sexta-feira, 24 de junho de 2011

Meia-Noite em devaneio


Meia-Noite
Anoitecemos o tempo em que me davas a mão... ateamos gelo pálido ao nosso rio. Fica, mas não existas. Vem solidãorizar-te comigo.

8 comentários:

Fátima Inácio Gomes disse...

Fica, mas não existas.

Quando o mais importante é ficar, mesmo sabendo que acabará por não bastar. Mas, ai, como +e difícil deixar partir, "ficar sem"...

Liliana Silveira Freitas disse...

lindo (e triste) como sempre : )

Cláudia Amorim disse...

precisamente Fátima.
e,complacentes, permitimos que o egoísmo se eleve a órgão do nosso sistema imunitário...

Scorpionster disse...

veio-me à cabeça a posse que se deseja para o que já se teve... guardar hermeticamente paisagens e pessoas pelos quais já se vagueou... tenho a impressão que fazer isto dá um determinado mimo ao que se perde cada vez que acontece um não...

Fátima Inácio Gomes disse...

Na sua simplicidade, este pensamento é assombroso. Sim tem a ver com uma certa forma de egoísmo, mas acima de tudo, com uma "insuficência venosa" - não nos conseguimos libertar completamente daquela pessoa; principalmente, não queremos fazê-lo.
E, talvez, pela razão que o Bruno aventou, embora noutro sentido: a existência/persistência daquela pessoa na nossa vida permite-nos que o passado não se torne em algo definitivamente morto, inútil. E não será o passado, em si, que nos preocupa, mas a consciência de que o presente se torna passado e assim, todo o valor que conferimos ao momento que vivemos, o peso que damos às nossas palavras, às palavras do outro, se perde na mó do moinho que esmaga o tempo.
Mantermos esse alguém ao nosso lado é aprisionarmos a esperança de que tudo o que foi vivido é eterno, mesmo que não o voltemos a viver.
É esta constante necessidade do bicho humano de encontrar sentido...

Cláudia Amorim disse...

S-I-M
A existir uma inércia psicológica de conceito semelhante à inércia física dos corpos, será uma resistência à mudança de estado(mental/emocional)provocada quer p'la ancora do passado quer p'lo futuro rarefeito.


PS: acabei agora mesmo d'escrever o artigo para a zine da Triplic'Arte. Este mês escolhi a Ana Hatherly:

Um Homem que está

um homem que está
no meio da entreaberta porta
apenas não fechada ainda
ou já
está
entrando ou saindo dela

lividamente ou putrefacto

um homem está
na entreaberta
entretanto
porta
apenas não fechada ainda
ou já

bello? não posso adiantar mais cousas

Fátima Inácio Gomes disse...

ah..... o limiar!
vissi?

Miguel Paredes disse...

Maravilhoso o devaneio!
Agradeço o momento.