A viúva diz que
quando a tristeza é profunda e irremediável,
as lágrimas acabam por secar com o seu próprio bafo:
Porque nem a água, apesar do sal,
resiste a tão quente dor.
A pureza eleva-se ao céu sob ebulição.
Porque nem os sentidos
se sabem expressar
de tão estarrecidos que ficam.
À tristeza bruta até o medo sucumbe…
Porque nem o rosto da tua mãe
lembras
de tão estranha ela te ser.
…até a memória se prostra.
Porque tudo pára e se entrelaça no teu pescoço,
que já nem teu é.
Tudo se acorrenta mecanicamente
àquilo que pensamos que somos,
e que afinal, em linguagem de tristeza,
De nada nos vale.
- Porque, perante a eternidade da minha treva interior
Nada se ergue, Nada se rivaliza
nem mesmo o murmúrio desta criança
que dizem ser meu filho.
Amor, meus olhos há muito que secaram…
E fora a esta Viúva que nos entregámos
logo à nascença.
E é esta Viúva de vida que nos espera,
um por um,
no final da nossa malha descosida.
Tristezas não pagam dívidas,
nem alfaiates
Mas à tristeza bruta, até o medo sucumbe…
…até a Viúva chora
onde a morte se esconde.
1 comentário:
... malha que o império tece...
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