Para além de ser aconselhado a
emigrar por parte do primeiro ministro do meu país, o que me soou a algo do género
"fujam que o barco está a afundar", sinto-me completamente
desarticulado da minha própria cultura. Cheguei a tal conclusão num pachorrento
domingo à tarde, em que liguei a televisão e me deparei com o programa de cariz
popular "somos portugal".
Este programa tem a fantástica
capacidade de se autodescrever através dos temas musicais que lá passam, que me
transportam até à parte mais instintiva e selvagem do meu
subconsciente, imaginando todo aquele povo em orgias e bacanais. Sim, as orgias
são nesse sentido...
Mas para melhor compreender este
auditório (se é que tem compreensão) basta fazer uma síntese do que a maior parte
dele faz a um domingo.
Como domingo é dia do senhor
(fique esclarecido que quanto a religiões tenho tanto contra como a favor) a
maioria vai à missa matinal,com a intenção de pedir misericórdia ao Nosso Senhor pelos seus pecados, e é precisamente neste ponto que surge um estrondoso
contra senso, devido ao facto de os anjinhos da parte da manhã se transformarem
em discípulos de Satanás da parte da tarde, espalhando a palavra do
"TXU" do "TXA", enfia carro ali, "até o padre
ajudou" lá no meio do bacanal, "pisca pisca" ao da direita, "pisca pisca" ao da
esquerda e entram numa incessante busca pelo pai da criança.
Por incrível que pareça, penso
que nem a própria mãe sabe quem é o pai, mas mais estranho ainda é que não deve
estar tão curiosa como estes discípulos que também fizeram questão de adoptar o
kuduro à cultura portuguesa, através de fabulosos artistas de renome nacional
especializados em playback e orgias. Nem nos meus piores sonhos imaginei poder
ver pessoas da idade dos meus avós a dançar kuduro.
Para o descalabro final, a maioria destas
pessoas ocupam o serão de domingo à noite a ver um reality show, a famosa Casa
dos Segredos, e não vou expressar a minha opinião sobre este programa de
tamanha estupidez e futilidade, porque teria de escrever uma crónica dentro de
outra crónica e instalava-se o pandemónio.
Agora questiono-me, isto é Portugal? Porque é a cultura algo de tão
difícil acesso ao zé povinho? Será porque o sal não salga? ou porque o zé não
se deixa salgar? Não tenho a mínima dúvida que temos sal com qualidade em Portugal.
Qual a necessidade de sermos
sempre pequenos e de não ampliarmos a linha dos nossos horizontes? Não existem só
cisnes brancos! Onde está o povo que destruiu os
limites do mundo, irrompendo oceano fora? Se calhar, este povo agora faz parte dos
antepassados de muitos Holandeses... deve estar no nosso DNA expulsar mão de obra
qualificada...
No meio destas questões só chego
a uma conclusão: se isto é Portugal,eu não quero ser português.
Rudy, 11º F
6 comentários:
Gostei muito, Rudy. Parabéns.
Deves prestar atenção a algumas questões formais, para não comprometeres a qualidade do conteúdo.
Gostei em particular, claro está, da intertextualidade com o Sermão. Bem visto! E, concordo, o nosso "sal cultural" é de qualidade e não falta.
Não percebi foi a referência aos "cisnes brancos"... :/
A referência aos cisnes brancos surgiu,devido ao facto de os nossos ante passados acreditarem que existiam apenas cisnes brancos,porque apenas viam cisnes brancos.Se pensarmos isso em termos culturais,apercebemos-nos que irá sempre existir um mundo que desconhecemos,que temos por explorar.É necessário ter a noção disso,não podemos simplesmente fechar os nossos horizontes e não permitir que nada mais consiga lá entrar.
Caso um dia alguém acorde desse estado de cegueira irá aperceber-se que de facto até existem cisnes negros.
Ah! Bravo!
Desconhecia essa relação. Sempre a aprender!... e ainda bem! :)
"Caso um dia alguém acorde desse estado de cegueira" e esta afirmação já daria, também, para outras relações, verdade? Não só aludindo ao Saramago e seu ensaio, mas ao Peixe de Tobias (se tivesses escrito hoje, já poderias ter explorado esta relação, também :D)
Estava na aula e pensei nisso,mas numa outra oportunidade, caso se justifique, exploro essa relação claro
Continuo uma visitante regular do blog e estou a gostar dos novos textos... Continuação de bom trabalho, a si e aos novos alunos (:
E eu fico encantada por te saber por cá! :)
E, já sabes, escreve sempre;-) E aqui terás sempre um espaço para publicar :)
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