O
povo é idiota, é a conclusão a que se chega. Existem várias idiotices neste
povo, mas há umas que me enfurecem mais do que outras. O povo é idiota e como
tal merece que se aproveitem dele.
Joga a seleção e tem estádio cheio, mas para as
manifestações deixa estar, que amanhã é dia de pica boi e tem tudo de se deitar
cedo. Existe toda uma passividade, aliás, cooperação, perante a ideia dos
milhões deslocados todos os dias nessa máquina tão bem oleada. Falo de
cooperação, porque todos os dias há idiotas a alimentar esse templo de má fama.
São o mesmo tipo de idiota, perdão, português, que perde mais tempo a ler todo
e qualquer jornal desportivo, mas para levantar um livro da mesa “Ui que as
letras são pequeninas.” ou “Ufa são muitas páginas.”. O povo é idiota e quer
continuar idiota, mas quando alguém lhes passa a perna há sempre culpas a
atribuir, e são sempre longe desse reflexo no espelho.
Ainda no outro dia via um grupo a discutir literatura,
após prestar devida atenção, percebo ainda que falavam dos Maias, esse marco na
literatura cá da casa. Por esta altura esperava ouvir algo interessante, por
isso fiquei à escuta, “Aquilo era muita descrição, nem li mais. Já viste aquela
série?” E foi assim, não com fúria, mas com desilusão que deixei de prestar
atenção à conversa e ao grupo. No entanto, acabei por refletir nesse pequeno
trecho de conversa, e duas coisas consegui concluir. Uma é que a utilização de
linguagem enfadonha é o suficiente para deixar um livro, não a meio, mas no
início do mesmo. E a segunda é que parece haver mais entusiasmo em conteúdos
“culturais” (é favor fazer o gesto de aspas com as mãos) de mais rápida
absorção e quase desprovidos de valor. É ainda de referir, que este grupo,
sobre o qual me pus à escuta, era formado por indivíduos pertencentes ao ensino
superior.
Existe depois um número crescente de idiotas…peço
desculpa, hoje dá-me para trocar o nome às coisas. Existe depois um número
crescente de portugueses nesse ensino, que de superior tem cada vez menos. Devíamos-lhe
até era mudar o nome para “ensino corriqueiro” ou mesmo “ensino trivial”, até
porque o nível de cultura e conhecimento parece, cada vez mais, saído de um
jogo de “Trivial Pursuit”. Como dizia existe um número cada vez maior que sai
às resmas do ensino superior, que recebem pouco mais do que o diploma na mão e
conhecimento sobre tudo o que se passa na vida das elites (não falo, obviamente,
das elites políticas ou culturais, mas daquelas que “fazem coisas”). Raramente
encontramos, é quase como andar à caça de pérolas, gente que por algum milagre
é capaz de discursar duas palavras seguidas sem ter que olhar de forma quase
impulsiva para o telemóvel. Mas não quero falar desses. Quero apontar o dedo
aos outros, aos idiotas.
A todos vocês que se vão tornar na próxima maré de
contribuintes dos estádios, da falta de cultura e que vão concluir o ensino
inferior, espero que sejam enganados. Eu olharei com desprezo para vós,
enquanto carrego um estandarte em vosso nome.
O povo é idiota e eu também sou por o defender em vez de
me aproveitar dele.
por Tiago Faria (ex-aluno - conclusão 12º, 2009)