domingo, 26 de novembro de 2006

Cesariny... a "máquina de passar vidro colorido"



Nasceu em Lisboa, no dia 9 de Agosto de 1923. Morreu, nesta madrugada.
Mário Cesariny de Vasconcelos foi poeta, pintor e, acima de tudo, um grande provocador! Bastava isso para que tão intensamente tivesse "aprendido" a ser Surrealista... mas o que é isso de Surrealismo, perguntarão!... é precisamente isso, sair da realidade, do real! Para os surrealistas, a Imaginação seria o campo de criação por excelência e, por isso, procuravam-na onde ainda se encontrava em estado puro... na infância, na loucura, na insónia, no sonho, na alucinação...
Daí que, no Manifesto do Surrealismo , André Breton (o seu fundador, na França, e que Cesariny conheceu pessoalmente, em 1947) tenha afirmado:
Nao é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio-pau a bandeira da imaginaçao

Na pintura, conhecerão nomes como Picasso e Dalí... estão a ver o estilo! ;)
Mas Cesariny também teve uma palavra na pintura surrealista: as suas escorrências de tinta (técnica desenvolvida no surrealismo) estão entre as primeiras realizações a nível mundial, por volta de 1947!

Já agora... lembram-se de falarmos de Fernando Lopes Graça, por causa da sua crítica ao filme "A Severa"? Cesariny e Lopes Graça frequentaram o mesmo Liceu e Cesariny teve lições de piano com o amigo.

Cesariny foi também um anti-salazarista convicto... quer nas colagens pictóricas, quer na poesia, satirizava o governante e não é de estranhar que essas obras circulassem à escondidas! Provocador, opunha ao "Deus-Pátria-Família" salazarista a sua própria máxima "Poesia-Amor-Liberdade".

Deixo-vos com a palavra do poeta...

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Cinema na Escola!!!


Eis uma belíssima iniciativa dos Núcleos de Estágio de Inglês-Alemão, de Matemática e de Educação Física da nossa escola, em colaboração com o Cine Club de Barcelos - Zoom!... chama-se QUARTAS ÀS CORES e começa a rodar já na próxima quarta-feira com o polémico filme, do genial realizador Stanley Kubrick, "A Laranja Mecânica".
Não, não é a selecção holandesa :P, é um filme de 1971 que causou grande polémica na altura, por ter sido considerado "muito violento".
De facto, este não é um filme fácil, nada aconselhável a mentes mais sensíveis, não pela violência da imagem (ou, não só...), mas pela violência da mensagem: Kubrick retrata uma hipotética sociedade futurista (do longínquo século XXI!!!!)onde se pretendia erradicar o mal do ser-humano. Fantástico, não é?... o problema é que, para isso, utiliza mecanismos técnicos e psicológicos para extirpar o Mal e incutir o Bem num indivíduo, no caso, um assassino. O “novo” indivíduo resultante dessa "experiência" será como uma laranja mecânica: something wich was capable of taste, colour, richness and sweetness like an orange (a person) could be turned into a robot or na automaton that obeyed purely mechanical or reflex driven laws.

Quanto ao resto... vejam, se se atreverem. ;-) (mas... atenção, o filme não é mesmo adequado se forem sensíveis.)
Querem saber mais?


Para análise aprofundada do filme:

Olha o belo do Marialva!!!!


Pois isto do Marialva, como vos tinha dito, não se limita ao amante nobre da Severa!... Ah, pois não! Por isso vos deixo o excerto da entrevista de que vos falei na aula, para verem como o tema é, ainda, tão actual! ;-)

Excerto de uma entrevista de Margarida Lencastre a Júlio Machado Vaz:

"Conceitos como a Igualdade de Direitos entre os géneros parecem ser mais ou menos consensuais. Contudo, os números da violência doméstica mantêm-se e parecem atingir até a fase de namoro. Por outro lado, para muitos homens, mesmo com relações estáveis, aparentemente continua a fazer sentido o sexo pago. Como analisa este "paradoxo"? O "macho latino" mantêm-se vivo e de boa saúde?

O macho latino mantém-se vivo e de boa saúde, realmente. Com mais dúvidas existenciais, uma demão espessa de discurso politicamente correcto e um medo inconfessável de pelo menos algumas... mulheres. As que não se limitam a estar mais disponíveis nas «reservas de caça», mas se assumem como gente de obrigações e direitos inteiros. Incluindo o de caçar... Quanto à violência, não esquecer que certas mulheres também a ela se entregam com volúpia, sobretudo a verbal. Sem surpresa, não sou adepto de visões essencialistas do feminino, que desaguam em visões paradisíacas de um mundo entregue às mulheres e suas virtudes «típicas».

