Assalta-me uma cadeia de pensamentos que mais se
parecem com correntes de lava e ganchos em brasa, os quais se apegam ao meu cerebelo
entre dois anúncios, um de champô e outro de iogurtes magros:
Chega deste chavascal publicitário e do incentivar
ao meu consumo. Basta desta má programação que se me apresenta diante os olhos.
Chega da casa de secretos de porco e da estupidificação da população. Basta dos
programas da tarde de sorriso postiço e alegria arrepiante e chega dos dramas
saídos de um qualquer livros do Paulo Coelho e derivados, que não fazem mais do
que ocupar tempo, espaço e o Zé Povinho. Morte ao jornalismo que foi tomado de
assalto pelos repórteres que escrevem para a “Maria”! Estes que, em vez de nos
informarem sobre como retirar nódoas de azeite de uma camisa de seda (que seria
mais útil), nos enchem com histórias sensacionais acerca do periquito
malabarista da vizinha do oitavo direito ou, pior ainda, sobre praxes, em que se
toma a parte pelo todo, não que o todo seja de todo apelativo.
Basta dos maus gostos, sim, porque eles existem,
chega dos consumos culturais embrulhados em plásticos. Abaixo com a má música,
abaixo com os maus livros, abaixo com os maus livros outra vez, abaixo com os
maus filmes. Abaixo com tudo que é mau e medíocre, e abaixo com a conformidade
da cultura, e abaixo a preguiça e passividade com a qual o indivíduo devora
tais afrontas. Se o mesmo não pode ser incomodado para se dar ao trabalho de
procurar algo melhor, abaixo também com o indivíduo.
Basta dos nossos políticos, os que cheiram a cravo
murcho, os que cheiravam a peixe, os de verruga, os que eram arquitetos, os que
tiveram equivalência, os coelhos, os que não trabalham e os que trabalham sem
ninguém saber. Abaixo com a nossa falta de ação e abaixo com a ação sem
resultado.
Chega dos bancos, sobretudo dos mancos, que pedem
uma perna emprestada porque alguém lhes roubou a deles.
Basta de igreja e dos murmúrios e das rezas e dos
terços e do ajoelhar e do pôr de pé e do repetir e do acreditar e do falar por
parábolas e do dobrar o joelho só porque pode existir alguém maior e das manhãs
de domingo perdidas e das esmolas dadas e dos fracos de fé e dos cheios de fé e
dos radicais e dos pacíficos. Não! Eu recuso acreditar, porque acreditar é
subjugar e é baixar a cabeça e os olhos e as mãos, basta!
Mas
basta de “bastas”, é preciso ação!
Como música de fundo cantam-me que “quando
ultrapassado o limite do ultraje, toda a violência é legítima autodefesa”.
Pensamento e sentimento partilhado, sobre o qual dormimos, por termos medo de
nos entregarmos, sobre a forma de uma ação a essa ideia. Queimemos tudo!
Queimemos Roma de novo! Levantai-vos frágeis esqueletos e transformai-vos em
homens de rija carne, tomem tudo de volta! Transpirem sangue e medula! Façam
por merecer a existência limitada e façam-na arder à mais alta chama!
E, finalmente… basta deste manifesto, porque acabaram
os anúncios e volto ao que estava a ver, quentinho, à frente da minha televisão,
com uma tontura e cansaço ligeiro.
Tiago Faria, ex-aluno (conclusão 12º, 2009)
4 comentários:
Bravo!!!! e bem-vindo!
Auspicioso regresso de um revolucionário do sofá :) ah! a deliciosa ironia! ;-)
A tua tontura final poderia ser a do Cesário Verde, mas já não estamos em agosto, nem o sol é assim tão forte dentro de casa... pensei, pois, no Campos "Preciso de verdade e da aspirina." :D
Na verdade estava a visualizar um certo senhor de monócoulo espetado que levava bengaladas na escadaria da Universidade de Coimbra
Levava ou dava? :)
Dava nas crónicas de costume e levava dos românticos
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