segunda-feira, 16 de maio de 2011

Desvaneios de uma imagem


Sociedade, Sociedade, Sociedade! Vivemos nós numa Sociedade? Ainda se pode chamar sociedade ao conjunto de pessoas que vivem em torno de nós?
Nos dias de hoje, somos bem capazes de ir a uma igreja e nem sequer cumprimentarmos a pessoa que está ao nosso lado. Somos capazes de não conhecer o nosso vizinho mais próximo, o vizinho que mora alguns anos naquela casa, mesmo em frente à nossa. Quando nos deparamos a primeira vez com ele achamos que este é completamente novo na cidade.
Será isto uma sociedade? Um Conjunto de pessoas que vivem próximas umas das outras e são estranhas umas as outras? Será que não estamos a banalizar o conceito de Sociedade como fizemos com tantos outros?
Na mais pura das minhas opiniões, sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações, costumes e, muito importante, que interagem entre si.
Um agrupado de pessoas que não consegue compartilhar um grão de arroz, um "puco" de massa, sal, que não é capaz de ajudar o vizinho pois nem o conhece, que não consegue interagir, nem com um mero “Bom dia”, não é, de todo, uma sociedade.
Agora acho que todos conseguem perceber a minha indignação perante a banalização do conceito de sociedade! Pois aquilo em que muitos vivemos não é uma sociedade, é apenas um conjunto de pessoas frias e cruas, tapadas pelo trabalho, incapazes de comunicar entre elas! Pessoas que nos podem ouvir queixar com dores, mas que nos deixam ficar lá sozinhos com o nosso espírito.
Sociedade? Acho que já todos percebemos que sociedade é uma coisa rara como o ouro nos dias de hoje! Deixamos que a sociedade ideal fosse levada para bem longe e ficássemos sozinhos!
Cada um vive sozinho com a sua alma e o seu pensamento, rodeado por gelo! Gelo impenetrável e que nos torna mais frios a cada dia que passa!
Será que este gelo vai derreter e nos vai deixar voltar a uma sociedade como já fomos? Ou será que, quando este gelo que nos rodeia, que nos separa uns dos outros, derreter já nos arrefeceu demais e não vamos deixar de ser pessoas frias?

Diogo Mota

sábado, 14 de maio de 2011

Inspirada por Camões...


Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões   


Amor, esta coisa que desencadeia em nós a felicidade e o desejo, mas, simultaneamente, emana dele o sofrimento e a ilusão.
É, seguramente, dos sentimentos mais complexos e o que causa mais dor, mas provavelmente, o mais emocionante e o mais vivido… o mais intenso! Então porquê ele ter a capacidade de nos iludir e de nos reduzir a migalhas diante da tal pessoa? A tal, faz-nos esquecer de nós mesmos. Conquista-nos. O amor causa dependência, controla demasiado a nossa vida, expõe-na, cansa-a. Mas, como contraditório que é, ele também activa a vida, dá-lhe sabor, cor e cheiro, dá-lhe sentido. Sensações tão contrárias que o amor nos traz e mesmo assim consegue ser irresistível, inevitável e encantador. Não gere medidas. E faz-nos, por isso, perder a cabeça, abandonar a razão e guiar-nos pelo coração. Não, o amor não é cego, nós é que somos cegos! Cegos por nos deixar levar por ele e pelo seu encantamento. É o que faz de nós humanos… O amor torna-nos seres mais sensíveis e sonhadores. Estimula a capacidade de amar e a capacidade de entrega ao outro. Proporciona alegrias explosivas e choros inconsoláveis. É o nosso mal e o nosso bem, é a doença que todo o mundo tem.
É ele, por si só, o Amor.



A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Para nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

(Excerto da música “Ouvi Dizer”- Ornatos Violeta)





Ana Luisa, 10º A

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ela...





Ela.









