sexta-feira, 2 de março de 2012

REcriar


Recriei a partir de um texto contido no Livro do Desassossego, de Bernardo Soares: "Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa." - http://arquivopessoa.net/textos/1397




Escrever é...


Para mim, não há sensação mais purificadora e calmante que escrever.
É como se, depois de escritos, os pensamentos já tivessem um fim e não tivessem de andar de um lado para o outro na enorme piscina que é o meu cérebro, com todas as suas ideias e pensamentos.
Muitos dos textos que escrevo nem sequer os considero dignos desse nome: alguns deles, simplesmente, não conseguiram atingir a intensidade que eu sentia e, por serem um retrato menos fiel dos meus pensamentos e emoções, ficam para sempre esquecidos no fundo duma gaveta, nos rascunhos do telemóvel ou nos rascunhos do blogue que me dei ao trabalho de criar. Porém, a sensação que obtenho de transcrever as minhas ideias, quer as consiga transcrever da maneira que eu quero e introduzir as emoções subjacentes à criação daquele texto, quer daqueles que julgo menos dignos (x) é sempre a mesma: O vazio momentâneo deixado pela ideia que agora reside na folha de papel é um vazio que dá uma sensação calmante, mas que é rapidamente preenchido por outras ideias.
É por isto que considero que escrever não é um passatempo, mas sim um vício, um medicamento que o ser pensante dentro de mim precisa para poder subsistir mais algum tempo ao constante bombardeamento de ideias a que somos sujeitos.
Por vezes, não é fácil: ideias brilhantes que pedem para serem imortalizadas fogem por entre os dedos como se de um líquido se tratasse e é, na maior parte dessas vezes, que, mais tarde, quando tentamos transcrever essa ideia, ela não surge como da primeira vez, como a imaginámos.
Outro fator de desespero para um "escritor" como eu é a preguiça: por vezes, o cansaço do eu físico não é compatível com o do eu que pensa e, mesmo antes de cair nas garras do sono, ficam aqueles pensamentos, raciocínios, que parecem fazer todo o sentido e até dão sentido à nossa vida, mas depois, quando acordamos, nem sinais deles.
Isto e muitas outras, se calhar infinitas, coisas levam-me a pensar que este medicamento, ainda que necessário, é extremamente difícil de encontrar e de tomar. Muita gente pensa que escrever é só pegar na caneta e no papel e encarreirar palavras e empilhar linhas. Ora muita gente se engana também. Escrever, pelo menos para mim, e penso que para quem o faz com o coração, implica isso mesmo: que o coração esteja iluminado e inspirado e daí que seja difícil de encontrar. Por outro lado, é difícil de tomar, pois nem sempre aquilo que sinto e, por conseguinte, aquilo que escrevo, é do meu agrado e caio, ao escrever, num estado de tristeza profundo, mas calmo e puro, pois agora, uma vez que aquilo que sinto está escrito, já sei que de facto o sinto.
Por outras palavras, a minha droga, escrever, é algo sem o qual não viveria. Porem, é a droga que escolhe quem a consume e não o consumidor que escolhe consumir, pois eu não escolho quando a inspiração vem ter comigo: só escolho aproveitá-la ou não.


HUGO GONÇALVES, 11º A

5 comentários:

Inês disse...

o fragmento é o 152, só pra que conste ;)

Hugo disse...

onde tem o (x) falta uma virgula :)

Fátima Inácio Gomes disse...

Nem é por aí. Tem mesmo a ver com a coesão frásica: "quer as consiga transcrever da maneira que eu quero e introduzir as emoções subjacentes à criação daquele texto, quer daqueles que julgo menos dignos (x) é sempre a mesma". Repara no equilíbrio da estrutura que usas: "quer as consiga...", "quer daqueles...".
Deverias ter mantido a relação com a estrutura inicial, na disjunção "quer... quer", por exemplo:
*quer as consiga transcrever... quer não o consiga, com aqueles textos que julgo menos dignos .

Percebes? :)

Hugo Gonçalves disse...

Ahhhh sim. agora já percebi :P

Fátima Inácio Gomes disse...

"Porém, é a droga que escolhe quem a consume e não o consumidor que escolhe consumir, pois eu não escolho quando a inspiração vem ter comigo: só escolho aproveitá-la ou não."
Isto soa muito ao mito do "escritor romântico", aquele que fica como que possuído, inspirado :)