sábado, 7 de janeiro de 2012

Poemário

Primeiro poemário de 2012!!!!!!!



A palavra era Inverno. E para começar o ano com fartura, foram lidos cinco poemas, foram escolhidos dois!
Fernando Pessoa contribuiu com a sua própria riqueza, em qualidade e número: foram escolhidos um poema de Pessoa, ortónimo, e outro da Alberto Caeiro.

A Carolina trouxe, de Alberto Caeiro:


Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no facto de aceitar —
No facto sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa



A Diana trouxe este poema, que também conquistou o auditório :)



Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
De adormecer.
Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
Nem desejo de os ter.

E um choro por meu ser me inunda
A imaginação.
Saudade vaga, anónima, profunda,
Náusea da indecisão.

Frio do Inverno duro, não te tira
Agasalho ou amor.
Dentro em meus ossos teu tremor delira.
Cessa, seja eu quem for!
19-1-1931
Fernando Pessoa


A próxima palavra: MILAGRE.

3 comentários:

Inês disse...

Não foi a Diana quem trouxe este poema?

Fátima Inácio Gomes disse...

Foi, foi!!! vou já corrigir :)
obrigada ;-)

Cláudia Amorim disse...

Ainhe!! Como me entorpece esse poema do Pessoa! E que bom haver quem nele tropece e o ampare do esquecimento!