Ele acordou. Ele sabia o que tinha a fazer. Ele era monótono, cansado, frio, velho. As primaveras corriam e ele, lentamente, vivia. Depois de todas as normas e etapas que resumem um acordar, ele olhou-a. Da janela, da única perspectiva que fazia dele, um ser. Era longe, mas da distância que prendia o seu corpo à alma, ele via-a. Cabelos louros, corpo esguio, pele clara, descalça, corria com os miúdos, corria como se voa, livre. Livre de tudo, única, assim o tempo passava, e ele via-a.
            Pouco lhe diziam os campos, todos cobertos de silvas e mato, pouco lhe importava a herança, pouco lhe importava a vida. Saia de casa excepcionais vezes, pois apesar de a sua fonte de existência ser o espaço aberto pelo qual o vento e o sol entram, por onde as cortinas azuis perdem cor, o seu corpo não se alimenta apenas de sentimento. Ao sábado de manhã, depois de fechada a janela, ele saia. Na praça havia vida. Nele havia ansiedade. A fruta mal escolhida, a janela está fechada. Voltou a casa. Abriu a janela e vivia. Os miúdos brincavam, ela cozinhava, ele olhava-a, ela era nova, ele velho. Pouco mais do que jovem ela era. Ele via-a. Ele era pouco mais do que jovem quando a via. Os cotovelos cansados de serem apoio e os dedos adormecidos pela barba branca, arranjavam novas posições, novas formas de se sentirem bem. Ele, olhava-a. Ela lá estava, sempre. Não o via, não o sentia. Ele não a deixava de sentir.
            A coragem, sempre lhe faltou, o sentimento era único, amor. Há décadas atrás ele era novo, ela pouco mais do que jovem era. Ele não a conhecia, a janela estava fechada e as cortinas azuis. Ele brincava com os garotos da idade, ele tinha família, ela era desconhecida. Até aquele dia, o pão quente do trigo semeado nos campos vizinhos chegara. E com ele vieram as mãos pálidas, o sorriso profundo, os cabelos louros, ela. Ela trazia o pão, ele aceitou o pão e a alma. Ele abriu a janela.
            Desde então os anos passaram. Ele não os sentia, sentia o vento do Outono, sentia a chuva intensa do inverno, o sol brilhante do verão, ele sentia-a.
            No dia seguinte ela não estava lá, da janela só se via o mato, as silvas, a dor. Ele não a via, Ela deixou de ser vista pouco depois de quando era jovem. Mas ele viu-a até então. Ele sentia-a até então.
            A janela estava fechada. Ele, adormeceu.


Luís Loureiro 

Gospel



Eles são a prova de que um acto vale mais do que mil palavras.

Não falam, ou pelo menos não falam a nossa língua, e ainda assim é possível amá-los de um modo que não tem explicação. É possível amá-los incondicionalmente. Eles mordem-nos, eles murcham as orelhas, dizem que não querem e fazem-nos cair. Atiram-nos cá para baixo e fogem a correr, não esperam por nós! E ainda sim, é uma alegria vê-los. É uma paixão por eles! Controlam, por vezes em demasia, a nossa vida e é impossível resistir-lhes.

Mas um acto vale mais do que mil palavras, e cada vez que o vejo sei que nunca o vou deixar. Eu entro na boxe, ele murcha as orelhas. Eu escovo-lhe o pêlo, ele murcha as orelhas. Eu monto, ele foge. Eu estou a montar e ele vem morder o meu estribo. Eu erro, ele pára. Ele pára, provavelmente eu caio. Eu caio, ele foge. Eu dou-lhe banho, ele pisa-me! Eu ponho-o na boxe, ele foge e nem me deixa tirar o cabeção. Eu dou-lhe uma cenoura, ele consegue trincar-me o dedo também! Eu dou-lhe ração, ele murcha as orelhas.

