terça-feira, 27 de outubro de 2009

Não sei quantas almas tenho









Não sei quantas almas tenho.


Cada momento mudei.


Continuamente me estranho.


Nunca me vi nem achei.


De tanto ser, só tenho alma.


Quem tem alma não tem calma.


Quem vê é só o que vê,


Quem sente não é quem é,





Atento ao que sou e vejo,


Torno-me eles e não eu.


Cada meu sonho ou desejo


É do que nasce e não meu.


Sou minha própria paisagem,


Assisto à minha passagem,


Diverso, móbil e só,


Não sei sentir-me onde estou.





Por isso, alheio, vou lendo


Como páginas, meu ser.


O que segue não prevendo,


O que passou a esquecer.


Noto à margem do que li


O que julguei que senti.


Releio e digo: Fui eu?

Deus sabe, porque o escreveu.




Fernando Pessoa








Este poema escolheu-me pois estou numa fase de conhecimento e transição. A fase de conhecimento advém do facto de eu estar numa tentativa de me conhecer e tentar perceber aquilo que quero para o meu futuro, do que sou ou não capaz, do que quero mudar em mim e aprender a aceitar-me como sou: pessoa que comete erros e que tem de aprender com eles. A transição vem de eu já estar praticamente a entrar na idade adulta e ter que ir cortando o “cordão umbilical”, que por estranho que pareça, foi crescendo, ou´, se quiserem, ficando mais forte, nos últimos anos; para mim, esta fase está a ser um pouco complicada e, por isso, tenho muitas coisas a enfrentar.



Um dos outros aspectos que me chamou a atenção neste poema é o do poeta não saber “quantas almas” tem e mudar a cada momento, algo que também se passa comigo, pois eu dou comigo a pensar na variedade de “coisas” de que eu gosto e tanto sou a favor deste ou outro assunto, como também de repente, já sou contra. Quando Pessoa diz “Nunca me vi, nem achei”, penso que isto toca a muitas adolescentes ou jovens adultos, pois, como eu disse anteriormente, estão a descobrir-se… E, ao longo dessa descoberta, acho que acabamos por nos perder antes de nos termos encontrado, pois começamos a ser aquilo que os outros querem que eu seja e não aquilo que eu quero.



Não sei sentir-me onde estou.\\ Por isso, alheio, vou lendo\Como páginas, meu ser”: eu consigo identificar-me com esta sensação - sentirmo-nos como se não nos integrássemos no nosso meio, como se vivêssemos no nosso mundo, alheios ao que nos rodeia.



Ninguém consegue prever o que vai acontecer no futuro e todos sabemos que temos que esquecer o passado, ou a nossa vida não anda para a frente. Eu tento concentrar-me no presente imediato, mas nem sempre é fácil.





Assim, termino esta pequena análise, dizendo que me custou um pouco fazer este trabalho pois estou numa nova fase da minha vida e procurar, ou estudar, Fernando Pessoa corta o gozo a tudo, pois ele é muito deprimente…















Ana Patrícia, 12ºC

11 comentários:

Anónimo disse...

Este poema não é do manual!?

Penso que sim, portanto acho que não é válido..! Quer dizer, ja nem sei, so se a stora o permitiu...XD

Fátima Inácio Gomes disse...

O senhor anónimo deveria ter-se identificado. Se é meu aluno, e se está atento, nas aulas, às elevadas palavras da sua professora , ter-me-á ouvido eu chamar a atenção à Patrícia para esse facto e ela se ter comprometido a apresentar outro. ;-)

Anónimo disse...

A poesia de Fernando Pessoa é simplesmente fascinante...
Sabemos, contudo, que o Pessoa ortónimo 'sofria' por tanto pensar, ao contrário do Mestre (Caeiro), para quem "Pensar é estar doente dos olhos".

Peço desculpa por ter invadido este espaço... mas não podia de partilhar este simples pensamento que, face à grandiosa simplicidade da poesia de Caeiro, quase que nada vale.

