O Elogio do Vício
“Admiro os viciados. Num mundo em que está toda a gente à espera de uma catástrofe total e aleatória ou de uma doença súbita qualquer, o viciado tem o conforto de saber aquilo que quase de certeza estará à sua espera ao virar da esquina. Adquiriu algum controlo sobre o seu destino final e o vício faz com que a causa da sua morte não seja uma completa surpresa.
De certo modo, ser um viciado é uma coisa bastante proactivista. Um bom vício retira à morte a suposição. Existe mesmo uma coisa que é planear a tua fuga.”
(Chuck Palahniuk, in “Asfixia”)
"Controlo de vida"
Nas
sociedades modernas, é de se esperar que cada pessoa viva sobre certos padrões,
e regras, e é aí que temos de nos moldar em prol de uma sociedade melhor, para tentarmos
ser acolhidos pelo “ Homem comum” e não ostracizados (excluídos). A partir
daqui, o Homo sapiens moderno inicia uma campanha na tentativa de controlar a sua
vida ao máximo. A meu ver, alguns dos problemas psicológicos que advêm desta
tentativa são os que mais assombram a nossa sociedade. É claro que eu digo
problemas psicológicos, pois a medicina e a ciência estão cada vez mais perto
de atingirem um ponto de utopia (já é possível fazer clones e isso leva-nos
para uma pequena ideia de Imortalidade). É claro que, com todo este avanço,
algumas coisas regridem e a necessidade de controlar a vida a um ponto quase
abismal, tem levado o Homem a sofrer de doenças, tais como: depressão,
anorexia, bulimia (entre as faixas etárias mais jovens), o stress, etc. Porém,
como é óbvio, existem outros problemas relacionados com a mente humana e com o
ambiente a que estamos expostos. Em consequência de todos estes problemas que
assombram a sociedade actual e os seus padrões, a aderência ao vício é cada vez
maior. É numa desenfreada busca de prazer, controlo de vida e aceitação, que o
Homem adere a estes vícios. Por exemplo, um alcoólico, nunca poderá dizer
quando vai morrer (assim como ninguém pode), mas talvez ele pense que sabe de
que forma vai morrer. Em consequência do seu vício, o mais provável é que este
alcoólico pense que vai morrer de problemas relacionados com o fígado, por
exemplo, e na minha opinião, isto dá-lhe um certo controlo sobre a morte. Digamos
que esta minha pequena ideia, iria logo divergir em duas opiniões completamente
diferentes, e seria entendida, também, por dois tipos de pessoas diferentes. As
que são contra qualquer tipo de vícios, provavelmente, pensariam que isto é uma
completa estupidez, sem qualquer tipo de nexo. Em contrapartida, as outras
iriam é, provavelmente, adorar este ponto de vista, pois agora teriam um argumento
mais plausível para tentarem “ justificar “ os seus vícios. A meu ver, é
completamente irrelevante tentar perceber se é certo ou errado, possuir ou não
vícios. Eu apenas acho que o problema está nos altos padrões da sociedade, que
somos quase que obrigados a respeitar se queremos ser aceites, e também na
capacidade que as pessoas têm para não gostar do que é “ diferente “. É claro
que tudo isto é muito relativo, pois nem todas as pessoas são assim e, para
além disso, a sociedade de hoje é cada vez mais incutida a não “estranhar” o que é
dito “ diferente “. O que eu gostaria de realçar é que, infelizmente, esta
sociedade de hoje vive num paradigma, e, às vezes, o problema pode não estar
no seu exterior, mas sim no interior. Se isto for visto de uma perspectiva mais
racional, este problema de “padrões e sociedade” já afecta o Homem desde há
muitas civilizações atrás e, como tal, irão sempre existir ideias divergentes,
idealistas, radicais. Isto realmente não pode ser considerado mau, pois é daí
que nasceram e continuarão a nascer líderes natos e pessoas brilhantes. O que
realmente sobra destes meus pensamentos, é que não vale a pena viver numa
ilusão de sociedade
perfeita, até porque essa sociedade perfeita já existe, apenas nos cabe a nós
tentar olhá-la por outro outra perspectiva, pois existem sempre duas faces da
mesma moeda.
TIAGO BARROS, 11ªA
1 comentário:
Essa citação sobre o vicio (audaz, desafiadora) fez-me lembrar a de Bernardo Soares: "Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz."
Em contraste, dizes tu que "temos de nos moldar em prol de uma sociedade melhor, para tentarmos ser acolhidos pelo “ Homem comum” e não ostracizados (excluídos)." e não consigo perceber porque alinhar com o "Homem comum" conduz a uma "sociedade melhor"...
E outras questões me suscitou a leitura do teu texto:
- "O que eu gostaria de realçar é que, infelizmente, esta sociedade de hoje vive num paradigma," - que paradigma?
- "até porque essa sociedade perfeita já existe, apenas nos cabe a nós tentar olhá-la por outro outra perspectiva, pois existem sempre duas faces da mesma moeda" assim sendo, a perfeição não existe em si, depende do ponto de vista. Em extremo, podemos viver todos satisfeitos com a vida que temos, mesmo que seja a viver debaixo da ponte, é?
Nota: um parágrafo único?...
Enviar um comentário