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Pois isto do Marialva, como vos tinha dito, não se limita ao amante nobre da Severa!... Ah, pois não! Por isso vos deixo o excerto da entrevista de que vos falei na aula, para verem como o tema é, ainda, tão actual! ;-)
Excerto de uma entrevista de Margarida Lencastre a Júlio Machado Vaz:
"Conceitos como a Igualdade de Direitos entre os géneros parecem ser mais ou menos consensuais. Contudo, os números da violência doméstica mantêm-se e parecem atingir até a fase de namoro. Por outro lado, para muitos homens, mesmo com relações estáveis, aparentemente continua a fazer sentido o sexo pago. Como analisa este "paradoxo"? O "macho latino" mantêm-se vivo e de boa saúde?
O macho latino mantém-se vivo e de boa saúde, realmente. Com mais dúvidas existenciais, uma demão espessa de discurso politicamente correcto e um medo inconfessável de pelo menos algumas... mulheres. As que não se limitam a estar mais disponíveis nas «reservas de caça», mas se assumem como gente de obrigações e direitos inteiros. Incluindo o de caçar... Quanto à violência, não esquecer que certas mulheres também a ela se entregam com volúpia, sobretudo a verbal. Sem surpresa, não sou adepto de visões essencialistas do feminino, que desaguam em visões paradisíacas de um mundo entregue às mulheres e suas virtudes «típicas».
O "marialvismo" ê uma variante nacional do "macho latino"? Como se explica que este modelo se mantenha, por vezes com a conivência das mulheres?
Se consultarmos o dicionário, verificaremos que o «marialvismo» não passa de um machismo à portuguesa, com boas famílias, noitadas, fado e touros na lapela. Parece-me decididamente em vias de extinção. O «machismo global também perdeu algumas «medalhas» mais aparentes, mas seria um erro decretar-lhe um fim próximo. Em todas as camadas sociais há mulheres que contribuem para a perpetuação dos estereótipos de género, não só por os suportarem - se possuem autonomia suficiente para os iludirem... - como também através da educação dos filhos. Continua a ser regra que os jovens machos usufruam de privilégios negados às suas irmãs. Uma espécie de «hemofilia cultural»: as mães transmitem o gene do machismo, embora não sofram da doença. (Ou sofrerão? Será necessário o cromossoma Y para defender e praticar, consciente ou inconscientemente, uma ideologia que pressupõe uma relação de poder assimétrica entre os sexos? Não será cómodo viver no bolso de quem exerce o poder?)"
(Revista Notícias Magazine de 19 Nov. 2006)
1 comentário:
oi...
Ainda bem que está em extinção.
Detesto machismos.
Cátia Bogas 10ºC
Bjs
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