quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Manifesto Anti-Nada ou Ode ao Ser



Vidinha reservada, tranquila, calada
E que felicidade, ora não é verdade?
Não me falem em políticos, políticas, politiquices
Eu cá me arranjo no meu cantinho
Os políticos, esses, todos uns corruptos
A fruta ‘tá mais cara
A Dona Olinda deixou de receber a pensão
Não consigo pagar a renda deste mês
Não fazem nada, esses do poleiro
Se o Salazar estivesse aqui… Oh! Não era nada disto!

Basta!

Não entendem, não querem entender
Felizes na sua própria ignorância
São todos uns escravos, mártires, burros
Será que não pensam?
Somos o 1984 do Orwell
Somos o Mundo Novo do Huxley
Acordem!
Saiam da caverna, pois bem? (Platão! Leiam!)
Que a verdade anda aí
E que palavra minha não mente
E que eu sou mais que vós, não se iludam
Ignorantes
Insignificantes
Ignóbeis
QUADRADOS.
Pois bem, desenterrem-se da lama
Que o que vos digo é absoluto, sou artista
Vejo um bom Bergman
Vou a concertos
Aprecio as artes
Não duvidem da minha dor, da minha mágoa do saber
Chorem, comprem por mim
Que eu cá almoço Nietzsche, lancho Marx, janto Camus

Basta!

Ah! Mas estes que tais…
Que superioridade, que intelectuais
Eu cá não admito estes individualismos, pretensiosismos
Cessem as filosofias do amor
Os cinemas poéticos
As chávenas de café
As noites amargas com mulheres desesperadas
O cintilar dos copos cheios de elitismos
Cessem com os eufemismos!
Monólogos baratos, falas leves, discursos profundos
Que de profundos só têm as entranhas
Que o resto, meus caros, o resto é forma
É estética.
Enganam-nos com distopias, com falsos sofrimentos
E o entretenimento? Onde anda?
E a alegria? Onde ficou?
E o sangue humano, do impulso enraivecido
Tenho saudades de entreter
Entretenham-se!
Que a minha ignorância equivale ao seu intelecto
E que o ser contra o politicamente correto é o que está a dar
E que eu estou farto da compaixão
E que estou farto do feminismo
E que farto do altruísmo
E farto
E que eu estou farto!

Basta!

Basta desta mania
Desta humilhação coletiva
Querem saber qual é o veredicto final?
Sou anti-isto, anti-caixas
Não vos quero comparar, nem ofender, nem prender
A minha condenação não existe
Sou anti-ismos, anti-moldes, anti-grades
Em prol das liberdades
É existência.
É essência.
Apesar de tudo,
Sou anti-nada.
Para lá do nada,
Pré-nada
Pós-nada
Aspiro a ser
Ode ao ser!

Basta!

Que seja.


                                          Inês Guimarães, 12ºD


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