«Penso em ti, sonho contigo, invoco-te quando mais preciso de ti. É tudo que posso fazer, mas para mim não é o suficiente. Nunca será o suficiente, eu sei isso, mas que mais me resta fazer? Se aqui estivesses, dir-me-ias, mas até isso me roubaram. Tu sabias sempre as palavras certas para apaziguar a dor que sentia. Tu sempre soubeste como fazer para que eu me sentisse bem por dentro. É possível que saibas como eu me sinto sem ti? Quando sonho, gosto de pensar que sim. Antes de nos termos encontrado, atravessava a vida sem sentido, sem razão. Sei que, de alguma maneira, todos os passos que dei desde o momento que comecei a andar eram passos dirigidos ao teu encontro. Estávamos destinados a encontrar-nos.
Mas agora, sozinho na minha casa, comecei a perceber que o destino pode magoar uma pessoa tanto quanto a pode abençoar… »
Excerto do livro:
As Palavras Que Nunca Te Direi,
da autoria de Nicholas Sparks.
Dizem que a dor passa e as coisas vão ficando melhores, que o tempo cura tudo… Não acho nada disso, cada vez tenho mais saudades dela. Tenho uma saudade horrenda que cresce dia após dia, sendo uma das causas pelas quais deixei de escrever.
Aos poucos fui descobrindo sentimentos tão fortes e arrasadores que, por mais que tentasse, não conseguia expressar por meras palavras. Foi um impacto muito grande, principalmente para quem sempre considerou a escrita como uma das suas melhores amigas. Agora estou aqui como tantas outras vezes, a tentar escrever algo para ela… Por ser uma pessoa fechada, lido com a minha dor sozinha, não gosto de partilhar estas coisas, não gosto de preocupar os outros, mas agora, pela primeira vez, espero conseguir traduzir em palavras um pouco do que se passa cá dentro, dentro de mim. Esta carta é dirigida a ti, meu bem, e sei que estejas onde estiveres, conseguirás lê-la…
Apesar do tempo que já passou, custa-me dizer que morreste, porque não sinto isso. Sinto que estás aqui, comigo, como sempre estiveste. Sinto que tudo o que já vivemos juntas poderemos repetir amanhã. Continuo a ouvir o teu riso, e os concelhos que me davas vão passando pela minha mente com a tua voz doce e delicada; as tuas gargalhadas e as ideias malucas que conseguiam sempre resgatar o meu sorriso, mesmo que ele tivesse sido levado por alguém.
Ainda me lembro da nossa despedida como se tivesse sido ontem. A noção da saudade que já tínhamos uma da outra, embora não pudéssemos sequer imaginar que essa saudade se tornaria eterna. Lembro-me dos últimos minutos antes de embarcar no avião em que me abraçaste e encostada no meu ombro disseste “és e sempre serás o melhor de mim, pequena. Amo-te”, foram as últimas palavras que ouvi da tua boca. Lembro-me também das tuas lágrimas, tal como eu sempre foste emotiva e choravas pelas coisas mais belas: choravas quando se celebrava o amor e a paixão, choravas com trocas de carinho e com todos os finais felizes nos filmes e até em alguns livros. Também choravas com o lado “feio” do mundo (como lhe chamavas): com a fome, a pobreza, as pessoas e os animais sem lar, e também as guerras e as vidas que se perdiam inutilmente. Sentias os teus problemas e os dos outros e choravas por eles. Se pudesses ajudarias o mundo inteiro, mesmo que isso implicasse esqueceres de ti própria. Essa tua alma pura, o teu caráter bondoso e a tua inocência, nunca mais encontrei em ninguém. Sinto orgulho em dizer que aprendi contigo esse lado sensível e delicado de sentir as coisas, e sabe-me tão bem ter esse lado como o teu. É como se parte de ti vivesse dentro de mim. Não imaginas o quão bom isso é: saber que parte de ti nunca morrerá, nunca sairá de mim. E só tenho a agradecer-te por isso. Sempre olhaste para mim com tanta esperança, com fé de que eu poderia realizar todos os meus sonhos, uma fé que nem eu própria tinha. E até hoje, nunca mais ninguém me olhou com esse teu olhar. Era como se já soubesses o meu futuro e tivesses certeza que ele seria grandioso e tivesses orgulho nisso, e essa certeza era tão absoluta que me impressionava. Sinto falta disso, sinto a tua falta…
Quando partiste, ninguém me quis contar, todos sabiam que eu seria uma das pessoas que mais sofreria com a tua perda. E assim foi e ainda é. Tentam convencer-me que uma pessoa quando morre vai embora para outro lugar qualquer. Mas eu sei bem que isso não é verdade, estás aqui, estás ao meu lado. Eu sinto que estás! Quando o vento bate na minha cara sinto o teu toque delicado e o teu cheiro perfumado. Quando ando na rua ouço as tuas gargalhadas. Quando olho para as árvores, com aquele verde vivo e intenso, vejo os teus lindos olhos a transbordarem alegria. Quando me deparo com uma situação difícil e tropeço pelo caminho, sinto a tua mão a levantar-me. Embora ninguém me entenda, continuas aqui como sempre estiveste. E será uma perda de tempo alguém tentar convencer-me do contrário.
