terça-feira, 13 de outubro de 2020

Manifesto Anti-Vida

 


                                                        Ilustração: Ana Persona

 

Basta PUM Basta!!

Uma geração que não tem o poder de pensar no futuro dos seus, não é geração. É uma cambada de fracos, puritanos, sem diligência sobre si e, mais importante, sobre quem ama.

 

Morra, a Vida, Morra PIM!                                 

                                                         

Devem achar-me tolinha neste momento; olhem uma rapariga tão nova a usar uma antítese sem sentido, num texto que nem deveria estar a escrever. Pois bem, talvez sim, a antítese seja sensacionalista, mas como querem que chame a atenção da sociedade tão sensível e persuadível com que lidamos atualmente?

Morra a vida e viva a Morte!

Ainda devem estar confusos sobre o tema deste manifesto, não se preocupem, que a todos os iluminados desta sociedade que preferem falar sobre o que não pensam em vez de realmente pôr o cerebelo a funcionar, irei explicar já de seguida.

Será a vida, como todos os fundamentalistas e neonazis dizem, um bem adquirido e imutável?

Não, a vida é de quem a vive e a decisão de a continuar ou fazer brotar encontra-se intrínseca em nós.

Será justo trazer ao mundo uma criança e não a amar? Será justo um ser tão inocente sentir-se tão indesejado desde o dia que viu a luz? Será isto melhor que a morte?

Morra a vida, Morra, PIM!

Pensa sociedade, pensa. Sentir-se-iam bem acamados, isolados, abandonados por tudo e por todos, no fim de uma vida em que, como diz Freud, passaram em busca do prazer e a fugir da dor.

Irão estragar tudo o que procuraram atingir por viverem os vossos últimos momentos numa dor insuportável, que vos é imposta pela insistência desta sociedade em dizer que morrer não é natural, que a morte é o fim, que a morte causa dor.

Viva a Morte, Viva PIM!

Somos tão insensíveis que não pensamos, em primeiro lugar, no bem-estar de quem amamos, pensamos apenas na busca pelo prazer, mas, e onde ficou deixar os outros fugir da dor? Somos uns egoístas, bichos sem escrúpulos, criamos dor ao deixar a vida brotar e prolongar-se para além da felicidade de quem a vive e vai viver.

Viva o Aborto, Viva a Eutanásia, PUM, PIM!

E, para piorar a situação, estas vidas por nascer e vidas que querem morrer não têm de lidar apenas com o puritanismo da nossa sociedade, mas também, com dirigentes ignorantes e mesquinhos (para não usar palavras piores que iriam ferir a suscetibilidade dos leitores), que colocam uma rapariga de dezassete anos a pensar se tem mais tino do que quem governa este país e que um futuro na política não seria assim tão difícil quanto isso, bastaria apenas apresentar uma ideia ridícula e ter um pingo de boa oratória, que todos os ignorantes (e olhem que são bastantes), cairiam nas minhas redes (lembra-vos alguém e alguma época que estudaram em história, não lembra?).

Mas muito bem, não perdendo o foco e voltando ao tema. Retirar os ovários a mulheres, parece algo bastante medieval, não parece? Pois, mas aconteceu em pleno séc. XXI no nosso país. A "Moção Estratégica Global para Portugal", do Chega (olhem que nome tão elaborado), defende que as mulheres que abortem deveriam retirar os ovários, justificando que esta proposta iria "retirar ao Estado o dever de matar recorrentemente portugueses por nascer".

Uiii, por onde deverei eu começar. Primeiramente, a meu ver (não que a minha mera opinião interesse muito), o dever do Estado é assegurar o bem-estar da população. Parece-vos a vocês que uma casa com pais sem possibilidades, que tratam mal e porcamente o filho que nunca desejaram ter, vai ser um local feliz? Ok, ok, podem argumentar, num dos vossos meros momentos em que colocam a massa cinzenta a trabalhar, que se o Estado providenciar condições para todas estas crianças já seria moralmente errado abortar. Mas será o amor e o desejo por uma criança algo que o Estado consegue nos dar?

E tocando agora em algo ainda mais repugnante: retirar os ovários. Quem foi o iluminado que achou que isto seria uma ideia revolucionária? Sejam mais criativos, por favor! Retirar às mulheres a sua liberdade, não permitir erros, não permitir que uma péssima mãe, num período em que estaria mal preparada, se torne uma ótima mãe, num futuro assim não tão longínquo, já é algo que se faz há vários séculos.

Mas seria então, mesmo necessário usar um método tão brutal nesta moção, pergunto-me eu, na minha inocência. Pois claro que sim! Então como chamariam eles a atenção desta sociedade tão controlável e sensível, que não deixa os próprios pais morrerem em paz devido a estereótipos morais antiquados.

Esta geração que se deixa comandar por estes ignorantes, por estas convenções sem sentido, que não procura a felicidade e que procura agradar a religiões, a médicos e à sua consciência, em vez de olhar nos olhos de quem vive e de quem irá viver, é uma cambada de  canalhas, indignos, egoístas!

E são tão manipuláveis que me atormenta todas as noites o pensamento de que a opinião, a liberdade de expressão, as ideias críticas e inovadoras que levaram à evolução desta espécie, tenham ficado esquecidas num passado longínquo e que, um dia, ninguém se lembre de as ressuscitar, como não se lembram de colocar o próximo em primeiro lugar.

Morra, a ignorância! Vivam as diferentes opiniões!

Morram as convenções! Viva a empatia, a felicidade e o pensamento crítico e real!

 

Basta PUM Basta!

 

Morra a vida, morra PIM! e Viva a morte!

 

                                                                                                                        

                                                                                                 Inês Lopes, 12ºC

 

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