Mas: Eu dou-lhe uma festa e ele encosta-se e pede mais. Eu encosto-me a ele e ele fica quieto, a segurar-me. Eu chamo "Gospel!" e ele levanta a cabeça com o seu ar imponente à minha procura. Eu não erro e ele salta, e dá tudo por tudo para fazê-lo bem. Eu não erro, e ele faz-me ganhar. E sem a vontade dele não seria possível.
Eu estendo-lhe a mão, ele lambe-a, olha para mim com aqueles olhos e conquista-me. Não diz nada… Mas também, palavras para quê?


Ana Luísa, 10º A

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Devaneios sobre uma imagem







É impressionante como as pessoas entram e saem tão rapidamente das nossas vidas. E depois de várias tentativas falhadas, admiro imenso quem tem a capacidade de não se “prender” a alguém, quem me dera fazer o mesmo…

Durante muitos meses tive a certeza que eras aquela pessoa em que há tempos eu falava, aquela pessoa que eu via como um herói, aquela pessoa com que eu sempre sonhara, aquela pessoa com quem eu queria fazer história. Contava contigo para tudo, partilhava coisas contigo que nunca com outra pessoa fui capaz, sempre te tive do meu lado.

Às vezes olho para trás e relembro tudo o que passou, e vejo que há algum tempo que isto se repete. Já tivemos momentos muito bons mas também já tivemos momentos maus. Estes foram os momentos que nos deixaram de rastos, tristes, um sentimento inexplicável que se construía dentro de nós. E foram esses momentos que acabaram connosco. Que acabaram com o que tínhamos, talvez porque não fomos suficientemente fortes para conseguirmos ultrapassá-los juntos ou, por mais que me doa dizer isto, talvez simplesmente porque nunca fui importante para ti. Por vezes, recordo-me de pessoas ditas amigas que tentaram separar-nos, amigos que, na nossa cabeça, só queriam o nosso bem, mas na realidade nunca foi bem assim. Não acreditam sequer que tudo o que tínhamos foi construído somente por nós. Tenho muitas memórias boas de coisas que me deixaram feliz pelo simples facto de teres estado comigo naquele tempo todo, mas não passam disso, memórias. 

Tudo o que queria era não dar importância às pessoas que se querem pôr no nosso meio, que nos querem separar. Queria tornar tudo à nossa volta a preto e branco e apenas nós a cores. Mas isso não passa de ilusões minhas, já passou da hora de eu acordar para a realidade, dura e fria realidade. Por isso peço-te, não voltes. É verdade que deixaste saudade, mas, sinceramente, não voltes. Durante noites frias tive como companhia apenas a tua ausência, e habituei-me a ela. Habituei-me ao cair duma lágrima com determinada música ou fotografia. Habituei-me ao enorme vazio que deixaste em mim. Tanta confusão, dor e sofrimento e eu continuo aqui, apenas eu e a tua ausência. Cansei de ficar à tua espera, agora seremos apenas eu e a tua ausência. Sem compromissos ou chatices, eu estou para ela tal como ela está para mim. E esta sim, sei que não irá me abandonar. 


Mayara, 10º A

Devaneios sobre uma imagem






Está frio lá fora. Frio demais.
Mas o frio desvanece quando te aproximas… Mesmo que o sinta exteriormente, sei que estás lá tu para extenuar a sensação gélida que me percorre o corpo. Tu próprio me arrepias como se fosses um cubo de gelo. Ao invés, aqueces-me por dentro.

