segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois


Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.


Eu não tinha que ter esperanças - tinha só que ter rodas...
A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...
Quando eu já não servia, tiravam-me as rodas
E eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.

Alberto Caeiro


Sim, quem dera que assim fosse para não ter que lutar por cada dia que passa. Todos os dias todos nós temos de lutar e nunca a luta é igual, pois nunca passamos pelas mesmas situações duas vezes. Todos os dias o caminho é diferente e se hoje vamos pela direita, amanhã poderemos ir pela esquerda, mas nunca voltando atrás, pois como o Caeiro, diz não devemos estar sempre a olhar para trás, mas devemos sempre seguir em frente com a cabeça erguida. Ter objectivos faz-nos lutar pelo que queremos, mas muitas vezes perdemos as lutas e aí todos nós preferíamos ter rodas para assim seguirmos sempre em frente, e se é difícil subir, iremos pensar que descer é muito mais fácil e que irá valer a pena.

Caeiro, com este poema, fez-me realmente pensar o que eu quero com a vida, se ser um carro de bois, se ser uma pessoa, se quero ter simplesmente rodas ou, então, esperanças. Sim, eu quero ter esperanças! Quero lutar todos os dias, não quero voltar pelo mesmo caminho, mas sim seguir sempre caminhos diferentes para atingir tudo o que quero.

Por vezes, gostava de ser como Caeiro, não pensar, mas logo vejo que isso é impossível. Não pensar seria um grande transtorno, pois se estou onde estou foi por ter pensado muitas vezes antes de fazer algumas coisas, foi por ter pensado que escolhi tudo o que tenho agora. E tenho de continuar a pensar naquilo que realmente quero. Não nego que, por vezes, preferia não pensar para não sofrer, mas todos nós temos de sofrer para dar valor àquilo que temos realmente de bom, aquilo que nos faz felizes, pois nós “gozamos pouco o muito que temos” e não damos o mínimo valor àquilo que realmente nos faz feliz.

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