quarta-feira, 1 de abril de 2015

O povo é idiota.







O povo é idiota, é a conclusão a que se chega. Existem várias idiotices neste povo, mas há umas que me enfurecem mais do que outras. O povo é idiota e como tal merece que se aproveitem dele. 

Joga a seleção e tem estádio cheio, mas para as manifestações deixa estar, que amanhã é dia de pica boi e tem tudo de se deitar cedo. Existe toda uma passividade, aliás, cooperação, perante a ideia dos milhões deslocados todos os dias nessa máquina tão bem oleada. Falo de cooperação, porque todos os dias há idiotas a alimentar esse templo de má fama. São o mesmo tipo de idiota, perdão, português, que perde mais tempo a ler todo e qualquer jornal desportivo, mas para levantar um livro da mesa “Ui que as letras são pequeninas.” ou “Ufa são muitas páginas.”. O povo é idiota e quer continuar idiota, mas quando alguém lhes passa a perna há sempre culpas a atribuir, e são sempre longe desse reflexo no espelho.

Ainda no outro dia via um grupo a discutir literatura, após prestar devida atenção, percebo ainda que falavam dos Maias, esse marco na literatura cá da casa. Por esta altura esperava ouvir algo interessante, por isso fiquei à escuta, “Aquilo era muita descrição, nem li mais. Já viste aquela série?” E foi assim, não com fúria, mas com desilusão que deixei de prestar atenção à conversa e ao grupo. No entanto, acabei por refletir nesse pequeno trecho de conversa, e duas coisas consegui concluir. Uma é que a utilização de linguagem enfadonha é o suficiente para deixar um livro, não a meio, mas no início do mesmo. E a segunda é que parece haver mais entusiasmo em conteúdos “culturais” (é favor fazer o gesto de aspas com as mãos) de mais rápida absorção e quase desprovidos de valor. É ainda de referir, que este grupo, sobre o qual me pus à escuta, era formado por indivíduos pertencentes ao ensino superior.

Existe depois um número crescente de idiotas…peço desculpa, hoje dá-me para trocar o nome às coisas. Existe depois um número crescente de portugueses nesse ensino, que de superior tem cada vez menos. Devíamos-lhe até era mudar o nome para “ensino corriqueiro” ou mesmo “ensino trivial”, até porque o nível de cultura e conhecimento parece, cada vez mais, saído de um jogo de “Trivial Pursuit”. Como dizia existe um número cada vez maior que sai às resmas do ensino superior, que recebem pouco mais do que o diploma na mão e conhecimento sobre tudo o que se passa na vida das elites (não falo, obviamente, das elites políticas ou culturais, mas daquelas que “fazem coisas”). Raramente encontramos, é quase como andar à caça de pérolas, gente que por algum milagre é capaz de discursar duas palavras seguidas sem ter que olhar de forma quase impulsiva para o telemóvel. Mas não quero falar desses. Quero apontar o dedo aos outros, aos idiotas. 

A todos vocês que se vão tornar na próxima maré de contribuintes dos estádios, da falta de cultura e que vão concluir o ensino inferior, espero que sejam enganados. Eu olharei com desprezo para vós, enquanto carrego um estandarte em vosso nome.

O povo é idiota e eu também sou por o defender em vez de me aproveitar dele.


por Tiago Faria (ex-aluno - conclusão 12º, 2009)