O "marialvismo" ê uma variante nacional do "macho latino"? Como se explica que este modelo se mantenha, por vezes com a conivência das mulheres?
Se consultarmos o dicionário, verificaremos que o «marialvismo» não passa de um machismo à portuguesa, com boas famílias, noitadas, fado e touros na lapela. Parece-me decididamente em vias de extinção. O «machismo global também perdeu algumas «medalhas» mais aparentes, mas seria um erro decretar-lhe um fim próximo. Em todas as camadas sociais há mulheres que contribuem para a perpetuação dos estereótipos de género, não só por os suportarem - se possuem autonomia suficiente para os iludirem... - como também através da educação dos filhos. Continua a ser regra que os jovens machos usufruam de privilégios negados às suas irmãs. Uma espécie de «hemofilia cultural»: as mães transmitem o gene do machismo, embora não sofram da doença. (Ou sofrerão? Será necessário o cromossoma Y para defender e praticar, consciente ou inconscientemente, uma ideologia que pressupõe uma relação de poder assimétrica entre os sexos? Não será cómodo viver no bolso de quem exerce o poder?)"

(Revista Notícias Magazine de 19 Nov. 2006)

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Tomai lá, do O'Neill!!!!

O título não é inocente... a Antologia Poética do Alexandre O'Neill tem este nome, atrevido e desafiador, como ele mesmo!

Este post tem como destinatários todos os meus alunos interessados em poesia, mas, muito particularmente, os alunos do 10ºC!... é que no teste de avaliação deles, quem falava era, precisamente, O'Neill, que falou do seu poema "Um Adeus Português" e da sua amiga Nora Mitrani.


Sobre Nora Mitrani, deixo-vos a informação de que suicidou, em 1961, e de que O'Neill lhe dedicou seis poemas, estes sim, dedicados a ela, absoluta e assumidamente!...


Para ti o tempo já não urge,
Amiga.
Agora és morta.(Suicida?)
Já Pierrot-vomitando-fogo

(sempre ao serviço dos amantes)
não entra no nosso jogo
como dantes.


Mas esse obscuro servidor,
que promovemos uma vez
(ainda eu não te dedicara
aquele adeus português...),
corre, lesto, como uma chama,

entre nós dois (o saltarim!)
e desafia-nos prá cama.
Esperas por mim?




E deixo-vos, agora, o celebrado "Adeus Português", de Alexandre O'Neill!

Peço-vos (e falo para os alunos do 10ºC) que comentem este poema, brevemente, dando conta da impressão com que ficaram: adequa-se àquilo que pensaram quando leram o texto do teste? Encontraram nele o nojo, a revolta, a paixão adolescente de que o poeta falava? E pensam que fala mais de amor ou de contestação política?

Aguardo as vossas opiniões (e, com certeza, todos os outros alunos são livres de comentar! :D)


Adeus Português


Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada


Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor


Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver


Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual


Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal


Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser


Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal


Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura por ti.





Eis um site onde podem ler mais sobre o poeta, de um modo bem descontraído:
http://www.vidaslusofonas.pt/alexandre_o_neill.htm

O Manifesto Anti-Dantas!

Aqui vos deixo todo o Manifesto... é grande, eu sei, mas um Manifesto é "coisa grande", não acham?... Leiam, nem que seja por alto! Leiam aquelas frases lapidares que consagraram este Manifesto!... há, depois, certas partes, que vos escapará muito do significado, pois são alfinetadas directas a personalidades da época


