terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Há quase um ano não screvo



Há quase um ano não screvo.
Pesada, a meditação
Torna-me alguém que não devo
Interromper na atenção.

Tenho saudades de mim,
De quando, de alma alheada,
Eu era não ser assim,
E os versos vinham de nada.

Hoje penso quanto faço,
Screvo sabendo o que digo...
Para quem desce do espaço
Este crepúsculo antigo?


23/05/1932



Escolhi este poema porque… apesar de não ter a necessidade de escrever como Pessoa, quando escrevo nada escrevo por inspiração, tudo é pensado, meditado e, realmente, pesado. Não me provoca o mesmo desconforto que a Fernando Pessoa, pois ele sente como que um descontentamento constante, pelos objectivos inatingíveis. Está bem marcado na sua poesia, o passado, e sempre que este é confrontado com o presente… sente esse sentimento de não conseguir alcançar o que desejaria. Não é bem o mesmo sentimento, mas a falta de rebeldia no pensamento - é tudo muito ordeiro e não é o suficiente para satisfazer (?), por vezes.

Este poema escolheu-me porque… pela saudade, saudade dos momentos vividos, apenas vividos a cada segundo, como se fosse o último. Pessoa conta a sua frustração por desconhecer a pessoa em que se terá tornado, tornou-se numa pessoa diferente da que idealizava. Daí as saudades de um tempo em que tudo seria menos pensado... também as sinto.

Certamente partilho esta opinião com muitos: a vida seria muito mais empolgante, no passar dos dias, se não fosse tão pensada e planeada. Mas por outro lado… e entraríamos novamente no mesmo dilema, no impasse de Fernando Pessoa.

Vivamos um dia de cada vez.




Juliana

1 comentário:

Fátima Inácio Gomes disse...

Fazes uma análise bastante pessoal, partindo da tua própria recepção do texto, mas não deixas de interpretar o texto de Pessoa. Boa!