segunda-feira, 5 de março de 2012

REcriar



"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis." 
Carlos Drummond de Andrade




" A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria."
José Luís Peixoto






Muitos tentam descrever o amor usando hipérboles e metáforas elaboradas, outros resumem o amor a pouco mais de duas palavras. Não é fácil descrever algo que não tem descrição, tese defendida por aqueles que julgam sentir o amor verdadeiro.
 A descrição do amor, para mim, é a condenação de Sísifo. Quando julgo ter atingido o seu significado, apenas consigo observar a futilidade das palavras que usei e sinto-me compelida a começar tudo de novo. A única conclusão a que cheguei, apesar de ser apenas um conceito lato, é a de que o amor, a vida e a morte andam sempre de mãos dadas. Há quem diga que o amor é, por si mesmo, a vida. Porém, há também quem afirme que amor verdadeiro é suicídio. Não sei qual das hipóteses é a mais acertada; a única coisa que sei é que o amor verdadeiro é resistente à realidade, a realidade que muitos indicam como sendo a responsável de todos os males. Ao que os outros chamam de realidade eu chamo de tempo, pois é ele o único capaz de diferenciar o que é verdadeiro daquilo que é apenas uma mera inclinação. Seria de esperar que a felicidade proviesse do amor, porém não podemos ser cínicos e ocultar toda a dor que daí advém, essa dor que nos dilacera vezes e vezes sem conta, sem que nada possamos fazer, pois não é uma dor física e ninguém nos pode ajudar. Talvez o facto de ignorarmos a dor de cada vez que pensamos em amor é porque, em si mesmo, o amor é superior à dor e quando, finalmente, o alcançamos, esquecemos toda a dor que passámos, e que vamos voltar a passar, porque nada é eterno. Podemos tentar erguer muralhas em nossa volta, na tentativa de bloquear qualquer sentimento, mas na verdade não existe muralha que não contenha uma brecha da qual o tempo se encarregará de abrir profundamente, fazendo com que todos os esforços prévios fossem em vão. Nessa altura, o amor entra em cena na nossa vida, tornando a nossa história igual a uma história de amor de Shakespeare e é no seu auge que cai o pano sem direito aos últimos aplausos. Voltamos ao nosso mundo, feridos e desiludidos, jurando nunca mais amar. Porém, no momento em que já não acreditamos nele e nos resignámos que não existe, é quando nos aparece outra vez na nossa vida exigindo total entrega. 
     Amor. Sofremos, lutamos, choramos, sonhamos e perseguimos o amor na procura do sentimento fulcral da vida. Felicidade. Mas, no meu ponto de vista, a felicidade não existe, só existe resignação à condição em que nos encontramos e, mesmo assim, o ser humano nunca se contenta com aquilo que tem, quer sempre mais e mais; tornando assim a resignação curta, compelindo-o a iniciar outra vez a busca pela dita felicidade.
     Se o amor verdadeiro existe, não sei. Neste momento, acredito que tal coisa não exista, acredito que seja apenas um mito que nos permita ter esperança que algo de fenomenal nos pode acontecer, que é o caso de encontrar a alma-gémea. Talvez só tenho esta opinião, porque ainda não encontrei o amor verdadeiro, talvez quando o encontrar toda esta atitude de descrença seja ridícula. Talvez. 


ÂNGELA, 11ºA

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Gostei das citações. E gostei tanto da relação com o mito de Sísifo (esse atrevido!... e não é que o amor também tem algo de atrevido, de desafiador?)

Disseste: "o amor verdadeiro é resistente à realidade", mas, faz sentido o amor fora da realidade?
Mas sei ao que te referia, e esgrimiste bem os argumentos sobre o Tempo.

Gostei, Ângela :)
(atenção à pontuação!)