"Basta pum basta!!!
Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro impotente!
Uma geração com um Dantas ao leme é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Dantas!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soror Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Avis, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!
O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rossio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe o que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa!
O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem não core quando diz admirar o Dantas!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
Vocês não sabem quem é a soror Mariana do Dantas? Eu vou-lhes contar:
A princípio, por cartazes, entrevistas e outras preparações com as quais nada temos que ver, pensei tratar-se de soror Mariana Alcoforado a pseudo autora daquelas cartas francesas que dois ilustres senhores desta terra não descansaram enquanto não estragaram pra português, quando subiu o pano também não fui capaz de distinguir porque era noite muito escura e só depois de meio acto é que descobri que era de madrugada porque o bispo de Beja disse que tinha estado à espera do nascer do Sol!
A Mariana vem descendo uma escada estreitíssima mas não vem só, traz também o Chamilly que eu não cheguei a ver, ouvindo apenas uma voz muito conhecida aqui na Brasileira do Chiado. Pouco depois o bispo de Beja é que me disse que ele trazia calções vermelhos.
A Mariana e o Chamilly estão sozinhos em cena, e às escuras, dando a entender perfeitamente que fizeram indecências no quarto. Depois o Chamilly, completamente satisfeito, despede-se e salta pela janela com grande mágoa da freira lacrimosa. E ainda hoje os turistas têm ocasião de observar as grades arrombadas da janela do quinto andar do Convento da Conceição de Beja na Rua do Touro, por onde se diz que fugiu o célebre capitão de cavalos em Paris e dentista em Lisboa.
A Mariana que é histérica começa a chorar desatinadamente nos braços da sua confidente e excelente pau de cabeleira soror Inês.
Vêm descendo pla dita estreitíssima escada, várias Marianas, todas iguais e de candeias acesas, menos uma que usa óculos e bengala e ainda toda curvada prá frente o que quer dizer que é abadessa.
E seria até uma excelente personificação das bruxas de Goya se quando falasse não tivesse aquela voz tão fresca e maviosa da Tia Felicidade da vizinha do lado. E reparando nos dois vultos interroga espaçadamente com cadência, austeridade e imensa falta de corda... Quem está aí?... E de candeias apagadas?
- Foi o vento, dizem as pobres inocentes varadas de terror... E a abadessa que só é velha nos óculos, na bengala e em andar curvada prá frente manda tocar a sineta que é um dó d'alma o ouvi-la assim tão debilitada. Vão todas pró coro, mas eis que, de repente, batem no portão sem se anunciar nem limpar-se da poeira, sobe a escada e entra plo salão um bispo de Beja que quando era novo fez brejeirices com a menina do chocolate.
Agora completamente emendado revela à abadessa que sabe por cartas que há homens que vão às mulheres do convento e que ainda há pouco vira um de cavalos a saltar pla janela. A abadessa diz que efectivamente já há tempos que vinha dando pela falta de galinhas e tão inocentinha, coitada, que naqueles oitenta anos ainda não teve tempo pra descobrir a razão da humanidade estar dividida em homens e mulheres. Depois de sérios embaraços do bispo é que ela deu com o atrevimento e mandou chamar as duas freiras de há pouco com as candeias apagadas. Nesta altura esta peça policial toma uma pedaço d'interesse porque o bispo ora parece um polícia de investigação disfarçado em bispo, ora um bispo com a falta de delicadeza de um polícia d'investigação, e tão perspicaz que descobre em menos de meio minuto o que o público já está farto de saber - que a Mariana dormiu com o Noel. O pior é que a Mariana foi à serra com as indiscrições do bispo e desata a berrar, a berrar como quem se estava marimbando pra tudo aquilo. Esteve mesmo muito perto de se estrear com um par de murros na coroa do bispo no que se mostrou de um atrevimento, de uma insolência e de uma decisão refilona que excedeu todas as expectativas.
Ouve-se uma corneta tocar uma marcha de clarins e Mariana sentindo nas patas dos cavalos toda a alma do seu preferido foi qual pardalito engaiolado a correr até às grades da janela gritar desalmadamente plo seu Noel. Grita, assobia e rodopia e pia e rasga-se e magoa-se e cai de costas com um acidente, do que já previamente tinha avisado o público e o pano cai e o espectador também cai da paciência abaixo e desata numa destas pateadas tão enormes e tão monumentais que todos os jornais de Lisboa no dia seguinte foram unânimes naquele êxito teatral do Dantas.
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a soror Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana-aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.
Continue o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o Alcufurado e há-de ver que ainda apanha uma estátua de prata por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes pró seu monumento erecto por subscrição nacional do "Século" a favor dos feridos da guerra, e a Praça de Camões mudada em Praça Dr. Júlio Dantas, e com festas da cidade plos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas" e pasta Dantas prós dentes, e graxa Dantas prás botas e Niveína Dantas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas, Dantas... E limonadas Dantas- Magnésia.
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor de Os Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modéstia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume literatura portuguesa? Não Mil vezes não!
Temos, além disto o Chianca que já fez rimas prá Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos pra ser a derrota do Chianca.
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avózinha! E as infelicidades de Ramada Curto! E o talento insólito de Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só pra homem do ilustríssimos excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o frei Matta Nunes Moxo! E a Inês Sifilítica do Faustino! E as imbecelidades do Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e do Paiz e do Dia e da Nação e da República e da Lucta e de todos, todos os jornais! E os actores de todos os teatros! E todos os pintores das Belas-Artes e todos os artistas de Portugal que eu não gosto. E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez do Oldemiro César e o Dr. José de Figueiredo Amante do Museu e ah oh os Sousa Pinto hu hi e os burros de cacilhas e os menos do Alfredo Guisado! E (o) raquítico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Lucta a quem Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais das Belas-Arte(s)! E todas as maquetas do Marquês de Pombal! E as de Camões em Paris; e os Vaz, os Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camacho, os Cunha, os Carneiro, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os arranjistas, os impotentes, os celerados, os vendidos, os imbecis, os párias, os ascetas, os Lopes, os Peixotos, os Motta, os Godinho, os Teixeira, os Câmara, os diabo que os leve, os Constantino, os Tertuliano, os Grave, os Mântua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Matos, os Alves, os Albuquerques, os Sousas e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!
E as convicções urgentes do homem Cristo Pai e as convicções catitas do homem Cristo Filho!...
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme, ao Eça e ao despertar e a tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mas atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
Morra o Dantas, morra! Pim! "