Fátima Inácio Gomes disse...

Os "anónimos" deveriam assinar o seu nome no fim. Mas gostei do comentário do Anónimo do dia 12 :) é sempre bem-vindo, para comentários de qualidade, como este. Revela conhecimento e sensibilidade. Não poderia ser melhor recebido ;-)

Cristina disse...

Os trabalhos acumulam-se, o tempo faz-se pouco e confesso que perdi um minuto a pensar se deveria perder tempo a partilhar, neste blog, parte daquilo que penso acerca da poesia de Pessoa. Óbvio que só perdi um minuto (talvez até tenha sido muito tempo) para perceber que esta minha partilha de opinião não seria uma perda de tempo. Bem pelo contrário!... Julgo eu.
A poesia pessoana, ainda que algo complexa, desde há alguns anos que me cativou, sendo que a "máscara" de Pessoa que mais me fascina é Caeiro, o poeta dos sentidos, das sensações, o Mestre.
Aliás, estou certa que não fui a única a ficar fascinada com a poesia de Caeiro, essa mesma que nos ensina a "ver" o mundo, a apreciar a Natureza e a libertar a dor de pensar, idêntica àquela que tanto atormenta o ortónimo.
Muitos foram os versos de Alberto Caeiro que fixei e sei dizer de cor (alguém me disse, um dia, que dizer "de cor" é dizer "de coração"), não apenas porque transmitem a "filosofia" (apesar dele mesmo ter escrito «Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...») da sua poesia mas porque nos ensinam, realmente, como "procurar", alcançar e viver a felicidade.
O poeta ("ocupação" que mais não é do que a sua «maneira de estar sozinho») pensou (Pensou?! «Pensar é não compreender...») em coisas tão óbvias mas das quais nunca ninguém se lembrou e perante as quais é impossível - parece-me! - ficar indiferente como, por exemplo: «Amar é a eterna inocência/ E a única inocência é não pensar...».

Não "gastei" assim tanto tempo, ainda que tenha sido bem aproveitado... A minha partilha foi breve mas, certamente, voltarei.

Fátima Inácio Gomes disse...

Volta, sim, Cristina. Foi muito bom ler-te.
A grande potencialidade de Pessoa, tal como de qualquer verdadeira obra poética, é poder falar-nos a cada um de nós, como se a nóa se dirigisse intencionalmente. Pessoa, então, multiplica essa potencialidade.

E sim... quando se pensa que o decorar é um acto cerebral, a questão é que só o é superficialemente. Nós deCORamos aquilo que nos faz vibrar, interiormente. "Cor", na sua origem latina, quer dizer coração, sim. Nas cantigas medievais, que lamentavelemente já não fazem parte do programa, é um dos cvocábulos chave.

Anónimo disse...

O sr anónimo se apresenta-se como anónimo é porque não se quer identificar!!! Penso que qualquer pessoa consegue ver isso. Mas a sra professora deve também ter alertado a sua aluna para o facto de postar um poema que não conste no manual de 12º ano de português, o que não se sucedeu neste caso. Portanto é uma falha da aluna ou da sra professora caso não tenha avisado para tal facto!!!

Nuno Areia disse...

pá, tanta treta por o poema ser do manual ou não, quando a questão já está resolvida, dado que a aluna vai apresentar outro poema...

sinceramente, cresça sr. anónimo.

Anónimo disse...

Ó Nuno Areia, lá por agora seres estudante universitário não quer dizer que só por isso és mais adulto que as outras pessoas que frequentam o secundário! Portanto também devias ter isso bem interiorizado em vez de andares para aí a mandar os outros crescer! Para terminar, espero que tomes isto como um conselho de alguém que não está aqui a tentar arranjar distúrbios, mas simplesmente a opinar sobre os poemas postados.

Faria disse...

Os anónimos atacam parte II...

Nuno Areia disse...

peço desculpa pela minha arrogância universitária...