segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

“O mistério do Mundo está no visível, não no invisível...” (Oscar Wilde)

Dan Brown nasceu a 22 de Junho de 1964, em Exeter. Sendo autor de vários romances, ficou mais conhecido devido ao best seller “O Código da Vinci”. Além deste, escreveu ainda “Anjos e Demónios”, “Fortaleza Digital” e “Conspiração”. Denominados de policiais, estes livros seguem a mesma linha de pensamento: um professor de Simbologia de Harvard e sempre a persongem principal (Robert Langdon) procura decifrar códigos, enigmas ou símbolos secretos, pertencentes, regra geral, a seitas, orgaizações ou grupos secretos, cuja história se perde nos tempos, ou cuja existência, mesmo sendo actual, é envolta em secretismo.
Suscitando o mistério e a busca da “verdade”, o autor mistura ciência, ficção, religião, ateísmo e realidade de tal ordem “entrelaçados” que, não se sabe, muitas vezes, onde acaba um e começa o outro... No seu género literário é “adorado” por uns e contestado por outros, principalmente no que diz respeito à falta de rigor científico. No entanto, um pouco por todo o mundo, tem suscitado polémicas e debates e tem, inclusivé, o dom de levar algumas centenas de leitores à investigação sobre os assuntos abordados, à visita a locais onde tiveram lugar diversas narrativas e à adaptação do livro “O Código da Vinci” ao cinema.
A análise ou apreciação de um livro em muito depende da subjectividade do indivíduo, ou seja, da forma como o próprio vê o mundo, do seu grau de cultura, das suas crenças, das suas interrogações e até, do seu gosto literário.
Na análise do livro “Anjos e Demónios” é a minha subjectividade que é posta em evidência. Outros terão outras opiniões... No género literário de Dan Brown reflectido em toda a sua obra, não existe meio termo: há os que o detestam e há os que o “adoram”, “percorrendo” este últimos, as páginas, numa leitura “devoradora” da história.
Na minha opinião, todo o romance de “Anjos e Demónios” se desenvolve tendo por base a dualidade, quer ao nível do Cosmos, quer na procura de equilíbrio entre os opostos. Esta dualidade está, nitidamente, identificada através de simples palavras, símbolos, enigmas ou através das próprias personagens (ou aquilo que eles podem representar):
  • Anjos/Demónios;
  • Génesis/Big Bang;
  • Matéria/Anti-matéria;
  • O bem/O mal;
  • O real/O imaginário;
  • A morte/A vida;
  • A construcção/A destruição;
  • O ateu/O religioso.



Neste romance todas as personagens giram num efeito de suspense e conspiração. O tema central e fio condutor de toda a narrativa reside, quanto a mim, na dualidade ciência/religião. Para a análise desta dualidade recorri à Filosofia, uma vez que é nesta ciência que podemos reflectir sobre os opostos evidenciados nesta obra. Já as personagens do livro representam esta dualidade, quer a nível colectivo, quer a nível individual.
Robert Langdon, Leonardo Vetra e Vittoria Vetra simbolizam um colectivo científico, que tentam através da ciência beneficiar a humanidade. Representam um particular porque cada um deles, em alguns ramos da ciência, põem o seu “cérebro” ao serviço dos outros...serão os Anjos?
Camerlengo Ventresca, por oposição, é o vilão do romance. Através de um plano diabólico, e seguro da verdade das suas convicções e ideais, usa os benefícios da ciência como arma de arremesso para a destruição e o caos, neste caso específico, a destruição do próprio Vaticano. É também uma personagem que funciona ao nível colectivo e individual. Colectivo, pois simboliza as seitas, as organizações, os ideais políticos e/ou religiosos que geram conflitos mundiais a vários níveis. Do ponto de vista particular, Camerlengo é marcado por um ideal atraiçoado, carregando dentro de si o “peso do mal” e a vingança, devido (não só, mas também) ao facto da sua mãe , Maria, ter sido vítima de um atentado terrorista, numa igreja. Pensa ele que, só através da destruição, só após a passagem pelo caos, o mundo se salvará. Esta personagem torna-se, assim, um fanático religioso. Ele mata por uma ideia e igualmente morre por ela.
Leonardo Vetra, dividido entre o amor a Deus e o amor à Ciência – padre e físico – tenta mostrar que a ciência e a religião podem coexistir lado a lado. Tentou em laboratório demonstrar que o Big Bang provaria o Génesis da Bíblia. Desenvolve uma fonte de energia tão poderosa, comparável àquela que esteve na origem do Big Bang e consequentemente, na origem da recriação do Génesis. Um leigo ou um ateu jamais poderia perceber como estas duas visões se poderiam conciliar. Mas para um cientista nenhuma destas duas teorias podem ser dadas como definitivas, pois apesar de todo o avanço do conhecimento, a dúvida ainda persiste.
Para finalizar a minha análise do livro, falta referir o papel da Igreja Católica ao longo dos séculos e a perseguição desta a todos os iluminados, ou seja, aos Homens da Ciência. Os Illuminati eram uma fraternidade ou “grupo-clandestino” do qual faziam parte Homens da Ciência. Ao longo da História e durante séculos, a Igreja Católica perseguiu os Homens da Ciência, principalmente através do Tribunal da Inquisição.
Como conclusão, direi apenas que vivemos numa época em que a ciência – apesar das perseguições – nunca foi tão poderosa, conquistadora e sábia mas, ao mesmo tempo, tão contestada e criticada.

Pois bem, meus amigos, espero que esta minha apresentação do livro "Anjos e Demónios" vos suscite algum interesse por mistérios e desafios... e para quem gosta deste tipo de aventuras, acho que não deve fazer o livro esperar mais tempo na prateleira da livraria!!!

3 comentários:

Li disse...
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Li disse...

Creio que a tua análise esteja muito bem feita, embora lamente que tenhas exposto o personagem do Camerlengo, que no fundo é o que dá a piada à trama.
Pois eu li o livro, e gostei. Não penso que Dan Brown tenha uma escrita brilhante, mas tem mente para escrever romances que sabem bem a toda a gente, embora tenha achado o final bastante decepcionante, até mesmo, como diria a nossa prof de português, o anti-climax...

Fátima Inácio Gomes disse...

Parabéns. Apresentas um trabalho laborioso e aprofundado. Revela pesquisa e labuta. Muito bem!
Concordo com a Lili no que diz respeito a Camerlengo... desvendas muitos dos mistérios desta personagem, para quem ainda não leu o livro. Contudo, não faltam motivos, ainda, para entusiasmar qualquer futuro leitor.

A cereja em cima do bolo... a tua escolha para o título! Eu sou uma apaixonada por Wilde, marota! ;-)