Esse calor interior permanece mesmo com as temperaturas negativas, o vento vigoroso ou a chuva intensa. Este frio que me arrefece os pés, faz o meu corpo pedir calor, lã de ovelha, aquecedor! Mas tu vales por isso, és fogo em mim. A mente esquece a sensação gelada que as mãos sentem e fixa-se em ti, no calor que interiormente me proporcionas. Esse calor só não aquece, mas preenche. Fecha as gretas que o frio cria nas mãos, abre sorrisos, esquenta a vida. Por isso sei que, mesmo que faça frio, em dias gelados de inverno, não vou ter medo que o corpo esfrie, porque não o vou sentir, porque vais estar lá tu a encobrir essa sensação. É por isso que me explicas o facto de o amor ter o poder de camuflar as coisas negativas e frias e atiçar o que é bom de se sentir: o calor, o complemento. Por isso sei que este frio que sinto é atenuado pelo sentimento que nutrimos, por este amor que alimentamos, pelo companheirismo e pela saudade.
Está frio, frio demais! Mas o frio que sentia esvaneceu-se quando te aproximaste. Fiquei quieta a olhar para ti, congelada, de pele gretada, mas de coração quente e feliz.


Ana Luísa, 10º A

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Devaneios sobre uma imagem



MADRUGADA








São quatro horas da manhã e estou na varanda. Faz frio cá fora, muito mesmo, mas não consigo voltar para dentro. Dentro do meu quarto faz ainda mais frio. Não deste frio que sinto agora, mas doutro bem pior. Não estás cá e sinto a tua falta. Não consigo dormir. A minha cabeça só se ocupa de ti. Estou cansada, tenho sono, dói-me a cabeça de tanto te lembrar e, pior que tudo, não consigo voltar para dentro.

Prefiro ficar cá fora, com o vento a empurrar-me as lágrimas, tão gelado, mas, ainda assim, mais quente que o meu coração. Não suporto voltar para dentro e não te ver na minha cama à minha espera, deitar-me com o frio de quatro paredes e um coração partido. Cá fora não me sinto só. Nem acompanhada. Mas não me sinto só. E enquanto me sinto enregelar cá fora, não desespero lá dentro.

Chamem-me exagerada, se quiserem. Invejo quem nunca passou uma noite em claro por causa de alguém que ama, quem nunca acordou com vontade de voltar para a cama e dormir, só porque tudo lhe pesa tanto que não consegue respirar, quem nunca adormeceu com a cara molhada.

Sento-me no chão e a escuridão da noite não me incomoda. Constato que, nos filmes, tudo é mais perfeito do que aqui. Nos filmes reina um silêncio total, e a personagem não é incomodada. Já eu, sentada no chão, ouço o meu vizinho mandar os filhos ir dormir e lembro-me da minha mãe, que tantas vezes entrou de rompante no meu quarto, interrompendo-me a melancolia e mandando-me dormir, porque no dia seguinte tinha escola. Não lhe dizia nada e obedecia. Que lhe diria? Que me deixasse morrer e que não se preocupasse com a mundana escola? Não o poderia fazer, ainda que o desejasse.

Tudo mudou. Não vivo mais com os meus pais, não tenho mais a idade que tinha, mas continuo a fugir para a varanda. Poderia ficar aqui a noite toda com os meus dramas de vida, mas de que me adiantaria? Além do mais, o frio interior não se trata com o exterior. Já este último é fácil de tratar. Volto para dentro do quarto, onde o calor inesperado me conforta o corpo, mas não a alma. Deito-me e sinto novamente o frio. Lembro-me então de noites mais frias onde me sentia quente, por dentro. Eras tu quem estava a meu lado e eu não sentia frio algum. E ironicamente, no meio dos meus lençóis, cobertores e edredões não consigo aquecer. E fecho os olhos naquele vazio gelado. Vejo-te nitidamente. Estás marcado a ferros em mim. E vou-te imaginando, adormecendo por fim. O meu desejo era não acordar.


Inês Silva, 10º A

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Devaneios sobre uma imagem



DEVANEIO

(nome masculino)

 
1. acto ou efeito de devanear;
2. fantasia; sonho; quimera;
 3. desvario; delírio.          
   



Poderia ter escolhido mil imagens.
Escolhi esta, pela sua delicadeza, e pela sua força. Pela solidão, e pela companhia.
São vários os caminhos que podem seguir... um desses será o caminho do vosso devaneio.




Aguardo os vossos trabalhos. Até ao fim do mês.