Procuro-te pela rua sem nunca te encontrar. Desejo ser pequenina outra vez, e voltar ao tempo em que me ias buscar ao colégio e de mãos dadas andávamos pela cidade. Sei que um dia isso irá acontecer outra vez, as nossas mãos irão entrelaçar-se tal como antes, mas quando isso acontecer nunca mais iremos nos largar. E em vez de andarmos pela cidade, andaremos pela eternidade, juntas. Ainda te sinto porque sei que não vais partir sem mim, vais ficar ao meu lado para cumprires a promessa que me fizeste. Lembro perfeitamente de prometeres que irias sempre me proteger, cuidar de mim e preparar-me para a vida, a qual atribuías o nome de «batalha prolongada». Parte da promessa já está cumprida: preparaste-me para a vida da melhor maneira possível; quando ainda respiravas, mostraste-me as melhores coisas da vida, e a tua morte mostrou-me as piores. E acredita que aprendi, aprendi tudo o que me ensinaste, expecto uma coisa: perdoar. Utilizavas a célebre frase: “Perdoar não é esquecer, isso é amnésia. Perdoar é se lembrar sem se ferir e sem sofrer.” Ainda não cheguei à grandeza de aprender essa lição. Não consigo perdoá-lo. Não te poderei ver mais por causa dele. Sei que é egoísmo, mas ele podia ter tirado a vida a qualquer pessoa, incluindo a ele próprio, mas não a ti, nunca a ti! O que é feito da frase “quem ama não magoa”? Se ele te amava tanto como afirmava, porque te tirou a vida? No fundo sempre soube que essa história não poderia acabar bem, todos sabiam isso. Apenas tu conseguias ver algo de bom nele, aliás, acreditavas que todas as pessoas tinham um lado bom. Lutaste durante tanto tempo por ele… Até mesmo quando ele próprio desistiu continuaste a lutar. Mas ele acabou por destruir a tua ingenuidade em relação as pessoas. Sei bem o quanto te doeu e o quanto te custou teres deixado para trás alguém que amavas com todo o teu coração mas, realmente, não havia outra opção, pena é que percebeste isso tarde demais. Lembrar-me disso sem me ferir e sem sofrer? Não, isso não sou capaz de fazer, e sinceramente, duvido muito que o consiga fazer algum dia. Mas vou continuar com a esperança de que irás encontrar uma maneira de me ajudar a aprender essa lição, e talvez aí consiga voltar a olhar para ele e, quem sabe, pronunciar-lhe alguma palavra sem ódio nem rancor.
Uma das coisas que me ensinaste mais recentemente foi que a melhor maneira de mostrar o quanto te amo é correr atrás dos meus sonhos. E aquela tua certeza sobre o meu futuro? Hoje partilho dessa mesma certeza, porque tudo o que sou é graças a ti. Sei que por vezes erro mas acredita, não poderia estar mais feliz com a pessoa que me tornei.
Por fim, não poderia deixar de partilhar contigo um excerto que li há uns dias atrás cujo autor desconheço, mas ao ler aquelas palavras arrepiei-me, pois lembrei-me da nossa última chamada em que disseste a mesma coisa, embora por outras palavras. Ao dizeres aquilo na altura não fez muito sentido para mim, mas agora sei que, de algum modo, pressentias o que poderia acontecer e aos poucos já me preparavas para deixar de te ver e passar apenas a sentir-te. “A melhor maneira de reagir à morte é viver. Viver e buscar concretizar os sonhos, realizar desejos e ser feliz. Nada disso vai arrancar a dor e o vazio que ficam no peito, nada vai matar a saudade, mas a certeza de estarmos fazendo aquilo que gostariam que fizéssemos, com certeza, dá um alento e um alívio, mesmo que pequeno.”
Hoje também posso dizer, sem dúvida nenhuma:
«És o melhor de mim e sempre serás.»
Até já, meu anjo.
MAYARA, 11º A
2 comentários:
Um testemunho muito lúcido, sereno, maduro. E corajoso.
"É como se parte de ti vivesse dentro de mim." e a isso muitos chamam imortalidade.
Obrigada, Mayara.
Imortal encaixa-se perfeitamente no que sinto em relação a essa parte... Obrigada eu professora.
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