitado de inexplicabilidade. O nosso dever em
cada geração é recuperar um pouco mais de terra.”
T. H. Huxley, 1887
T. H. Huxley, 1887
CATARINA RIBEIRO, 11º A
1 comentário:
Reflexão profunda, audaz. E que na sua abstração encontrou um fio condutor, um argumento onde se sustentar.
Nesse mundo do intangível, como rebater?
Várias vezes, durante a leitura do teu texto, me ocorreu o verso do Pessoa: "Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver addiado que procria?"
A loucura, de Pessoa, é o sonho, esse teu "mundo de ideias profanas e sagradas, de sonhos e devaneios; mundo enigmático sem fim".
Muito bem, Catarina.
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