Não vás para tão longe!
Vem sentar-te
Aqui na chaise-longue, ao pé de mim...
Tenho o desejo doido de contar-te
Estas saudades que não tinham fim.
Não vás para tão longe;
Quero ver
Se ainda sabes olhar-me como d'antes,
E se nas tuas mãos acariciantes,
Inda existe o perfume de que eu gosto.
Não vás para tão longe!
Tenho medo
Do silêncio pesado d'esta sala...
Como soluça o vento no arvoredo!
E a tua voz, amor, como se cala!
Não vás para tão longe!
Antigamente,
Era sempre demais o curto espaço
Que havia entre nós dois...
Agora, um embaraço,
Hesitas e depois,
Com um gesto de tédio e de cansaço,
Achas inconveniente
O meu abraço.
Não vás para tão longe!
Fica. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!
Não vás para tão longe!
Na sombra impenetrada,
Como se agita e se debate o vento!...
Paira nas velhas ruínas do convento
Que além se avista,
A alma melancólica d'um monge
Que a vida arremessou àquela crista...
Céu apagado, negro, pessimista,
E tu sempre mais longe!...
Fernanda de Castro, in "Antemanhã"
Conhecemos pessoas, juntamo-nos a elas.Se nos afastamos, esquecêmo-las. Será sempre assim? E porquê? A culpa é da distância, dizemos nós. Mas será mesmo?
A distância tem, de facto, muita má fama no que toca às relações das pessoas. Seja em filmes, livros, etc. a distância é o retrato da morte destas relações, sejam amorosas ou de amizade. Parece que a sua função é estagnar sentimentos, deixá-los apodrecer sozinhos num canto, longe de qualquer saída, para que descurem em esquecimento.
Não é. Fazemos dela um "bicho de sete cabeças", tal como estamos habituados a fazer com tudo o que temos medo de enfrentar. A distância é uma espécie de barreira, que de facto, separa... Separa as grandes amizades e paixões das relações banais. É que quando o sentimento é puro e genuíno, não há barreira que se lhe oponha e, mesmo separando as pessoas, o mesmo não acontecerá com os seus corações. Por isso mesmo, a distância é apenas uma medida de espaço, basta querermos que assim só seja.
Às vezes, é mesmo a distância que faz uma paixão subsistir, numa altura em que a rotina e o acostumar são verdadeiras sentenças e em que afastarmo-nos constantemente de alguém seja aquilo que nos faz, cada vez mais, estar perto dessa pessoa.
Noutras situações até, a distância inexistente entre duas pessoas, é uma distância infinita entre seus corações e, agora sim, ela arrasa-nos por completo, pois sem sequer existir, estando nós perto daquela pessoa que nos diz muito, sem sequer nos dizer nada, sentimo-nos impotentes perante ela.
Portanto, acho que podemos comparar a distância a Deus: existindo ou não, só a vê quem quer e só se faz sentir em quem o permitir.
PEDRO JORGE, 11º A
3 comentários:
"Separa as grandes amizades e paixões das relações banais."
Não podia ter uma opinião mais semelhante à tua, Pedro. Gostei muito! (:
"A distancia faz as paixões aquilo que o vento faz a uma chama - Se a chama for forte, o vento torna-a mais forte; Enquanto que se a chama for fraca, o vento apaga-a."
Não sei se a frase é exatamente assim nem quem a disse/escreveu mas vai de encontro ao que tu escreveste e eu não podia estar mais de acordo :) Quanto a parte em que dizes do estar mesmo ao lado da pessoa mas sentes uma distancia enorme... bem, isso é tramado :\
"A distância é uma espécie de barreira, que de facto, separa... Separa as grandes amizades e paixões das relações banais."
Boa frase, bem pensada e bem conseguida :)
De facto, a distância depurar muito do que é uma relação, em especial, a passional. Mas não nos iludamos... a distância, por muito tempo, distancia as pessoas: e amarás o quê, dessa pessoa ausente, senão a sua recordação? E não é benéfico viver de recordações...
Enviar um comentário