José de Almada Negreiros Poeta d'Orpheu Futurista E Tudo
1915



Que me dizem? é ou não é corrosivo? Comentem, por favor!

domingo, 19 de novembro de 2006

Não, não é um touro!!!... :P

Pois para que não restem dúvidas, aqui têm informação sobre a Severa, essa figura mítica que até inspirou o primeiro filme sonoro português!... cultura geral, meus amigos, cultura geral!... ;)








A Severa de Leitão de Barros
com Dina Teresa (Severa), António Luis Lopes (D. João, o Conde de Marialva), António de Almeida [Lavradio] (D. José), Ribeiro Lopes (Custódia), Silvestre Alegrim (Timpanas Boleeiro), António Fagem (Romão Alquilador) e Augusto Costa/Costinha (Marquês de Seide).







Sinopse:
História passada no século dezanove que narra as aventuras dum jovem cavaleiro, D. João, Conde de Marialva, dividido pelo amor da mítica e insinuante cigana Severa - a quem a lenda consagrou como fadista desditosa - e uma fidalga. Enredo ambientado nas lezírias e nas touradas.


Observações:
Primeiro filme sonoro português. Dado que na altura ainda não havia meios para tratar o som em Portugal, este foi trabalhado em Paris nos estúdios da Tobis Francesa.
Adaptação da obra homónima da autoria de Júlio Dantas. Entre os vários colaboradores de Leitão de Barros neste filme conta-se o cineasta francês René Clair, na planificação do filme.
Estreou no São Luíz, num ambiente de acontecimento nacional, em 18 de Junho de 1931, e esteve mais de 6 meses em cartaz, tendo sido visto por 200 mil espectadores.

"A Severa é sobretudo uma crónica visual de gente triste e desajeitada (...). E que, entre campinos nas lezírias (a soberba abertura do filme), touradas à antiga portuguesa e quase todo o arsenal folclórico, vai desencantar uma tipologia humana, que aceita sem revolta a fatalidade e a miséria e dessa inércia ou desse abandono retira a sua força dramática. É nesse sentido que "A Severa" foi e é um dos mais admiráveis retratos de Portugal, combinando a pequena maldade com a grande complacência. Poucos imaginários visuais nos restituíram tão bem "séculos de existência entre uivos de heroísmo e renúncias inconfessadas".


João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, col. Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1991.


in http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?FilmeID=275

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Favores em Cadeia

Vou abrir eu as hostilidades! E faço-o para vos contar do filme que vi ontem, Favores em Cadeia, de Mimi Leder. Não sei se o viram também (já deviam era estar na caminha... e eu deveria ter estado a corrigir testes... mas, perdi-me!!! ooops)... apesar de ser a segunda vez, não deixei de me comover. Além das belíssimas interpretações dos actores (aquele miúdo, Haley Osment, é um talento!), foi a mensagem que me tocou... e o fim, onde chorei, mais uma vez, baba e ranho - que querem?!... eu sou uma lamechas! ;-)

Já pensaram como, de facto, embora não tenhamos a capacidade de mudar o mundo, podemos sempre mudar o mundo de alguém?... a vida é feita de pequenas coisas que, por vezes, à força de olharmos só para as grandes, passam desapercebidas. Talvez seja altura de acarinharmos os pequenos gestos...

E vocês? Acreditam que poderiam mudar alguma coisa com algo do tipo de "Favores em Cadeia"?

Nota - para quem não conhece o filme - a história é simples: um miúdo de doze anos resolve desenvolver um projecto para a escola, a pedido do professor - pensa, então, nos Favores em Cadeia; ele faz um favor a três pessoas (algo grande, significativo, por exemplo, ajudar um toxicodependente a reabilitar-se) e cada uma dessas pessoas terá depois de fazer outro "favor" a outras três pessoas e por aí fora - e o movimento cresceu, sem que ninguém o controlasse... (se quiserem saber mais... vejam o filme! :P)

sábado, 11 de novembro de 2006

Bem-Vindos!!!!


Espero que tenham gostado da ideia!


Acima de tudo, este espaço será vosso. Será o espaço para escrever aquilo que, quantas vezes!... a aula de Português não permite, por falta de espaço, por constrangimentos do programa...

Aqui, poderão apresentar aqueles textos vossos que ficaram guardados no desvão da vossa timidez, ou aquelas ideias giras que querem partilhar com os colegas (e a professora!...), ou a manifestação da vossa revolta face a um problema social, ou um pensamento... ou, simplesmente, para matar saudades...


Porque... o silêncio é um muro,
as palavras caladas,
punhais...

a vossa amiga,
Fátima Inácio Gomes